Joana Amaral Dias anunciou nas redes sociais que iria divulgar uma bomba e revelou depois a auditoria à Caixa Geral de Depósitos. Acha que havia falta de vontade de divulgar essas informações?
Certamente porque esse relatório passou pelas mãos de muitas pessoas. A versão definitiva foi entregue em agosto de 2018 e, por alguma razão, o regulador não a divulgou, o governo não a quis ver, os deputados não tiveram acesso. Como é que isto é justificável?
Mas agora a polémica anda à volta do facto de o relatório ser preliminar e não definitivo…
Isso não existe. Aconselho cuidado e caldos de galinha a quem diz isso porque uma das coisas que justamente o Ministério Público está a investigar é o ocultamento do passivo e das imparidades e a tentativa de branqueamento das contas do banco. A informação a que tenho acesso – além de ter acesso ao relatório também tenho acesso a outra informação – é que o relatório final, pelo menos na altura que foi entregue, não diferia em nada substantivo dessa versão.
Os valores não diferem muito?
Acha? Então como é que as pessoas que dizem isso vão justificar os seis mil milhões de euros que foram injetados desde 2012 na Caixa Geral de Depósitos? Vão justificar com que razão? Injetámos mais ou menos 20 mil milhões de euros na banca nos últimos dez anos; destes, seis mil milhões de euros foram para a Caixa. Recordo que, em 2012, a Caixa não fez parte do escrutínio da troika e logo nesse ano foram injetados pelo governo de Pedro Passos Coelho 1,5 mil milhões de euros sem qualquer auditoria. Agora não há imparidades no banco? Vão justificar esses 6 mil milhões como? E esta auditoria da EY é de 2000 a 2015 porque é óbvio que antes de 2000 exatamente a mesma promiscuidade se passou na Caixa Geral de Depósitos, não há dúvidas. Teve momentos melhores, teve momentos piores, talvez este momento tenha sido pior, sobretudo depois de 2005, mas isso não foi um vírus ou um bug do milénio. A Caixa sempre foi este poço sem fundo, serviu como braço forte do poder político para basicamente comprar aliados, para arquitetar uma perigosa rede clientelar que contribui para que Portugal seja campeão da corrupção.
Leia a entrevista na íntegra na edição de fim de semana do i, já nas bancas