1. Há vários anos que se sabe que o universo Montepio tem graves problemas decorrentes da gestão de Tomás Correia, que mesmo assim conseguiu vencer as recentes eleições internas. Tomás Correia controla a associação mutualista que é dona do Banco Montepio. Além de depositantes do banco, a mutualista tem mais de 600 mil associados que lhe confiaram poupanças. Por estes dias soube-se que o Banco de Portugal multou Correia num milhão e meio de euros pela sua gestão no banco de onde saiu entretanto. Os outros administradores da época também foram penalizados. Perante toda esta lamentável situação, os adversários de Tomás Correia nas recentes eleições exigem a sua demissão e nova consulta, mas desta vez mais transparente. Claro que Correia vai recorrer da multa e remeter tudo para as calendas. E claro que quem tinha a tutela da mutualista e do Montepio até agora (o ministro Vieira da Silva) nada fez e deixou agravar a situação ao longo dos anos. Dias antes de se saber da multa, o ineficaz Vieira da Silva e António Costa reuniram-se com Tomás Correia, mas não há nota de lhe terem exigido a demissão. Para agravar a confusão no Montepio, a sua supervisão e regulação foi recentemente passada para uma nova entidade. Isso permite a Vieira da Silva fingir que já nada tem a ver com a matéria. Só que a dita entidade acha que não é a ela que compete avaliar a idoneidade de Tomás Correia a não ser quando acabar o período de transição de responsabilidade, que se estende por 12 anos (!!!). Como se vê, é tudo lamentável, enquanto os potenciais lesados (depositantes, mutualistas e contribuintes) vão assistindo a toda esta escandaleira. É essencial remover Tomás Correia e a sua equipa. A mutualista tem de ser gerida com transparência. O banco tem de ser preservado, no momento em que está a mudar a imagem e a forma de atividade. O governo e os reguladores têm de atuar. Isto de esconder os problemas e andar só no bem-bom dos ordenados pornográficos e dos carros de luxo não pode ser. Era, entretanto, importante que o próprio presidente Marcelo desse nota pública do que pensa sobre o assunto. Não podemos levar em cima com outro BES/GES, BPN, BPP ou Banif.
2. A primeira Academia Calvão da Silva realizou-se no fim de semana passado, em Coimbra, tratando assuntos europeus e de justiça. Nascida da iniciativa da JSD, a academia perpetua o nome desta grande figura académica que foi, simultaneamente, um relevante político social-democrata que por duas vezes esteve no governo em circunstâncias difíceis, só tendo aceitado por razões patrióticas. Mas João Calvão da Silva foi sobretudo um ser humano notável, sempre presente nas horas difíceis dos amigos, transmitindo essas qualidades aos seus descendentes. Não foi por isso de estranhar que, além dos alunos, se tenham associado à academia as figuras mais relevantes do PSD da atualidade e do passado, bem como juristas ilustres e dirigentes do Partido Socialista que viveram ao lado de Calvão da Silva o bloco central que foi preciso constituir para salvar Portugal nos anos 80. Que, inspirada pela personalidade de Calvão, todos os anos se repita esta academia, formando e trazendo gente nova e boa para a política, que dela bem precisa.
3. O atraso na atribuição de pensões chega a levar um ano. Não é propriamente uma novidade e já se tinha denunciado o facto neste espaço. Também não é surpresa o nome do ministro que tem a área: Vieira da Silva, pois claro. Não é só Centeno que faz cativações.
4. A recente moção de censura do CDS foi uma inesperada benesse para António Costa e a sua desastrosa remodelação governamental. A discussão no parlamento pura e simplesmente apagou um tema que era fundamental tratar, nomeadamente por causa de questões éticas que hoje vão deixando de ser preocupação, ao contrário do que sucedia há não muito tempo. Por exemplo, no consulado de Pedro Passos Coelho houve a hipótese de o governo comportar simultaneamente um pai e um filho como ministro e como secretário de Estado, respetivamente. Apesar das qualidades de cada um, o filho soube recusar e o pai desempenhou a função com a independência e a liberdade consequentes. Outros tempos, outros critérios. Hoje, no conselho de ministros convivem pai e filha, marido e mulher, existindo ainda uma teia escandalosa de relações familiares que tomou conta do aparelho do Estado.
5. É significativa a forma suave como se noticiou a saída de quase três dezenas de militantes do Bloco de Esquerda, entre os quais dois irmãos de Francisco Louçã. Trata-se de uma guerra recorrente entre puristas radicais e dirigentes atuais do Bloco que caminham alegremente para se amancebarem de pucarinho com o PS. Exatamente por isso, é improvável que os dissidentes fiquem quietos num ano com três eleições. O que também surpreende é que, aparentemente, os manos Louçã se afastem de um Francisco bem instalado, entre cargos políticos, académicos e mediáticos.
6. Morreu o camarada Arnaldo Matos, o grande educador da classe operária, como era referido frequentemente. Sobretudo depois do 25 de Abril foi figura relevante e iconográfica da política portuguesa com o seu MRPP, combatendo aquilo a que chamava social-fascismo com grande cumplicidade com o PS. Pelas fileiras do MRPP passaram relevantes figuras da vida política nacional que depois se aproximaram de PS, PSD e Bloco ou os integraram. Arnaldo Matos não foi irrelevante na vida política portuguesa.
Escreve à quarta-feira