1. Já não restam dúvidas de que António Costa é um verdadeiro artista, no sentido mais pejorativo do termo. De facto, ele tem uma arte não tão invulgar (infelizmente) na política portuguesa: a habilidade ilimitada para deturpar factos, para criar e vender ilusões, para dar o dito por não dito, para fugir às suas responsabilidades quando a realidade não lhe convém. António Costa adora o poder e julga que tem um direito natural a mandar nos portugueses –pela sua genealogia, pelo sentimento de impunidade com que sempre viveu, contando com a colaboração da generalidade da comunicação social e o silêncio cúmplice da oposição que foi engenhosamente comprando (vide o que sucedeu na Câmara Municipal de Lisboa, criando aí um pântano rosa que um dia será revelado em toda a sua extensão…).
2. Há um indicador económico positivo? O mérito só pode ser de António Costa e do seu governo! A geringonça funciona – proclamam os arautos do casamento entre o PS dos interesses e a esquerda radical. A balança comercial melhorou? Obra de António Costa – no tempo de Passos Coelho era tudo horrível! O desemprego caiu, embora os postos de trabalho criados sejam temporários e mal remunerados? Não interessa – trabalho mal remunerado é trabalho, é o único trabalho que a economia portuguesa pode criar, como admitiu esse mago da justiça social que é Jorge Coelho. Habituem-se! Ora, se até emprego sem condições e com salários miseráveis é bom, de quem é o mérito? De quem? Vá lá… de António Costa, pois claro! Ah, que maravilha é o Portugal de Costa! Ah, é um tempo novo! Ah, é um país novo – António Costa, o fundador-salvador da nação! Esqueçam D. Afonso Henriques: decorem antes o nome de António Costa, o homem que fundou Portugal! Antes de Costa, Portugal era apenas um pequeno condado liderado pelos bárbaros “não socialistas”!
3. Então e os incêndios que vitimaram centenas de nossos compatriotas? A culpa é da malandra da Altice; o Costa até já mudou de operadora lá na sua casa… que líder! Assalto em Tancos? É uma inventona da direita! Ataques à polícia e ameaças à ordem pública? Isso é a extrema-direita! Problemas na Proteção Civil? Isso é culpa do governo anterior! Ou melhor: a culpa é do povo português! No fundo, o povo português é o verdadeiro responsável pelo facto de António Costa não brilhar tanto como a sua genialidade política (que ele acredita ter) imporia…Se os portugueses não ficassem doentes, não precisassem de utilizar os serviços de saúde, não cometessem essa suprema blasfémia que é desafiar a capacidade realizadora dos (anti)social-costistas, António Costa teria uma vida de sonho. A vida com que sonhou desde pequenino: ser o “Primeiro-Ministro Sol”, um verdadeiro aprendiz de déspota! É assim: os (anti)social–costistas (que traíram o legado histórico dos socialistas portugueses) amam o povo enquanto entidade abstrata; desprezam, todavia, o povo enquanto entidade concreta, com problemas concretos e com exigências reais (e não à medida das conveniências da realidade alternativa costista).
4. Pois bem, a última tirada do nosso primeiro-ministro obcecado pelo poder absoluto consistiu em qualificar a greve anunciada da classe profissional dos enfermeiros como “ilegal” e “selvagem”. E a comunicação social maioritária colocou-se (não surpreendentemente) ao lado da narrativa oficial governativa. Eis, pois, mais uma demonstração inequívoca dos média do sistema: acaso fosse alguém do centro-direita a proferir tal declaração, teríamos debates intermináveis (quase como se o VAR se enganasse…) acerca do feitio antidemocrático e opressor dos trabalhadores do primeiro-ministro; mas como se trata de António Costa, não há problema algum. É a regra do jornalismo português atual: Costa can do no wrong – há, portanto, que o proteger. Mais uma originalidade do Portugal geringonçado: aqueles que deveriam controlar o poder político são precisamente aqueles que controlam a opinião pública para proteger o poder político (anti)social-costista. Os jornalistas – com honrosas exceções, claro – abdicaram da sua função social para assumirem a sua paixão pela esquerda radical. Dito isto, devemos aqui confessar que nós (e cada vez mais e mais portugueses, dia após dia) é que consideramos que António Costa é um primeiro-ministro “ilegal e “selvagem”.
5. Ilegal, porque conquistou o poder ignorando a vontade maioritária dos portugueses (o voto na PàF foi também um voto anti-Costa, ao passo que um voto no PCP e no BE não foi um voto pró-Costa para primeiro-ministro) e quebrando costumes e práticas constitucionais que integram a própria Constituição política material – donde, é um primeiro-ministro ferido de uma ilegalidade qualificada, que é a inconstitucionalidade. Por muito que o sistema queira criar a narrativa de que a chegada de António Costa foi o funcionamento natural do parlamentarismo, nós não nos calaremos – muito menos esqueceremos. Reiteramos: a História, um dia (mais perto do que se julga), condenará a loucura pelo poder de António Costa, registando o quão prejudicial foi (e será, porque as marcas ficarão…) para os portugueses. É ver o regabofe de nomeações de boys e girls socialistas (melhor: de amigos de António Costa) para tudo o que é lugarezinhos na administração pública. Tem sido verdadeiramente… selvagem a corrida ao “tacho rosinha”.
6. Por outro lado, António Costa tem sido um primeiro-ministro selvagem: selvagem, porque impôs (com sorrisinhos e falsos afetos) uma carga fiscal selvagem que onera as famílias e as empresas portuguesas; selvagem, porque utiliza os serviços públicos essenciais (como a saúde e a educação) para distribuir benesses pelos amigos e pela extrema-esquerda, prejudicando a respetiva qualidade; selvagem, porque, por detrás de uma narrativa assente no objetivo de justiça social, tem ido muito para além da troika na execução de uma política de austeridade desumana. Como referiu a nova ministra da Saúde, Marta Temido, se algum português morrer, paciência – enterram–se os mortos (mas atenção: o funeral é pago pelos familiares ou, tenham paciência, não haverá; a Segurança Social não pagará ou dirá que paga, adiando-se, todavia, sucessivamente o pagamento até qualquer dia…) e tenta-se cuidar de alguns vivos… Enfim, António Costa – o homem da selvajaria suprema que é cativar o futuro de Portugal, matando o Estado social para proteger o Estado socialista.
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Escreve à terça-feira