O presidente do Aliança, Santana Lopes, encerrou este domingo o primeiro congresso do partido, em Évora, com um discurso ideológico, a assumir a linha “liberal” da nova força política e com a certeza de que “a esquerda não tem mais prerrogativas, mais direitos do que a direita e o centro”.
Santana Lopes obteve 356 votos para a sua direção política e a pedra de toque das suas duas intervenções no congresso foi o ataque permanente à frente de esquerda, a versão do Aliança para apelidar a geringonça ou os acordos entre o PS, PCP e Bloco de Esquerda, que suportam o governo socialista.
Numa intervenção escrita, prática rara em Santana Lopes, que prefere usar notas e tópicos, o novo presidente da Aliança desafiou o Presidente da República a patrocinar um pacto para o crescimento económico, uma das bandeiras do novo partido. Santana Lopes começou por dizer que nem queria “meter a foice em seara alheia”, mas deixou uma sugestão a Marcelo para que sente os parceiros sociais no Conselho de Estado. O objetivo é alcançar um pacto nacional para o crescimento económico”. Em Évora, Belém esteve representada no congresso pelo assessor político Nuno Sampaio e Rita Magalhães Colaço, secretária do Conselho de Estado. Ambos ouviram ainda um pedido de_Santana Lopes para que Marcelo Rebelo de Sousa fosse “vigilante” com o governo do PS na Madeira. O presidente da Aliança alertou para o facto de existir um “cerco” do executivo que prejudica as populações na Madeira e tem como móbil a vitória dos socialistas nas eleições de 22 de setembro. “Tenho de dizer ao senhor Presidente que esta matéria exige a sua especial atenção, mas estamos certos de que estará vigilante”, afirmou Santana Lopes num registo menos crítico, por comparação com o discurso de véspera, em que criticou o exagero de Marcelo Rebelo de Sousa na cooperação institucional entre Belém e São Bento.
Esquerda injusta e que desbarata recursos
A intervenção final do congresso de Santana Lopes durou 38 minutos e o líder da Aliança usou boa parte do tempo para atacar a “frente de esquerda”. Primeiro, porque “quando a esquerda está no poder, os recursos são desbaratados, os impostos sobem, a economia não respira, o nível de vida dos portugueses não sobe”. Depois, a “frente de esquerda” tem dado provas de ser “injusta”. Para o efeito, Santana Lopes exemplificou que a esquerda é “injusta com as comissões de inquérito que não são da sua iniciativa”.
Em jeito de balanço da legislatura, Santana Lopes não teve meias medidas na análise: “O que se passou nesta legislatura é um caso de mau governo”. Mais, o Estado só é mesmo “eficiente” a cobrar impostos.
Neste ponto, Santana Lopes passou em revista os pilares da sua moção, defendendo que o Estado é mau gestor e avançou com algumas ideias para o país. Na Saúde, por exemplo, deve prevalecer a liberdade de escolha e “todos devem ter um seguro de saúde”, mesmo que o Estado possa apoiar quem não os consegue pagar. “O Serviço Nacional de Saúde, assim como está, não dá”, concluiu Santana.
Outro dos exemplos é o da Segurança Social e Santana Lopes quis “acentuar a importância da liberdade de escolha das pessoas em parte dos descontos que fazem para a segurança social”.
A escassos três meses das eleições europeias, o assunto não poderia passar ao lado do discurso e Santana voltou a insistir numa nova atitude, “mais exigência com Bruxelas”, sobretudo porque é “imoral haver países que conseguem cada vez mais excedentes orçamentais à custa da contração económica de outros países”. Esta visão da Aliança não é sinónimo de destruição da União Europeia, saída da moeda única ou da organização e Santana quis deixar claro que é um europeísta, mas recusa a ideia do federalismo.
A abrir o discurso, Santana Lopes falou das mortes de mulheres que resultam da violência doméstica e defendeu: “Isto tem de parar” e pediu a “Deus que as tenha junto de si”.
Com os cinco filhos a assistir ao encontro, Santana fechou o congresso a prometer o combate por causas justas, seja em fábricas, seja no campo. “Cá estamos”, garantiu Santana Lopes.