Marquês. Primo de Sócrates pediu ao juiz Ivo Rosa para não falar

Marquês. Primo de Sócrates pediu ao juiz Ivo Rosa para não falar


Dia em que seria ouvido ficou reservado para a audição, na qualidade de testemunha, de Teixeira dos Santos, ex-ministro das Finanças de Sócrates. Depoimento de Armando Vara suscitou dúvidas ao magistrado  


José Paulo Pinto de Sousa, primo de José Sócrates, surpreendeu tudo e todos: apesar de ter pedido a abertura de instrução para rebater a acusação do Ministério Público na Operação Marquês informou ontem o juiz Ivo Rosa da sua recusa, por agora, em submeter-se às suas perguntas e às do procurador Rosário Teixeira, invocando o direito dos arguidos ao silêncio. Assim, fica sem efeito a sessão em que seria ouvido, agendada para 28 de fevereiro.

A par de Carlos Santos Silva, José Paulo é uma peça chave deste processo. Segundo o MP foi ele o primeiro testa-de-ferro de José Sócrates quando este ainda era primeiro-ministro.

Esta posição de José Paulo Pinto de Sousa foi enviada para o processo depois do testemunho de Armando Vara que, cercado pelo juiz de instrução, inventou um novo crime para se safar daqueles por que está acusado – a posição de José Paulo constitui assim uma estratégia de defesa. Até porque nos próximos dias são várias as testemunhas e arguidos que ainda vão falar sobre a sua participação no alegado esquema e desta forma, José Paulo Pinto de Sousa, se decidir no futuro falar, já sabe o que foi dito.

Num despacho do juiz Ivo Rosa é referido que o interrogatório do arguido na fase de instrução é necessária: “Uma vez que o arguido não prestou declarações em sede de inquérito, requereu a abertura da instrução julgamos necessária a audição do mesmo nesta sede.”

Ainda assim, Ivo Rosa aceita que a diligência seja realizada mais tarde e não no fim deste mês: “Atenta a posição manifestada pelo arguido, damos sem efeito, por agora, a realização do interrogatório do mesmo agendado para o dia 28-02”.

O magistrado recorda ainda a disponibilidade manifestada pelo primo de José Sócrates anteriormente e que contrasta com a posição agora assumida.

“O arguido em causa foi constituído arguido, por intermédio de carta rogatória. Em sede de interrogatório, realizado no dia 30-05-2017, em Angola, o arguido referiu o seguinte: sendo a primeira vez que está a ser confrontado com os factos que lhe são imputados pelo Ministério Publico e tratando-se de factos antigos, variados e diversos e impossível lembrar-se, com o rigor exigido pela circunstância, de todos os aspetos negociais que contextualizam essa imputação, sendo sua firme convicção não ter praticado qualquer crime”, refere o despacho. Apesar disso, na altura, o arguido invocou uma nulidade e disse manter “total disponibilidade e intenção de prestar com rigor declarações sobre a matéria imputada, requerendo [à data], caso assim se [entendesse], a marcação de nova data para a nova realização do interrogatório”.

A nulidade foi rejeitada e o arguido acabou por não prestar declarações durante a fase de inquérito, recusando agora ser inquirido na fase de instrução.

Como a diligência de dia 28 ficou sem efeito, o juiz reservou o dia para inquirir, na qualidade de testemunha, Fernando Teixeira dos Santos, o ministro das Finanças do executivo de José Sócrates.

Vara suscita dúvidas No mesmo despacho de Ivo Rosa é possível ler que dadas as dúvidas suscitadas com as declarações prestadas por Armando Vara vai ser preciso ouvir novamente a testemunha José Rui Lopes Gomes subdiretor do departamento de risco da CGD. 

“Das declarações prestadas pelo arguido Armando Vara em sede de instrução, na parte relacionada com a intervenção da Direção de Risco nas operações de financiamento, ao Tribunal suscitaram-se dúvidas quanto ao processo de decisão do CAC perante um parecer de risco condicionado”, refere o juiz, designando uma hora do dia 28 para a audição desta testemunha.