Europa, ainda agora aqui chegámos


À esquerda, em torno do Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia e Esquerda Nórdica Verde, no qual PCP e BE estão inscritos, reúnem-se as forças políticas que, de facto, têm vindo a fazer frente a esta nova escalada do fascismo na Europa


Paira um espetro negro sobre a União Europeia. Não restam grandes dúvidas de que o Parlamento que sairá das próximas eleições europeias de 26 de maio terá uma significativa presença de forças racistas e fascistas. Se se conseguirem entender, o que até agora não sucedeu, poderão constituir um dos maiores grupos parlamentares do novo hemiciclo. Hoje, estas forças encontram-se espalhadas por vários grupos parlamentares ou sem filiação. O Fidesz, por exemplo – do primeiro ministro húngaro Viktor Orbán –, inscreve-se no Partido Popular Europeu, onde também estão PSD e CDS-PP.

Não sendo crível que, nos próximos anos, se consigam gerar maiorias na agenda mais xenófoba e retrógrada destas forças fascistas, pensa-se que não terão dificuldades em gerar alianças com todos os grupos à direita, e até com uma parte da Aliança dos Socialistas e Democratas Progressistas (no qual se inscreve o PS), na priorização de uma agenda securitária para a UE e no aprofundamento da agenda económica neoliberal a partir da constituição de grandes monopólios de raiz nacional – como se pode constatar em países como Itália ou Hungria, onde já estão no governo.

Sendo improvável que Portugal contribua com eurodeputados para engrossar este bloco europeu, isso trará maior responsabilidade aos eleitos. Por esse facto, provoca-me uma profunda irritação que PS, PSD e CDS-PP continuem a tratar as suas listas como formas de compensação. Não é admissível que voltem a ser eleitos eurodeputados para usufruírem de reformas douradas como João de Deus Pinheiro (PSD, 2004/09) – que ainda hoje abrilhanta os rankings de eurodeputados mais improdutivos, Fernando Ruas (PSD, 2014/19) ou Mota Amaral (que se prefigura como n.o 2 da lista do PSD). Não é admissível que PSD e CDS continuem a tratar as suas listas como a forma de garantir entendimentos entre fações internas, mantendo cabeças-de-lista sem avaliação do trabalho realizado – Paulo Rangel distingue-se por surgir no relatório da Transparency International como o 12.o eurodeputado que mais lucrou nos últimos anos em atividades exteriores ao PE e Nuno Melo como o eurodeputado português que participou em menos votações até 2016. Não é admissível que o PS decida premiar Pedro Marques, cuja vida profissional não é dissociável das nomeações partidárias, tendo sido um dos ministros desta legislatura com mais anúncios e menos execução, apenas para agradar à sua fação mais direitista e dos interesses.

A correr em pista própria, e muito dependentes da visibilidade que a comunicação social entender dar-lhes, estarão as candidaturas de Marinho e Pinto, Rui Tavares e do Aliança. De diferentes modos, tentarão parecer vir de fora do sistema na esperança de conseguir eleger o respetivo cabeça-de-lista.

À esquerda, em torno do Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia e Esquerda Nórdica Verde, no qual PCP e BE estão inscritos, reúnem-se as forças políticas que, de facto, têm vindo a fazer frente a esta nova escalada do fascismo na Europa. Em Portugal, distinguem-se entre quem defende uma visão de recuperação de instrumentos de soberania nacional e o estabelecimento de redes de cooperação internacional a partir dos Estados (PCP) e uma visão de que se conseguirá criar outro caminho a partir da reforma da UE e dos seus modelos transnacionais (BE). Uns estarão mais de acordo com uma visão, outros com outra, mas parece-me fundamental que se reforce este bloco no Parlamento Europeu. O que está do outro lado é demasiado perigoso para continuar a eleger quem vai de passeio.

 

Escreve à segunda-feira