Treinadores. Novo ano, velhos hábitos: já são nove na dança dos bancos

Treinadores. Novo ano, velhos hábitos: já são nove na dança dos bancos


Na época passada, por esta altura, tinham sido oito as mudanças técnicas na I Liga. O Feirense foi o último a mexer, mas certamente não será quem irá mexer por último…


A cada passagem de ano, muitos são os que repetem a lengalenga do “ano novo, vida nova”. Na maior parte dos casos, a “resolução” acaba por se revelar absolutamente inconsequente, e no que respeita ao futebol português, então… talvez nem seja preciso dizer muito mais. Das críticas às arbitragens aos insultos e apontar de dedos entre clubes rivais, é sempre outra expressão popular, aquela do “vira o disco e toca o mesmo”, que parece fazer bem mais sentido.

E, como é facilmente percetível, o mesmo se adequa ao tema das mudanças de treinadores. Decorridas 20 jornadas da I Liga, contabilizam-se já nove – mais uma que em igual período da temporada passada. Nuno Manta Santos foi o último a cair, depois de somar o 18.º jogo consecutivo sem vencer para o campeonato no comando técnico do Feirense. O desaire no Bessa, frente a um rival direto (2-0), e a situação cada vez mais irrecuperável na tabela – último, já com cinco pontos de desvantagem para os lugares de salvação -, acabou por ditar a decisão da direção fogaceira, que disse adeus a um funcionário de quase duas décadas (treinador principal nos últimos dois anos) e para o seu lugar chamou outro estreante: Filipe Martins, curiosamente da mesma idade de Manta Santos (40 anos) e que tem vindo a colecionar trabalhos de registo nos escalões secundários, tanto no Real Massamá, que subiu à II Liga em 2016/17, como no Mafra, que agora deixou em quinto na II Liga.

A 26 de janeiro, poucos dias antes de Nuno Manta Santos, Jorge Simão tinha sofrido também os efeitos do chicote, com o Boavista igualmente afundado nos últimos lugares. E aí se viram mais uma vez os laivos das danças de treinadores tão características do futebol luso: Lito Vidigal, que havia sido despedido do Vitória de Setúbal a 25 de janeiro, depois de nove jogos sem qualquer vitória nos sadinos, foi oficializado dois dias depois pelos axadrezados. No primeiro jogo no banco da pantera, a coisa correu mais que bem: o Boavista venceu o tal jogo ao Feirense, por 2-0, e saiu da zona de despromoção.

Tudo começou na taça da liga Esta época, as hostilidades foram abertas “em grande”: logo em outubro, e após uma derrota caseira com o secundário Estoril para a Taça da Liga, a direção do Sporting optou por prescindir dos serviços de José Peseiro. Estavam decorridas oito jornadas do campeonato, com os leões a dois pontos da liderança, então repartida por FC Porto e Braga. Depois de três jogos com o interino Tiago Fernandes ao comando, Frederico Varandas assegurou os serviços do técnico holandês Marcel Keizer, que entrou de rompante no futebol português… mas que tem vindo a perder (muito) fulgor nos últimos tempos – o Sporting está hoje a 11 pontos do FC Porto, a oito do Benfica e a sete do Braga.

Duas jornadas depois de Peseiro, foi a vez de Cláudio Braga deixar o comando técnico do Marítimo, sendo substituído por Petit. Mais duas rondas, mais uma mudança: Daniel Ramos saiu do Chaves, tendo para o seu lugar chegado Tiago Fernandes, que após a comissão de serviço no Sporting tinha ficado ao leme da equipa sub-23 dos leões.

Seguiu-se José Gomes, numa situação ainda assim distinta das demais: aí, foi o técnico de 48 anos a solicitar a saída do Rio Ave, de modo a poder abraçar o projeto inglês do Reading, no Championship (segunda divisão). Para esse posto chegaria… Daniel Ramos, mais um nome repetido neste baile. No terceiro dia de 2019, foi a vez de Rui Vitória: o técnico ribatejano, que estava na corda bamba desde novembro, não resistiu à derrota por 2-0 em Portimão e viu a ligação de três anos e meio com o Benfica ter um fim abruto. Ainda assim, e de acordo com as palavras de Luís Filipe Vieira, também aqui não terá havido propriamente um despedimento puro e duro: segundo o presidente dos encarnados, a direção e o técnico chegaram a acordo a pedido deste, que tinha o desejo de aceitar a proposta (imensamente mais compensadora do ponto de vista financeiro) milionária do Al-Nassr, da Arábia Saudita.

Isto aconteceu à 15.ª jornada – com o Benfica entregue a Bruno Lage, primeiro como interino e depois confirmado pelo menos até ao fim da época. À 17.ª, caiu José Mota na Vila das Aves; também aí foi rei morto, rei posto, com a direção avense a resgatar o sexagenário Augusto Inácio (64 anos) do desemprego.

Até que se chegou aos já citados Vitória de Setúbal, Boavista e Feirense, com Lito Vidigal a saltar do Sado para o Bessa. No Bonfim, foi um histórico a pegar na equipa, supostamente de forma interina: Sandro Mendes, antigo capitão e que desempenhava até aqui as funções de diretor-geral do clube. Os dois resultados conseguidos desde então (1-1 na receção ao Sporting e 0-0 na Choupana, no reduto do Nacional) agradaram à direção vitoriana e, de acordo com a imprensa desportiva nacional, tudo indica que o antigo médio sadino deverá permanecer como técnico principal até ao fim da temporada.