Produtos de limpeza poluem tanto o ar como os carros

Produtos de limpeza poluem tanto o ar como os carros


Produtos de limpeza à base de petróleo libertam tantas emissões como as que são libertadas pelos automóveis


Sabia que cozinhar, limpar ou realizar outras tarefas domésticas de rotina polui tanto como os veículos motorizados ou as fábricas numa grande cidade? O alerta é feito por um estudo de investigadores da Universidade do Colorado. A explicação é simples: os produtos à base de petróleo – como os de limpeza, ou até mesmo champôs, perfumes ou lacas – libertam emissões que fazem concorrência às que são libertadas pelos veículos.

Em causa estão compostos orgânicos voláteis que possuem alta pressão de vapor e que, ao serem utilizados, entram na atmosfera, contribuindo desta forma para a poluição atmosférica – uma questão que ganha maiores contornos quando em cima da mesa estão discussões como o fim do diesel, devido às suas elevadas emissões poluentes. Ou seja, por um lado, tentamos limitar a produção de emissões poluentes dos veículos a motor, por outro lado, não fazemos o mesmo com os produtos de consumo diário.

De acordo com o estudo norte-americano, mesmo que a proporção de combustível seja muito maior que a de compostos de produtos químicos feitos à base de petróleo – cerca de 15 vezes mais em termos de peso –, os produtos domésticos contribuem para a poluição do ar tanto quanto o setor dos transportes. E se forem consideradas apenas as partículas geradas pelos produtos químicos, então as emissões são ainda mais elevadas, cerca do dobro face às do setor de transportes. 

“À medida que o transporte se torna mais limpo, essas outras fontes tornam–se cada vez mais importantes”, disse um dos investigadores, acrescentando que “os lares nunca foram considerados uma fonte importante de poluição do ar e que agora é o momento certo para começar a explorar isso”, referiu Marina Vance. 

Em 2018, a investigadora monitorizou a qualidade do ar de uma casa no campus da Universidade do Texas em Austin. Durante um mês, Vance e a sua equipa levaram a cabo uma série de atividades domésticas diárias, incluindo a confeção de um jantar de Ação de Graças em pleno verão. E, apesar de os resultados ainda não estarem fechados, chegaram à conclusão que realizar tarefas básicas como ferver água num bico de fogão pode contribuir para emitir elevados níveis de emissões poluentes e, como tal, com impacto para a saúde. 

Aliás, os níveis foram mais altos do que era esperado, exigindo que os instrumentos de medição tivessem de ser reequilibrados. “Até o simples ato de fazer torradas elevou os níveis de partículas muito acima do esperado”, disse Vance. “Tivemos de ajustar muitos dos instrumentos.”

Mais poluentes O certo é que este não é um caso único. Também as vacas já foram consideradas das maiores responsáveis por emissões de gases poluentes para a atmosfera. Ao todo, o setor da criação de gado é responsável por 18% das emissões, enquanto o setor dos transportes pesa menos, rondando 13,5%. 

Em causa está o sistema digestivo de ruminantes como as vacas, ovelhas, búfalos ou camelos, mas também de animais como o porco, que funciona como uma pequena fábrica de metano, um gás 20 vezes mais prejudicial para o ambiente que o dióxido de carbono emitido pelos meios de transporte, que é enviado para a atmosfera pelo estrume e flatulência.

Para reduzir o nível de emissões, os cientistas têm vindo a multiplicar-se em investigações com vista a resolver o problema da digestão destes animais.

Guerra ao diesel Mas se ainda não foram dados passos concretos na redução da poluição nos produtos de limpeza, no setor automóvel, a história é outra. A União Europeia prepara-se para acelerar a revolução tecnológica no transporte rodoviário e tentar que a Europa continue na liderança nesta indústria, mesmo com a concorrência dos Estados Unidos e da China. A comissária europeia da Indústria já veio dizer que “os carros a gasóleo estão acabados” e representam uma “tecnologia do passado”. 

Ainda assim, Elzbieta Bienkowska entende que a sociedade “já se apercebeu de que nunca haverá carros a gasóleo completamente limpos – isto é, sem emissões de NOX [óxido de nitrogénio]”. Os carros a gasóleo representam metade do mercado automóvel europeu e poluem mais do que os veículos a gasolina, embora contribuam menos para o aquecimento global. 

Face a este cenário e tendo em conta os problemas de saúde provocados pelos motores a gasóleo, Bruxelas vai poder multar as marcas automóveis que infringirem as regras de emissões. Poderão ter de pagar até 30 mil euros por cada veículo ambientalmente defeituoso, acompanhando a política seguida nos últimos anos pela agência do Ambiente dos Estados Unidos (EPA na sigla original).

A Comissão Europeia está ainda a preparar mais legislação para restringir a produção de carros com motores de combustão e, desta forma, aumentar a montagem de veículos elétricos.