Parece termos chegado a um momento da vida nacional em que se sobrepõem casos e problemas que, não sendo novos, tendem, precisamente por isso, a evidenciar-se ao mesmo tempo num movimento de simpatia recíproca.
À importância de, por exemplo, salvaguardar o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e, se possível, reforçá-lo e melhorar as suas prestações, sobrepõem-se logo as notícias sobre as lutas dos enfermeiros e, nestas, ainda alguns aspetos menos claros do apoio dado a algumas das suas greves.
Concomitantemente – por acaso, ou talvez não –, adensa-se uma crise na ADSE, movida pelos setores privados de saúde, que são precisamente, ao que se diz, aqueles de que alguns desconfiam estarem por trás dos interesses que agitam o SNS.
À necessidade de ir reformando a justiça, o ensino e a administração pública, dando-lhes meios legais, organizativos, técnicos e humanos capazes de lhes permitir enfrentar os interesses que se vão mexendo por detrás, somam-se as reivindicações dos trabalhadores desses setores, que há muito esperam por ver valorizadas as suas carreiras e estatuto socioprofissional.
De facto, o que se observa é uma sobreposição mal explicada de anseios e reivindicações – umas de caráter geral, outras mais particulares – que não devendo ser, à partida, antagónicas, aparecem ante os olhos dos cidadãos como se de problemas absolutamente distintos e mesmo contraditórios se tratasse: como se uns fossem as causas exclusivas dos outros.
E tais problemas estão, de facto, neste momento, embora por razões e decisões anteriores, no cerne das principais opções políticas que os cidadãos devem tomar futuramente.
Porém, as leituras que, quase sempre, os fautores da opinião pública deles vão fazendo estão longe de irem esclarecendo as conexões existentes entre uns e outros, não ajudando os cidadãos a formar uma opinião esclarecida.
O ruído, as frases sonantes, os interesses sobrepõem-se, demasiadas vezes, à análise racional das questões que se colocam ao país.
Os próprios intervenientes políticos e sindicais que procuram explicá-las raramente conseguem exprimir-se suficientemente bem sobre elas e, quando pretendem e ensaiam ser claros, não raro são silenciados ou menosprezados pelos média.
A discussão racional e aprofundada de tais problemas contraria irritantemente, de facto, a moda televisiva de dar sobretudo prioridade às ideias simples – simplistas – e às frases curtas e sonantes.
Na TV, tudo parece reconduzir-se hoje ao estilo dos comentadores de futebol e às encriptadas e esotéricas conversas que entre si mantêm, usando para tanto uma linguagem exclusiva e que, afinal, nada quer dizer por, precisamente, nada haver para dizer.
A verdade é que, sempre que um entrevistado, comentador, responsável político, dirigente administrativo, empresarial ou sindical procura desenvolver um pouco mais o seu ponto de vista e dar uma explicação – boa ou má – para algum dos problemas do seu setor é de imediato interrompido.
Para o atalhar, quando assustados com o caminho que a conversa foi levando, os pivôs de serviço lançam-lhe, com fúria, uma frase feita, um lugar-comum fabricado numa agência de comunicação.
Na TV salva-se, ainda assim, a RTP2, e sobretudo salva-se a rádio e, nela, nitidamente a Antena 1.
De nada serve, pois, verberar as redes sociais e o contributo militante que estas dão para o populismo acrítico e inflamado – passe a tautologia –, pois muitos meios tradicionais de comunicação social já pouco delas se diferenciam.
Haverá necessidade?!
Escreve à terça-feira