1. O parlamento rejeita nesta quarta-feira a moção de censura que Assunção Cristas decidiu apresentar ao governo. Logo que o texto da moção foi conhecido, politólogos e comentadores passaram horas a debater o assunto na perspetiva de que a moção mais não é do que uma forma de o CDS marcar uma posição de relevo à direita do PS, no momento em que o PSD está a recuperar e em que surgem novas opções políticas à direita do CDS com potencial para esvaziar o partido do Caldas. Pode ser que sim. Mas a realidade concreta é bem diferente: a moção do CDS foi uma benesse inesperada para António Costa.
A braços com um movimento grevista sem precedentes em décadas, com a geringonça em lutas intestinas, com o Bloco de Esquerda a desfazer-se, com o PCP enfiado em problemas de favorecimento pessoal, com a própria UGT a bater no governo, com uma ministra totalmente incompetente na Saúde, com uma remodelação a decorrer, com um PS em disputas internas por causa das europeias, com uma economia em grandes dificuldades, com um primeiro-ministro a desacreditar-se diariamente como demonstram as sondagens, com um Presidente Marcelo a apertar com Costa de forma mais consistente, Assunção Cristas e o CDS arranjaram maneira de fazer com que todos os desavindos se unam para rejeitar a moção. Se fosse de encomenda tipo Uber Eats, esta moção não vinha em melhor altura.
2. Preanunciada há semanas, a remodelação foi patética. Dali não se espera nada, nomeadamente trabalho concreto, até porque depressa o governo ficará legalmente limitado a atos de gestão. Pedro Nuno Santos fará o mesmo que o seu antecessor: propaganda. Aliás, o novo ministro pode ser bom, mas é na área da política pura. Mariana Vieira da Silva subiu a ministra e passou a ser mais importante do que o seu influente pai. Era bom que usasse a hierarquia para evitar que o progenitor ande sistematicamente a iludir o país. Quanto aos outros novos governantes, só há uma definição possível: são funcionários do PS. Um PS que foi, na prática, assaltado pelos membros do governo que ficaram com o bife do lombo da política que são os lugares europeus, deixando para trás as lutas diárias. A seguir acontecerá o mesmo com as listas das legislativas.
3. Há situações que envergonham todos os portugueses, independentemente de serem de esquerda, de direita ou da opinião que tenham do governo que está de plantão à pátria. Até porque algumas delas transitam alegremente de um executivo para o outro. Um caso denunciado recentemente tem a ver com a Segurança Social, que arrasta há anos respostas a requerimentos de emigrantes que precisam meramente de um documento que comprove a existência em Portugal de descontos antes de partirem para o Luxemburgo. A história é triste e em boa hora a TVI a denunciou. O governo anunciou que vai organizar uma força de intervenção para resolver o assunto. É típico do poder atual. Vieira da Silva não funciona em nada, salvo quando é pressionado publicamente. Endeusado por alguns comentadores, este ministro é um equívoco, mas nunca é remodelado por ser um verdadeiro cacique na área social, na do emprego e no PS. O seu ministério anuncia coisas mirabolantes como pré-reformas aos 57 anos para os funcionários públicos, omitindo dizer que, se forem por esse caminho, ficam com qualquer coisa como 20% ou menos do que a reforma legal. Atira-se assim poeira para os olhos daqueles que não estão diretamente abrangidos e que são iludidos pela propaganda quanto a uma diminuição do tempo de trabalho, quando o que está a acontecer é o contrário.
4. Somos todos futuros potenciais infoexcluídos. Mesmo ao lado dos mais sábios na matéria, há sempre alguém que fala de grandes inovações mirabolantes ou de uma forma rápida de contactar a administração pública. Ele é nas Finanças, na Segurança Social, na justiça, nos registos, etc… Com isso, a vida do cidadão comum tornou-se mais fácil desde que a criatura tenha mail, tenha boa visão, tenha computador com uma centena de upgrades e tenha, claro, um telemóvel com muitos “g”. Se tem isso e sólidos conhecimentos de informáticos e for um nativo digital, pode ser alguém. Caso contrário, não consegue grande coisa, seja no público ou no privado, e se prefere falar com alguém tem de ligar para um daqueles números 800 e gastar um balúrdio (depois de carregar teclas de 1 até 9), vendo frequentemente a chamada desligada. Às vezes são horríveis certos progressos. Valem a pena enquanto conseguimos absorvê- -los. Mas chega uma altura em que a coisa se torna complicada. E mais dramática fica quando se pensa que os adultos de hoje se transformarão em seniores de amanhã e, a seguir, entram na quarta idade, com o que isso significa. Não há informática que substitua a ajuda humana.
Escreve à quarta-feira