Eurodeputada em dúvida na lista do PS por queixa de assédio laboral

Eurodeputada em dúvida na lista do PS por queixa de assédio laboral


Investigação que recai sobre Maria João Rodrigues sobre assédio pode baralhar as contas e levar Costa a fazer mais mexidas no executivo. Parlamentar garante ao i que está de “consciência descansada”.


A eleições europeias de 26 de maio vão obrigar o primeiro-ministro a fazer uma mini-remodelação com a mais que certa saída do ministro do Planeamento, Pedro Marques, o escolhido para encabeçar a lista naquelas eleições. Mas o ministro poderá não ser o único governante a concorrer às eleições.

Uma das incógnitas é a permanência da ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Maria Manuel Leitão Marques, no executivo. A sua saída tem sido admitida entre socialistas, porque existe algum grau de incerteza sobre o desfecho de uma investigação de assédio laboral que recai sobre a eurodeputada Maria João Rodrigues. Que se arrasta desde junho.

De facto, a eurodeputada Maria João Rodrigues já foi dada como certa na equipa para as eleições europeias e o primeiro-ministro insistiu na defesa do princípio “da continuidade dos quadros especializados” do PS nas Europeias, na última comissão política nacional. A referência foi interpretada por membros da comissão política como um sinal de continuidade dos eurodeputados Carlos Zorrinho, Maria João Rodrigues, e Pedro Silva Pereira.

Contudo, o caso, que foi noticiado em janeiro pelo site “Politico”, não está concluído nas instâncias europeias, tendo resultado de uma queixa de uma ex-assistente parlamentar. A colaboradora em causa considerou que lhe foi exigido trabalhar quando se encontrava de baixa médica. De facto, houve um contacto telefónico nesse período, da parte da eurodeputada, para lhe pedir os códigos de acesso relativos ao funcionamento do escritório de Maria João Rodrigues. A ex-assessora queixou-se ainda que trabalhava fora do horário estabelecido. É por esse motivo que existe algum grau de incerteza sobre a sua manutenção nas listas.

A eurodeputada é vice-presidente da Aliança Progressiva de Socialistas, sendo considerada pelos seus pares como uma das parlamentares melhor preparada do ponto de vista técnico, sendo reconhecida como uma das principais responsáveis da estratégia de Lisboa, aprovada em março de 2000. Além disso, também esteve envolvida no processo negocial que deu origem ao Tratado de Lisboa.

Em janeiro, na resposta ao processo Maria João Rodrigues afirmou-se tranquila e refutou as queixas que deram origem à investigação, admitindo apenas que fez chamadas telefónicas depois do horário laboral – 17 horas– para a marcação de viagens. Nada mais. Na altura cinco atuais e ex-assessores saíram em sua defesa.

Contactada pelo i, a eurodeputada fez apenas um curto comentário: "Eu estou de consciência descansada quanto ao tratamento que dei à assistente. Mas sinceramente convido, quem tiver algum interesse por este caso, é que vejam o depoimento dos outros meus assistentes . Acho que fala por si".

Em janeiro deste ano, Nuno Almeida d’Eça, Ainara Bascuñana, Diogo Pinto, Ana Isa Gommel e Lukas Veseley emitiram um comunicado conjunto a defender a eurodeputada socialista e antiga ministra. No documento, citado pela Lusa, os cinco atuais e ex-assessores confessaram-se "chocados" com a queixa da ex-assistente e “surpreendidos por ver relatado um ambiente de medo e humilhação por parte de Maria João Rodrigues na sua equipa”.  

REMODELAÇÃO A hipótese de Maria Manuel Leitão Marques sair do governo para concorrer ao Parlamento Europeu foi admitida no domingo pelo conselheiro de Estado Marques Mendes, no seu comentário dominical, na SIC. “É uma possibilidade ainda em aberto”, afirmou o comentador. As alterações no governo, com a saída de Pedro Marques, também podem obrigar a uma divisão de pastas no atual Ministério do Planeamento. Sendo Pedro Nuno Santos promovido a ministro, (já ninguém acredita que não o seja), dificilmente terá a gestão dos fundos comunitários. Por isso, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares pode ficar com as obras públicas, um setor sobre o qual tem estado a estudar dossiês há um mês, tal como avançou o “SOL”.

Marques Mendes revelou que Pedro Nuno Santos acumulará ainda as infraestruturas com a pasta da mobilidade interna. Ou seja, retira espaço ao ministro do Ambiente, Matos Fernandes. “Ele vai ser um super-ministro, vai ficar com um poder político enorme dentro do Governo”, antecipou o ex-líder do PSD.

Só a partir de 17 de fevereiro se saberá a dimensão das alterações orgânicas no executivo socialista. Se António Costa dividir pastas, a remodelação cirúrgica transforma-se numa mini-remodelação, porque os ministros envolvidos têm, novamente, de tomar posse com novas competências bem como todos os secretários de Estado que cessam funções com a exoneração dos respetivos ministros.

Entretanto, no PS aumentam as pressões para a formação da lista. Por exemplo, as Federações de Coimbra, Aveiro, Guarda e Santarém têm defendido que é necessário ter uma personalidade que represente o centro do País. A norte, existem expectativas de que o líder da federação do PS/Porto, Manuel Pizarro, integre a lista. O autarca poderá, porém, não ficar em lugar elegível já que António Costa se comprometeu a ter uma lista com 50% de mulheres. Ao i, Renato Sampaio, presidente da concelhia do Porto, diz que “tudo o que tenha a ver com listas para as eleições europeias não passa de especulação e intriga no seio do PS”, porque “a lista é da responsabilidade do secretário-geral”.

[Notícia atualizada às 13h27 com a reação da eurodeputada Maria João Rodrigues]