O êxito de “Bohemian Rhapsody” joga-se a três dimensões. É um êxito de bilheteira e prémios. Já gerou cerca de 600 milhões de euros de receita, 45 dos quais para Mary Austin, a ex-noiva de Freddie Mercury e primeira herdeira, a quem a voz absoluta dos Queen deixou metade dos bens, que incluíam a mansão e os direitos de autor de toda a sua obra. Foi o grande vencedor dos Globos de Ouro ao arrecadar os prémios de Melhor Filme e de Melhor Ator para Rami Malek. Está ainda nomeado para cinco Óscares, entre os quais as categorias arrebatadas nos Globos de Ouro.
“Bohemian Rhapsody” arrisca-se a ser o “filme do ano”, mas apenas para o público. Destroçado pela crítica, foi arrasado em quase todas as publicações especializadas por seguir uma espécie de narrativa da Wikipédia, por contornar os temas mais controversos da vida de Freddie Mercury, como a homossexualidade, e por valorizar antes a música dos Queen, descentrando a história do protagonista – Brian May e Roger Taylor foram produtores executivos. O recurso à música faz de “Bohemian Rhapsody” um filme sobre “uma das maiores bandas de rock de sempre”, e não sobre as incertezas e fragilidades do seu ícone maior. Essa opção fez com que milhares de pessoas corressem aos cinemas atrás da experiência com os Queen que não puderam ter ou repetir.
E tem polémica a atravessá-lo. Sacha Baron Cohen, ou Borat, foi a primeira escolha para o papel principal, mas divergências com a banda provocaram o abandono do projeto. Bryan Singer foi o realizador responsável pelo parto do filme, mas acabou por ser afastado após meses de filmagens. Seria Dexter Fletcher a finalizar a produção. No final do ano passado, Singer seria mesmo acusado de abusar sexualmente de um rapaz de 17 anos. O filme seria retirado dos nomeados para os prémios GLAAD, que representam e celebram a cultura LGBT. Nas entrelinhas, Rami Malek deixou entender problemas com o realizador durante o processo. “Foi desagradável e mais não digo”, comentou sobre a experiência com Singer.
De olhares sobre as vidas de Bob Dylan em “Não Estou Aí” de Todd Haynes, de Ian Curtis em “Control” de Anton Corbijn, de James Brown em “Get On Up” ou de Amy Winehouse em “Amy”, à leitura interpretativa de Gus Van Sant para o fim da vida de Kurt Cobain em “Last Days”, filmes sobre bandas como os N.W.A em “Straight Outta Compton”, ou movimentos artísticos – “Velvet Goldmine”, o retrato do glam pela câmara de Todd Haynes -, o que não falta à história do cinema é música (documentada ou ficcionada) para além das bandas sonoras, mas “Bohemian Rhapsody” abriu um precedente confirmado pelo plano de estreias deste e do próximo ano.
Em maio chegará às salas “Rocket Man”, o filme que rouba o nome a um dos maiores êxitos de Elton John, encarnado no cinema por Taron Egerton. O biopic foi anunciado em 2012 e passou por diferentes fases e atores, mas só foi assumido em definitivo quando Egerton foi escolhido para o papel principal e Dexter Fletcher para realizador.
A curta tradição de filmes deste género no cinema português (há “Amália”, de 2008, e um filme-documentário de Anselmo Ralph) será interrompida este ano com a estreia do há muito adiado “Variações”, de João Maia, com Sérgio Praia.
Antes, em março, a vida de sexo, drogas e rock’n’roll dos Motley Crue chegará ao Netflix. “The Dirt: Confessions of the World’s Most Notorious Rock Band” promete espreitar pelo buraco da fechadura dos camarins da banda americana. A história é baseada no livro “The Dirt: Confessions of the World’s Most Notorious Rock Band”, um dos mais transparentes e inacreditáveis relatos do circo – um cocktail de drogas, ressacas, groupies e maquilhagem.
Sem consentimento da família Jones, e por isso não oficial, um filme sobre a primeira digressão de David Bowie está em produção. O ator está encontrado, Johnny Flynn, mas a música de Bowie não será ouvida na obra, confirmou o filho Duncan Jones. Para a Salon Pictures, “não é um filme biográfico mas um ponto de viragem na carreira”. E depois de ter afundado o Titanic em “My Heart Will Go On”, canção vencedora do Óscar em 1998, também Céline Dion terá direito a um filme de vida. “The Power Of Love” já recebeu autorização e estreia-se em 2020.