Portugal está a ser invadido por uma nova forma de mobilidade. Andar de bicicleta ou de trotineta está na moda e, com ou sem ciclovias, serve como opção para as deslocações de centenas de portugueses. Mas é aqui que surge o problema. As vias específicas para estes tipos de veículos parecem cada vez mais insuficientes para estes amigos do ambiente.
Para responder a este desafio, o governo anunciou que irá investir 300 milhões de euros nestes troços, num total de mil quilómetros, em várias localidades do país, no âmbito do plano Portugal Ciclável 2030. O financiamento será feito através do Fundo Ambiental e os municípios deverão apresentar propostas que serão depois apreciadas. No total, o Estado prevê investir em 110 ciclovias num período de 12 anos.
Para as ciclovias que fazem ligação entre algumas das mais importantes localidades, o plano irá apoiar cerca de 75% do valor total da obra – nunca mais de 4,75 milhões de euros – num troço com um total de 21 quilómetros. Entre localidades contíguas, a percentagem desce para 70%, em extensões de, no máximo, 14 quilómetros – um total de dois milhões de euros. Já as ciclovias em locais isolados terão 65% de apoio financeiro na obra, num máximo de 1,5 milhões de euros, num troço que não poderá ultrapassar os 12,6 quilómetros.
Além das bicicletas, que já faziam parte da vida dos portugueses, ainda que em pequena escala, estes parecem apostar agora mais nas trotinetas elétricas.
No último ano, em que as bicicletas da Gira fizeram um milhão de viagens por Lisboa e registaram 18 500 utilizadores com passes anuais, as trotinetas apareceram e foram várias as empresas que olharam para a capital como mercado apetecível.
Nos primeiros dois meses em Portugal, outubro a dezembro, a Lime registou um total de 53 mil utilizadores. As trotinetas elétricas, que podem ser utilizadas por qualquer pessoa que possua a aplicação e mediante o pagamento de 15 cêntimos por minuto, já são uma opção escolhida por 21% dos utilizadores como alternativa ao automóvel. Luís Pinto, diretor de expansão da Lime, disse ainda ao i que 57% das pessoas afirmaram utilizar este meio de transporte nas deslocações para o trabalho ou para a universidade. A Bungo disse ainda ao i que as zonas de Belém, Cais do Sodré e Parque das Nações e os trajetos entre a rotunda do Marquês de Pombal e o Saldanha ou até ao Chiado/Praça do Comércio são os preferidos dos utilizadores.
No entanto, as trotinetas não ficam só por Lisboa. A startup sueca Voi é a primeira a estar presente em mais do que uma cidade do país, uma vez que, além da capital, vai estar em Faro com 100 trotinetas. Já a Lime prometeu que Coimbra terá 200 a 400 trotinetas, a partir de março, a circular nas ruas.
Praça de Espanha mais amiga dos ciclistas
Uma das zonas mais movimentadas de Lisboa no que diz respeito ao trânsito vai mudar. Está previsto que o Parque Urbano da Praça de Espanha esteja concluído já no próximo ano e, segundo Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, as obras irão dar origem a “uma marca da Lisboa do futuro, uma cidade mais verde, mais sustentável, com mais espaço público e com mais ciclovias”. O parque, que terá acesso direto aos jardins da Fundação Calouste Gulbenkian através de uma ponte pedonal e que irá contar com mais zonas verdes, parques infantis, esplanadas e quiosque, irá incluir também novas ciclovias, permitindo a chegada até Sete Rios através de veículos como bicicletas ou trotinetas.
Assim, o espaço “de tamanho que hoje é “inacessível às pessoas, marcado por grandes vias viárias, onde não é possível alguém aceder ao verde que ali existe”, explicou Fernando Medina, poderá ser utilizado para passear ou fazer parte do trajeto até ao trabalho para as centenas de pessoas que se deslocam de bicicleta ou trotineta. A criação desta nova ciclovia insere-se no plano da Câmara Municipal de Lisboa para, até 2020, ter 200 quilómetros de caminhos exclusivos para bicicletas e trotinetas.
De bicicleta em direção ao rio Jamor
Já começaram a ser construídas as ciclovias que vão ligar a serra da Carregueira à foz do rio Jamor. O Eixo Verde e Azul tem como objetivo impulsionar a deslocação pedonal ou de bicicleta, facilitar a deslocação entre o Jamor e o Tejo e “requalificar a bacia hidrográfica do Jamor e a área circundante do Palácio Nacional de Queluz”, que conta já com 50 hectares. O eixo terá um comprimento de 15 quilómetros e irá ligar Amadora, Sintra e Oeiras. Basílio Horta, presidente da Câmara de Sintra, afirmou que esta é uma obra ambiciosa mas que irá “devolver às pessoas aquilo que lhes pertence”. Este concelho irá contar com 7,3 quilómetros e o investimento será de 8 milhões de euros. O protocolo assinado em julho de 2016 contava com um investimento de 11 milhões de euros, tal como explica o site oficial da Câmara Municipal de Oeiras. Este município, onde o investimento será de 3,1 milhões de euros, sendo 670 mil provenientes de fundos comunitários, contará com 7,4 quilómetros do troço. As obras arrancaram em 2017 e nalgumas zonas, como Belas, já estão concluídas. No entanto, em Queluz, por exemplo, os trabalhos continuam.
Um milhão para ciclovias em Castelo Branco
A Câmara de Castelo Branco vai investir cerca de um milhão de euros para construir ciclovias até ao início do próximo ano. Segundo Luís Correia, presidente da câmara, este projeto tem como objetivo o aumento substancial do número de ciclovias por forma a “modernizar e criar alternativas de mobilidade” na cidade, além de promover os espaços verdes.
Luís Correia explicou que, com o plano acabado, falta apenas decidir quais as que ficarão prontas primeiro.
Na primeira fase do investimento, que irá ter início este ano e estender-se até 2020, o município vai construir ciclovias principais que “irão integrar toda a rede e fazer a sua ligação às existentes”, disse.
Esta parece ser uma cidade ideal para os ciclistas, uma vez que “não tem grandes desníveis”. Para o autarca, o único problema pode passar pelas temperaturas, uma vez que no verão estas são muito altas e no inverno acontece precisamente o contrário.
Com mais de quatro mil metros de comprimento, o município dispõe de três ciclovias. Uma faz o caminho desde a rotunda da EN18 até à Avenida do Empresário, a ciclovia da Avenida Professor Egas Moniz; a ciclovia da Avenida do Dia de Portugal faz a ligação entre a Rotunda das Violetas e a da Rua da Graça; e a que percorre o Parque Urbano.
Ciclistas de Quarteira com 850 metros de ciclovia
Por forma a “criar um espaço mais sustentável e apelativo para os que nele vivem, trabalham e visitam”, o município de Loulé, no âmbito do Laboratório Vivo para a Descarbonização (LVpD) – Quarteira Lab, projeto lançado e cofinanciado pelo Fundo Ambiental do Ministério do Ambiente, vai criar durante o ano de 2019 uma nova ciclovia entre a Rotunda do Polvo e a Rotunda do Terminal, “um território que pretende responder aos desafios da sustentabilidade urbana no concelho de Loulé”, explicou a autarquia em comunicado.
Esta nova via terá dois sentidos e, num futuro próximo, irá dar acesso ao Passeio das Dunas. Além disso, serão também criados estacionamentos para bicicletas, postos de carregamento de veículos elétricos e sistemas de rega inteligentes, entre outros. A Câmara Municipal de Loulé pretende assim “conciliar, no espaço intervencionado, os diferentes modos de mobilidade, sem comprometer a atual oferta de estacionamento, criando melhores condições de conforto e segurança para a circulação de bicicletas no centro da cidade de Quarteira, assim como integrar medidas de acalmia de trânsito”, pode ler-se.
Ponte ciclopedonal sobre Calçada de Carriche
Até novembro deste ano, a Calçada de Carriche, uma das principais entradas e saídas da cidade de Lisboa, vai contar com uma ponte ciclopedonal. As obras arrancaram esta semana e irão estender-se até novembro, afetando assim o trânsito durante a altura do verão, nos meses de julho e agosto, ainda não havendo datas concretas. No entanto, a autarquia de Lisboa promete que estas serão “oportuna e devidamente divulgadas”. A ponte, construída no âmbito do projeto Corredor Verde Periférico de Lisboa, irá fazer a ligação entre o Parque Urbano do Vale da Ameixoeira, o Parque Urbano do Aterro do Vale do Forno e o Parque da Encosta do Olival, estes dois últimos com construção prevista até 2020.
Esta nova ciclovia terá um custo de meio milhão de euros, um financiamento através do Plano de Mobilidade Urbana Sustentável do Município de Lisboa, que conta com verbas comunitárias.
Na primeira semana de construção, a acontecer agora, está a decorrer a montagem e instalação dos estaleiros que vão servir de apoio à construção desta ponte.
Corredor verde sobre o vale de Alcântara
A nova ponte para bicicletas na cidade de Lisboa irá fazer a ligação entre o Parque de Monsanto e o rio Tejo, num viaduto que passará por cima da Avenida Calouste Gulbenkian, parte do projeto denominado Corredor Verde Estruturante do Vale de Alcântara.
As obras começaram já em janeiro e, embora se preveja que uma parte fique concluída já em março, a ponte começará a ser construída em julho e o projeto terminará no final do ano. Este projeto já tinha sido anunciado em setembro de 2016, mas as obras acabaram por atrasar-se. “Esta obra era quase impossível. Ninguém acreditava nisto”, disse o vereador da Estrutura Verde da Câmara Municipal de Lisboa ao jornal “Público”. “Este é o vale mais importante de Lisboa, mas é só estradas, linha de comboio, uma confusão. Este projeto permite dar-lhe um arranjo paisagístico muito interessante”, explicou.
Segundo o vereador, com este caminho com 13 hectares e mais de três quilómetros, conseguem-se atingir dois objetivos: “Ligar o Bairro da Liberdade e o núcleo antigo de Campolide” a pontos da cidade que se situam a alguma distância. “Quem estiver na Gulbenkian e quiser vir de bicicleta até aqui, pode fazê-lo”, explica.