Ana Rita Cavaco: “Fomos atacados pelo que fizemos e não pelo que somos”

Ana Rita Cavaco: “Fomos atacados pelo que fizemos e não pelo que somos”


A Bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, esteve esta segunda-feira em Braga, onde falou numa conferência de imprensa sobre vários assuntos que têm sido alvo de polémica nos últimos dias, nomeadamente a situação dos enfermeiros em Portugal, bem como as negociações com o Governo. 


A bastonária afirmou “estar certa que os ataques de que" os enfermeiros "têm sido alvo têm muito mais a ver com aquilo que fizemos, do que com aquilo que somos”.

Ana Rita Cavaco referiu “temos ouvido muitas críticas de vários setores, o que é normal, porque dava jeito a muita gente que tudo continuasse como estava, mas não, não viemos para que tudo continuasse na mesma, não foi para isso que confiaram em nós”.

Falando ontem à tarde, em Braga, numa conferência abordando a articulação da formação com o desenvolvimento profissional dos enfermeiros, Ana Rita Cavaco disse que “muitos dir-me-ão que eu deveria ter ficado em silêncio, por exemplo, sobre a greve cirúrgica, só que hoje os números dizem aquilo que a minha consciência já me tinha confessado, fiz bem, fiz muito bem em estar al lado dos meus enfermeiros, dos enfermeiros do meu país”.

Na sua intervenção, durante as comemorações do 107º aniversário da Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho, a bastonária da Ordem dos Enfermeiros referiu “querer deixar claro que continuo sem medo de continuar a trilhar este caminho, doa a quem doer, custe a quem custar”.

Destacando ainda que “o tempo é de mudança, que prometemos e temos cumprido”, Ana Rita Cavaco afirmou que “agora os enfermeiros já têm uma área de formação onde a grande maioria das ações formativas serão gratuitas”.

“Dir-me-ão que ainda há um longo caminho a percorrer, é verdade, mas fizemos em três anos aquilo que ninguém ousou tentar em mais de 20 anos e se amanhã eu deixar de estar bastonária, sinto que nesta, como em quase todas as matérias, cumprimos aquilo que nós prometemos”, afirmou Ana Rita Cavaco, falando para uma plateia de futuros enfermeiros.

Sempre no seu jeito habitual, de jeans e sapatilhas brancas, a bastonária disse que “naquilo que depende de nós, agitamos, denunciamos, agimos e deixamos obras”, pormenorizando que “criamos seis novas áreas de especialidade, acabando com um cenário desatualizado há mais de 20 anos e criamos as competências acrescidas”, além de “termos desencadeado todos os mecanismos legais para proteger as competências dos enfermeiros”.

Ana Rita Cavaco referiu que “fizemos mais, deixamos os gabinetes e fomos para o terreno fazendo milhares de quilómetros todos os meses, visitamos dezenas de serviços, ouvimos centenas de enfermeiros e colocamos a necessidade de contratação de enfermeiros na agenda mediática e política”.

Por outro lado, destacou a bastonária, “notificamos todas as semanas vários conselhos de administração pelo incumprimento das dotações seguras, propusemos ao Governo um internato estruturado, alteramos a forma de atribuição do título de especialista valorizando a experiência acumulada”.

Falando em relação ao futuro, Ana Rita Cavaco afirmou ser necessário “obter do Governo o verdadeiro reconhecimento do trabalho realizado pelos enfermeiros, porque é preciso conseguir uma carreira, repetir até à exaustão que não aceitamos que o défice zero seja conseguido à custa do Serviço Nacional de Saúde e do sacrifício dos enfermeiros, e isto, meus amigos, não é trabalho sindical, é regulação”.

“Aguardamos com expectativa”

À saída da sessão, em Braga, Ana Rita Cavaco disse ao i “aguardar com expectativa”, a posição negocial do Governo sobre da abertura anunciada sábado pelo primeiro-ministro, António Costa, em Madrid.

“Desde sábado ainda não houve qualquer desenvolvimento, faltando dar o próximo passo, agora que o Governo mostrou abertura no sentido de voltar a negociar com os sindicatos”, acrescentou a bastonária.

“As reivindicações da nossa classe, da esquerda à direita, são as mesmas desde há dois anos”, todas aquelas que têm a ver com aquela carreira, “o que, claro está, comporta uma grelha salarial”, disse ainda Ana Rita Cavaco.