Acelerar o “mar português” é algo primordial para se conseguir garantir um forte dinamismo inovador, um empreendedorismo florescente, um ecossistema forte e uma fluidez consistente na transferência do conhecimento para a economia azul.
No entanto, para isto acontecer é preciso que as empresas maduras do mar se disponibilizem e se mostrem recetivas a participar com mais empenho em programas de aceleração, tal como é fundamental que os atores económicos e institucionais promovam e apoiem com regularidade novos programas, pois os existentes são escassos para garantir escala e sucesso.
Na verdade, só se conhece presentemente a existência de dois projetos de aceleração dedicados ao mar − o Bluetech Accelerator, promovido pelo Ministério do Mar e pela Fundação Luso-
-Americana; e o Blue Bio Value, promovido pela Fundação Oceano Azul e pela Fundação Calouste Gulbenkian, o que é manifestamente insuficiente para se assegurar sustentadamente respostas disruptivas, empreendedoras e inovadoras, com capacidade de promover e potenciar projetos piloto.
A emersão de outros programas de aceleração torna-se, assim, essencial para fortalecer um ecossistema empreendedor ainda fraco e garantir um instrumento dinâmico, adequado, para que se possa com regularidade oferecer um maior número de oportunidade a novas ideias/projetos e proporcionar alguma ocorrência de transferência do conhecimento, melhorando as condições para que a economia azul se torne uma indústria de e com futuro.
Por outro lado, é necessário que estes e outros programas de aceleração sejam de maior amplitude, isto é, que tenham maior verticalidade, permitindo que mais áreas de atividade sejam abrangidas, tais como aquacultura offshore e inshore, pesca e transformação do pescado, energia offshore, construção e reparação naval (novos materiais e soluções), segurança, salvamento e a marítima ou turística, pois a horizontalidade dos atuais programas veda a oportunidade para que muitas ideias e projetos possam candidatar-se.
Apesar de tudo, a sua existência é já uma boa ação da política pública do mar, pois permite dar início a um percurso transformador da economia azul.
Pelo que temos de felicitar o Ministério do Mar, a Fundação Luso-Americana (FLAD) e seus parceiros pelo programa Bluetech Accelerator, o qual vai permitir o emergir de novas e inovadoras soluções de e-plataformas, sistemas analíticos, serviços de internet, inteligência artificial, robótica, cibersegurança, etc. para as atividades dos portos e do transporte marítimo.
Assim como a Fundação Oceano Azul, a Fundação Calouste Gulbenkian e seus parceiros pelo programa Blue Bio Value, que permite apoiar ideias e projetos que recorram a inovações biotecnológicas para garantir novos negócios sustentáveis e reformular outros mais antigos, tendo sempre por base a defesa e preservação dos recursos biológicos marinhos e a sustentabilidade futura da economia azul.
A existência destes novos programas para acelerar o desenvolvimento e sustentabilidade do mar português e o contributo positivo que acrescentam certamente vão ajudar os jovens empreendedores do mar. No entanto, é necessário conjugá-los com a existência de espaços de excelência (campi ou hubs tecnológicos e empresariais), de modo a aproveitarem-se as sinergias que podem ser geradas, melhorando as condições para uma navegação arrojada, veloz e com elevada eficiência e eficácia, para fortalecer os ecossistemas marítimos.
Gestor e analista de políticas públicas, Escreve quinzenalmente à sexta-feira