O meio é de novo o “New York Times”. E os testemunhos vêm no plural. Sete. Sete mulheres, entre as quais a ex-mulher Mandy Moore, as escritoras de canções Phoebe Bridgers e Courtney Jaye, e, sobretudo, uma rapariga de nome Ava, que terá sido assediada por Ryan Adams aos 14 anos, fazem graves acusações.
O músico terá manipulado estas mulheres, oferecendo digressões e a oportunidade de editar em troca de favores sexuais, enquanto, nos bastidores, as perseguia e violentava emocionalmente com ameaças. Mandy Moore afirma que a música era uma forma de o ex-marido usar o seu ímpeto controlador e acusa-o de “bloquear a capacidade de fazer novos contactos na indústria [da música], durante um tempo essencial e potencialmente lucrativo” quando se encontrava na casa dos vinte – entre 1999 e 2009. Durante esse período, a atriz, agora com 34 anos, gravou seis álbuns de música pop e folk. “Não és um músico real, não sabes tocar um instrumento”, dizia-lhe Ryan Adams, que prometia gravar as canções escritas a dois mas não cumpria.
Um depoimento similar ao da ex-noiva de Ryan Adams, Megan Butterworth, que o acusa de ser controlador e de a afastar de família e amigos. O músico nunca a agrediu, esclarece, mas costumava destruir objetos quando o ambiente entre os dois crispava. E após o final da relação, no ano passado, tê-la-á perseguido com mensagens que variavam entre o simples “volta” e a ofensa verbal. Adams chegou a publicar fotos da ex-namorada – uma delas legendada com um “apanhem-na enquanto ferve. A (Megan) Butterworth está solteira”, escreveu sobre a ex-modelo, com quem começou a namorar quando esta tinha 27 anos.
Phoebe Bridgers, uma voz em ascensão no circuito alternativo, foi convidada para ir ao estúdio Pax-Am, quando tinha 20 anos. “Havia uma mitologia à volta dele. Parecia que ele tinha o poder de impulsionar as pessoas”, descreve. Adams gostou do que (ou)viu, ofereceu-lhe uma guitarra e quis gravar uma canção sua. Do empurrão na carreira ao assédio, tudo se precipitou, conta. Através de mensagens por telemóvel, Adams queria saber sempre onde estava e fazer sexo por telefone. Quando Bridgers não respondia, ameaçava suicidar-se.
Ryan Adams recuou na vontade de editar música de Phoebe Bridgers mas, em 2017, os dois estiveram juntos, em digressão. E, de acordo com o testemunho, Ryan Adams terá pedido “para que lhe levasse algo ao quarto de hotel”. Quando chegou, “estava completamente nu”, conta.
Já depois de a investigação ter sido publicada, Phoebe Bridgers usou as redes sociais para confirmar o depoimento e criticar a “rede” de Ryan Adams por ser conivente. “Amigos, banda, pessoas que trabalhavam com ele”, aponta. “Através do que disseram, ou deixaram de dizer, mostraram-lhe que era correto. Validaram-no”, acusa.
Há um padrão nos gostos de Ryan Adams: mulheres mais novas. Ava começou a contactar com Ryan Adams em 2013, quando tinha 14 anos, e já começava uma carreira no mundo da música. Os dois trocaram muitas centenas de mensagens pela Internet — o “New York Times” teve acesso a 3.217.
As conversas tornaram-se sexualmente explícitas, incluindo videochamadas, nas quais Ryan Adams se despia. Os dois mantiveram a relação online durante pelo menos nove meses, quando Ava tinha 15 e 16 anos, mas nunca se encontraram pessoalmente. Hoje, com 20 anos, Ava revela que Ryan Adams lhe perguntava de forma insistente pela idade e admite ter mentido algumas vezes. “Vou meter-me em problemas se alguém souber que falamos assim”, terá dito o músico à menor. Perante este caso em particular, o FBI abriu um inquérito. O departamento de crimes contra crianças está agora a investigar se Ryan Adams incorreu no crime de abuso de menores.
Antes da publicação, Ryan Adams ameaçou “calar” o “New York Times”. Após a vinda a público da história, reagiu através do advogado. “O Sr. Adams nega inequivocamente que se tenha envolvido em contactos sexuais inapropriados online com alguém que soubesse que era menor”, afirmou Andrew B. Brettler, acrescentando ainda que o músico garante que não tinha o poder para lançar ou destruir carreiras, negando assim todas as acusações.
Nas redes sociais, Ryan Adams acusa o jornal. “O retrato feito por este artigo não é exato. Alguns dos detalhes estão mal representados, alguns são exagerados, outros completamente falsos. Nunca teria interações inapropriadas com alguém que eu soubesse ser menor de idade. Ponto final”, defende.
Para já, o primeiro álbum de três previstos para este ano, “Big Colors”, foi adiado por tempo indeterminado. E a carreira de Ryan Adams está em xeque. Será o rastilho de outras fogueiras?