Sol na eira


E chuva no nabal. Aprendemos em pequenitos, quando olhamos ao mundo de tanta coisa e não percebemos no imediato que não há braços para tanto. Ou raios de sol, ou pingos de chuva, passa assim esta sentença por ser uma das primeiras ciências de vida que nos entalham na alma. Quem diz na alma diz…


E chuva no nabal.

Aprendemos em pequenitos, quando olhamos ao mundo de tanta coisa e não percebemos no imediato que não há braços para tanto.

Ou raios de sol, ou pingos de chuva, passa assim esta sentença por ser uma das primeiras ciências de vida que nos entalham na alma.

Quem diz na alma diz no querer.

Em Espanha, menos dados a eiras e ao nabal dizendo nada, o povo ganha consciência da fatalidade opcional tão certa como o destino quando lhe despem a ilusão de poder ‘”estar en misa y en procesión y tocar la campana”.

Chegados aqui, perguntar-se-á o leitor o porquê do esclarecimento acerca de eiras, missas e procissões.

E nós, cujo empenho e missão é somente e apenas a de lhes ir levando um pouco mais do nosso Oliveira, de batismo Miguel e com o 88 nas pistas, nós dir-lhe-emos então que nem sempre o provérbio se veste de inteiras exatidões.

Ou seja, pode por vezes ser dia de sol e chuva, pode por vezes estar-se na missa e tocar-se o sino.

Ou, o que para o caso mais nos interessa, pode o querer ser tanto que chegar ao topo num mundo de sobredotados não implique abdicar de outras ambições.

Ao sol na eira das pistas, das retas a mais de 300 quilómetros por hora e de ultrapassagens de ombro quase no chão, juntou o nosso Falcão a chuva no nabal vitamínico trazido nos livros da faculdade, chegando à inegável e naturalmente admirada missão da prática da medicina, neste seu caso a dentária.

Recordo, e porque falamos de excelência atingida no desporto e no consultório, recordo então Hugo Sánchez, goleador emérito no Real Madrid e inimigo declarado das cáries como o nosso Miguel.

Se na sua tese de doutoramento abordou o mexicano Hugo as Patologías de Glándulas de la Cavidad Oral e, ainda assim, não perdeu o tino nem o faro para o golo, porque haveríamos de duvidar que o Falcão haverá de saber conjugar semelhantes intervenções médicas e trajetórias de vertiginosas velocidades?

Aqui, em todo este ramerrame, interessa- -nos apenas exaltar e agradecer a quem nos mostrou que nem sempre o sol, a chuva, as eiras e nabais, mais as missas e as procissões, consoante se esteja mais para Elvas ou mais para Badajoz, sejam coisas impossíveis de casar.

E se de Espanha nem bom vento nem bom casamento, já de Almada parece chegar-nos bom sol, boa chuva e alma até Almeida.