Televisão. Impresa encontrou a Cristina dos ovos de ouro

Televisão. Impresa encontrou a Cristina dos ovos de ouro


As audiências da SIC têm disparado e com elas ganham as ações da Impresa. Especialista garante ao i que “2019 está claramente a ser o ano” deste grupo


Só o futuro pode mostrar se é uma viragem sólida mas, desde que se estreou, “O Programa da Cristina”, na SIC, lidera as audiências e tem alavancado o resultado de muitos outros conteúdos da estação. Na TVI, como resposta imediata, começaram a viver-se momentos de grande tensão. A guerra de audiências teve sempre o mesmo vencedor: Cristina Ferreira. Em consequência disso, muitos começaram o dia a ver a SIC e assim continuaram. Só no dia da estreia, o programa foi visto por mais de 500 mil portugueses. Ou seja, o que a TVI mais temia acabou por se verificar. À boleia dos bons resultados da manhã, muitos outros formatos da SIC acabaram por ver as audiências subir. A transferência milionária da apresentadora foi uma das mais comentadas em Portugal e a expetativa em relação aos resultados desta aposta era grande. Mas passemos aos números. 

A apresentadora trocou a TVI pela SIC com um contrato que lhe permite um salário mensal de 80 mil euros, ou seja, cerca de um milhão por ano. De acordo com o “Correio da Manhã”, na altura em que se soube da mudança e dos valores, podia dizer-se que Cristina Ferreira passaria a ser o elemento mais bem pago do grupo Impresa (dono da SIC e do “Expresso”), ainda que o salário dependesse de determinados objetivos como, por exemplo, liderar as manhãs. 

“Quem trabalha para empresas privadas só recebe aquilo que dá à empresa. É como o Cristiano: ele recebe um balúrdio porque o clube recebe um balúrdio por ter o Cristiano”, defendeu sempre a apresentadora, acrescentando que as empresas não fazem contas de forma a ficarem a perder, e os números têm sido reflexo disso. Com a SIC a controlar as manhãs, as audiências do canal dispararam e depressa houve consequências nos mercados. As ações da cotada têm estado a reagir aos números das audiências de janeiro, que representam o melhor resultado da SIC em 14 anos. Nesta sequência, pode dizer-se que as ações da Impresa acumulam já um ganho de 65% em 2019. Falamos do melhor desempenho entre as cotadas nacionais. Já este mês, em apenas em seis dias, as ações dispararam 28,9%, estando agora nos 0,212 euros. Resumindo: o grupo fechou 2018 a cotar em 13,64 cêntimos; ontem, no fecho da bolsa, o valor era de 21 cêntimos. E chegou a estar a 24.

Ao i, o gestor David Silva, da XTB, explica que “2019 está claramente a ser o ano da Impresa, à boleia dos excelentes resultados da SIC, uma das grandes imagens de marca do grupo. A aposta que o grupo está a fazer para o crescimento da sua imagem de marca não é uma situação recente. Contudo, a nomeação de Daniel Oliveira [ver texto ao lado] em junho passado como diretor-geral da SIC veio revolucionar, de certa forma, toda a programação e algumas caras do painel da estação, agora de Paço de Arcos”. Mais: “Se olharmos para os anos anteriores, vemos uma clara aposta da SIC em rivalizar com a líder de audiências TVI jogando nas novelas e nos atores nacionais, deixando assim de lado a emissão de um número elevado de novelas da Globo (que ainda fazem parte do painel da SIC). Contudo, a aposta não passa apenas pelas novelas, mas também pelos programas matinais e pelas emissões do fim de semana.” Para o especialista, “apesar dos bons resultados alcançados em janeiro, Daniel Oliveira pretende continuar a vincar a presença da SIC no mercado, com a sua próxima aposta a ser as manhãs de domingo, em que aproveita o facto de a TVI e a RTP estarem a emitir a missa para lançar um novo programa com João Baião [”Olhó Baião”], em mais uma tentativa de captação de audiência das suas concorrentes”.

 Em jeito de conclusão, David Silva diz que “podemos ver que a grande diferença está em a SIC apostar na diferença e em novos modelos e novos programas com caras já bastante conhecidas dos portugueses, enquanto a TVI mantém os seus programas como o ‘Dança com as Estrelas’, ‘Love On Top’ e outros, que já não cativam os portugueses a ver mais do mesmo”.

Recorde-se que, em comunicado, o grupo explicou, depois do fecho da sessão de sexta-feira passada, que foi conquistada “a liderança aos dias úteis do primeiro mês do ano, com 19,2% de share, o que já não se verificava desde março de 2005”.

A levantar voo Neste momento, muitos podem perguntar-se o motivo de tanta conversa sobre o tema, mas a verdade é que falamos, desde a primeira hora, de resultados históricos. Só no total do dia da estreia, a SIC – que já há muito tentava ganhar terreno à TVI – teve, de acordo com os dados da GFK, 20,8% das audiências, enquanto a estação de Queluz de Baixo obteve apenas 19,3%. A alavancar o resultado total esteve, naturalmente, o arranque da manhã. “O Programa da Cristina” contou com 35,5% dos telespetadores sintonizados. Falamos de um total de 531,7 mil pessoas. O programa de Goucha foi, assim, esmagado: ficou-se pelos 24,5% de share. 

Mas desengane-se quem acredite que os ganhos em bolsa por causa do “efeito Cristina” começaram agora. Em agosto, a notícia de que Cristina Ferreira estava a caminho da SIC depressa animou os investidores e os títulos da Impresa dispararam. 

Na manhã de 23 de agosto do ano passado, a palavra de ordem era a forte liquidez das ações do grupo. Em pouco mais de uma hora de transação na bolsa nacional, trocaram de mãos mais de 400 mil ações.