Não percebo os outdoors do CDS e do PS para as eleições europeias. Como dizia a Margarida Balseiro Lopes do PSD no Twitter, no primeiro ficámos a saber que “A Europa é aqui”, no segundo que “Somos Europa”. Ufa, nunca pensei que fosse verdade.
Obrigadinho Pedro Marques e Nuno Melo, não fosse o GPS avariar e corria o risco de pensar que vivia no norte de África ou na América Latina – o que na verdade é o que sinto quando vejo as nossas cidades poluídas com tanto ruído visual causado pelos outdoors partidários. Aliás, sabendo que este ano temos dois importantes atos eleitorais nacionais e que a Madeira ainda tem um terceiro, chego até a ter medo que a ilha afunde com tanto ferro enterrado nas rotundas.
Agora falando a sério. Todos os partidos usam os outdoors como forma de campanha política, eu próprio, como publicitário, assumo a minha quota parte de responsabilidade por isso. No entanto, quando se gasta dinheiro a produzir um outdoor, devíamos querer que o mesmo transmitisse ao eleitor uma ideia qualquer. Por exemplo, quando eu vejo um outdoor do André Ventura, fico a conhecer as ideias dele, quando vejo um outdoor do Santana Lopes sei que ele quer posicionar o partido no espetro da direita, quando vejo os novos outdoors do Rui Rio sei que ele quer que lhe enviemos ideias por WathsApp e quando vejo um outdoor do Bloco de Esquerda fico por norma a conhecer mais uma das ideias que defendem para o país. Posso concordar ou discordar, mas fico a pensar naquilo que o partido A ou B me quer transmitir.
No entanto, quando olho para estas campanhas europeias do CDS e do PS, a única coisa que me ocorre é: mas que raio é que eles queriam dizer com isto? Por exemplo, no caso do CDS ao menos ainda fico a saber que o cabeça de lista é o Nuno Melo – algo que acho que toda gente já sabia, em especial o público feminino com mais de 40 anos. Mas no caso do PS nem percebo o porquê do cartaz ser só uma hashtag gigante. Já agora, porquê uma hashtag? É só para parecer modernaço, cool e trendy? É que se a ideia era essa, talvez o Pedro Marques não tenha sido à partida a melhor escolha.
Vamos ser sinceros, com tanto dinheiro que os partidos derretem em carne assada, palcos gigantes, assessores e comícios com quase tanto “led” como Times Square, não sobra um bocadinho de budget para contratarem uma agência de publicidade que faça algo um bocadinho melhor do que aquilo?
Inspirem-se no passado. Vão rever o “Patriotas Sim, Pataratas Não” do Miguel Esteves Cardoso nas Europeias de 87, ou o “Um homem às direitas” do Basílio Horta nas Presidências de 91, ou o “Vota Fumando Brocas” do Bloco de Esquerda nas presidências de 2001, ou o incrível “Razão e Coração” feito pelo Edson Athayde em 1995 para o António Guterres, ou o “Deixem-me nascer antes que venha a JS” da JP, então liderada pelo João Almeida, na campanha do primeiro referendo à IVG, ou o “MP3, não há duas sem três” para o Mário Soares nas presidenciais de 2006, ou ainda mais icónico “Soares é fixe!” de 1986.
Se têm a mania que são modernos e viajados estudem então a importância que o “Yes We Can” teve na eleição de Obama em 2008, ou o porquê dele ter escolhido apenas a palavra “Foward” na reeleição de 2012. Tentem perceber o porquê de Trump ter resgatado o mesmo “Make America great again” que o Reagan já tinha utilizado em 1980. Ou vejam aquela que para mim é a melhor campanha política de sempre, feita pela Saatchi&Saatchi para o Partido Conservador inglês em 1978, onde vemos apenas uma incrível fila para um centro de emprego e o slogan: “Labour isn’t Working”. Simplesmente brilhante.
Façam tudo, contratem quem quiserem, mas por favor não poluam mais as cidades com outdoors que não dizem nada sobre coisa nenhuma.
Publicitário