1. António Costa tem um problema gravíssimo e estrutural: a sua monumental falta de caráter. Que um homem que, fruto das suas ligações especiais com o sistema que vai moldando o nosso regime à mercê dos seus interesses e conveniências, logrou chegar aos mais altos cargos políticos nacionais tenha defeitos subjetivos de caráter é apenas um problema individual do próprio; que o PS, diferentemente, o apoie incondicionalmente, sem esboçar uma crítica que seja, ainda que suavezinha, é um problema da nossa democracia. António Costa, esse, vai gozando connosco à grande e à socialista português: depois de ter ido para Palma de Maiorca, em férias, enquanto Portugal se confrontava com o flagelo dos incêndios florestais; depois de ter desaparecido em combate no verão passado; após insultar os trabalhadores e os profissionais dedicados que resolveram exercer o seu direito à greve, contra o governo do PS e à mercê do sindicato comunista – eis que Costa aproveitou a remodelação governamental para, a poucos meses do início do ciclo eleitoral, instalar no conforto do órgão máximo do poder executivo o clube de amigos e fãs de José Sócrates.
2. Ontem, dia 18 de fevereiro de 2019, marcou o início do processo de reabilitação política do pai da bancarrota nacional, que obrigou a cortar reformas, que obrigou a um aumento da carga fiscal, que obrigou à execução de um programa de austeridade que nós, povo português, tivemos de ultrapassar com coragem, abnegação e sentido patriótico. Os autores da bancarrota nacional, esses estão melhores do que nunca: andaram a passear por altos cargos na administração pública, pelas câmaras municipais, pelas empresas públicas, por institutos públicos, a berrar nas ruas contra o PPD/PSD, em Bruxelas, com exílios dourados, e agora…voltaram para destruir as nossas vidas e o nosso futuro, enquanto tratam da sua vidinha. Outra vez. Sempre com esse grande timoneiro, esse caudilho, esse “Kim Jong-un tuga”chamado António Costa. O Costa custa. Custa-nos muito.
3. Aliás, não deixa de ser curioso estabelecer o paralelo entre o PS e os seus partidos estrangeiros aliados e amigos. Lembram-se das alianças preferenciais do PS de José Sócrates com Hugo Chávez, com o PT de Lula da Silva, com o PS francês, com os socialistas gregos, com o PSOE de Zapatero? Pois bem, o que sucedeu a tais partidos? Os partidos socialistas – na Europa ou em qualquer outro continente – que foram acusados de corrupção e gestão danosa das contas públicas mereceram a mais contundente condenação por parte das respetivas opiniões públicas: na Venezuela, o regime corrupto chavista está a ser combatido pelo povo venezuelano e cairá brevemente; no Brasil, o PT de Lula da Silva foi corrido do poder, sem dó nem piedade, pelo povo brasileiro; na Grécia, os socialistas são politicamente irrelevantes, passando o PS a ser um partido residual; em Espanha, o PSOE (e o grande amigo de Sócrates, Zapatero) foi varrido do poder pelo PP em 2011 – para agora voltar através de uma geringonça inspirada em António Costa que, em três meses, conseguiu a proeza de saturar os espanhóis com tanta conversa da treta de socialismo e ideologias radicais de esquerda… O governo PSOE já caiu e, muito provavelmente, não voltará. É que os espanhóis não deixam que a sua versão de António Costa faça asneiras, asneiras e mais asneiras, perante a letargia generalizada do povo… Os espanhóis, ao contrário de nós, não se calaram – e a esquerda lá vai ser corrida.
4. Do que ficou exposto anteriormente resulta o quê? Uma conclusão tão linear quanto desconcertante: os partidos socialistas que levaram os seus países à bancarrota ou à beira do colapso financeiro, económico e social – muitos acusados de práticas criminosas de corrupção – foram severamente castigados pelos cidadãos. Uns foram corridos do poder e fora dele se manterão por muitos anos; outros pura e simplesmente desapareceram do sistema partidário. Nenhum, porém, ficou imune à condenação veemente pelo seu povo. Ou melhor, há uma exceção – infelizmente, Portugal e os portugueses destacam-se pela negativa. O PS português é o único partido socialista que levou o país à bancarrota, que mergulhou os portugueses numa profunda crise, que tem o seu ex-líder e figura de referência acusado por corrupção – e, não obstante, não só não foi castigado como ainda voltou ao poder. Note-se que não foi o partido que voltou ao governo de Portugal: foi o Partido Socialista com a mesma elite que havia aplaudido José Sócrates; que havia defendido José Sócrates com violência verbal e fanático proselitismo; que havia servido José Sócrates, ajudando-o a conduzir Portugal, serena e alegremente, para o precipício. O socratismo está mais vivo do que nunca no PS.
5. Pois bem, António Costa pensa que os portugueses já esqueceram o passado socrático – logo, esta é a altura certa para trazer os amigos socráticos de volta. Assim, temos Pedro Silva Pereira, o braço-direito de Sócrates e visita frequente de casa, ao lado de António Costa na convenção do PS para as europeias. Assim, temos Pedro Marques, o mais socrático da nova geração, como cabeça-de-lista às europeias. Assim, temos Pedro Nuno Santos – o homem que se assume como um membro honorário do BE, estando o seu coração mais à esquerda, mas que adora o “progressismo moral” de José Sócrates – como estrela parda deste PS que envergonharia Mário Soares. Assim temos, finalmente, Alberto Souto (por quem temos simpatia e estima pessoal) como secretário de Estado das Comunicações, uma “pastinha” criada só para permitir que ele fosse para o governo! Ora, Alberto Souto é o homem, muito simpático, que levou a Câmara Municipal de Aveiro à falência, que se tornou um socrático dos quatro costados, tendo por isso recebido a compensação de Sócrates de ir para a Anacom – e volta agora para o governo, talvez para acabar o trabalho de António Costa de impor aos portugueses uma nova bancarrota, mais letal e devastadora que a anterior… Só tem de repetir o trabalho que já fez em Aveiro.
6. É assim: governo socialista, bancarrota na lista. Mas descansem: António Costa já encontrou o homem ideal para negociar o resgate com a troika – José Sócrates, esse patriota, especialista na arte da fotocópia, que um dia será condecorado por Marcelo Rebelo de Sousa por serviços prestados à nação… O Clube dos Amigos Socráticos já está reunido no conselho de ministros de novo; já só falta mesmo José Sócrates. António Costa tratará disso para o ano…
joaolemosesteves@gmail.com
Escreve à terça-feira