O Orçamento do Estado para 2019 foi ontem chumbado como já se esperava e, tal como o primeiro-ministro tinha revelado, o governo do PSOE vai cair e a Espanha terá eleições antecipadas em abril. A data concreta será anunciada esta sexta-feira por Pedro Sánchez, e o mais provável é ser a 14 ou 28 de abril, segundo a imprensa espanhola. O líder socialista quer que as eleições se realizem o mais cedo possível para que o seu partido, o PSOE, possa mobilizar os apoiantes contra uma direita que tem ganho força redobrada nos últimos meses, com a emergência do partido de extrema-direita Vox.
“A ideia é anunciar a convocação de eleições o mais cedo possível depois de a votação do orçamento ter sido perdida”, admitiu uma fonte governamental à agência Reuters. Além disso, continuou a fonte, o anúncio da data das eleições tem como objetivo ofuscar a derrota no parlamento e criar um ambiente favorável a uma vitória socialista.
Estas intenções podem sair goradas, precipitando o país para o impasse político. De acordo com uma sondagem publicada no jornal espanhol “Público”, se as eleições tivessem sido ontem, o PSOE vencê-las-ia por uma margem de 170 mil votos – a mais baixa da história da democracia espanhola. Em termos de lugares, a margem seria quase nula, com nenhuma combinação eleitoral entre os dois blocos, à esquerda e à direita, a dar maioria absoluta no parlamento. PP, Ciudadanos e Vox alcançariam 174 deputados, enquanto PSOE, Unidos Podemos, PDeCat, ERC e nacionalistas bascos teriam 173.
A aritmética do atual parlamento já foi por si difícil de gerir. O governo de Sánchez, composto pelo PSOE, dependia do apoio parlamentar do Unidos Podemos, nacionalistas bascos e independentistas catalães – ERC e PDeCat – para se manter. Sánchez viu-se obrigado a negociar com cada um, ora cedendo ora batendo o pé.
Em situação tão frágil, o executivo não sobreviveu às negociações goradas com os independentistas catalães, que retiraram o apoio ao governo na sequência do governo ter suspendido as negociações. Os independentistas queriam um referendo vinculativo, à semelhança do concretizado na Escócia, em 2014, mas o governo recusou, apenas disponível para abordar a transferência de mais competências recusando qualquer hipótese de uma Catalunha independente. “Em nenhuma circunstância aceitaremos que o direito à autodeterminação da Catalunha surja nos pontos em discussão”, garantiu María Jesús Montero, ministra das Finanças espanhola.
Sem essa hipótese em cima da mesa, os catalães ameaçaram votar contra o governo, e assim fizeram, precipitando eleições antecipadas. Ontem a proposta orçamental foi chumbada com 191 votos contra e 158 a favor, e uma abstenção. Sem condições de governabilidade, Sánchez foi rápido a anunciar o que já se esperava: eleições antecipadas.
“Hoje [ontem] houve uma moção de censura de facto, [Sánchez] perdeu a maioria no parlamento”, disse Pablo Casado, presidente do Partido Popular, no debate parlamentar, acrescentando que o “PP está preparado para governar”. “A decisão de hoje marca um ponto de viragem: o fim da jornada de Pedro Sánchez”, vaticinou.
Ainda que o líder do governo estivesse presente, a resposta a Casado partiu da sua ministra das Finanças: “A direita diz não às políticas sociais para as quais pretende resolver os problemas quotidianos dos cidadãos”. “A extrema-direita ganha espaço no país”, alertou.