O que veem os turistas


Muito tem girado em torno da imagem do país que se quer projetar para fora, por exemplo de Lisboa. Só assim se percebe que o alojamento turístico tenha crescido sem que o rasto de despejos e lixo fosse acautelado. Ou que vontades dos moradores fossem sendo relegadas para segundo plano. As obras no Miradouro de…


Muito tem girado em torno da imagem do país que se quer projetar para fora, por exemplo de Lisboa. Só assim se percebe que o alojamento turístico tenha crescido sem que o rasto de despejos e lixo fosse acautelado. Ou que vontades dos moradores fossem sendo relegadas para segundo plano. As obras no Miradouro de Santa Catarina, hoje vedado, são um dos exemplos da cidade em tensão. Se há quem veja com bons olhos uma limpeza da zona – os jambés e afins incomodavam e podiam afastar clientela -, outros falam de mais um exemplo de expropriação de espaço público em prol de interesses privados. No Martim Moniz, pedidos de moradores para que a praça dê lugar a uma zona verde e de usufruto público, e não a contentores comerciais, parecem estar a ser ignorados pela autarquia, que concessionou o espaço, entregando a uma empresa o planeamento urbano. Segundo “O Corvo”, a Associação Renovar a Mouraria está a convocar uma manifestação para o próximo sábado. O desígnio de que há uma certa imagem a construir, pelo que pode trazer de investimento, surge nas coisas mais simples. Ontem, num comunicado da ASAE sobre uma fiscalização a restaurantes e rulotes em bairros históricos, podia ler-se que este tipo de ações irão manter-se “nos restantes bairros da capital lisboeta, que acolhem os turistas que nos visitam, de forma a garantir a leal e sã concorrência entre os operadores económicos do setor, promovendo-se assim a defesa do consumidor.” Os moradores dos bairros históricos não comem fora…

É bom ter presente que os turistas também veem: veem a Lisboa “disneyficada”, verão o protesto no Martim Moniz. Como relatou na semana passada uma reportagem na “Vice”, veem pessoas a consumir na rua para lá das fachadas arranjadas do Intendente. Este fim de semana viram um negro a ser imobilizado por quatro agentes da PSP e não pararam de gravar. Depois dos acontecimentos da semana passada, fizeram a ligação. Justa ou não – a polícia assegura que houve proporcionalidade estando em causa o crime de tráfico -, é a imagem que levam. “Sabes o que é isto? Racismo (…) É assim em todo o mundo, é horrível.” Entre o país que queremos parecer e o que somos vai uma diferença, maior ou mais pequena, mas que não passa despercebida. 
 

O que veem os turistas


Muito tem girado em torno da imagem do país que se quer projetar para fora, por exemplo de Lisboa. Só assim se percebe que o alojamento turístico tenha crescido sem que o rasto de despejos e lixo fosse acautelado. Ou que vontades dos moradores fossem sendo relegadas para segundo plano. As obras no Miradouro de…


Muito tem girado em torno da imagem do país que se quer projetar para fora, por exemplo de Lisboa. Só assim se percebe que o alojamento turístico tenha crescido sem que o rasto de despejos e lixo fosse acautelado. Ou que vontades dos moradores fossem sendo relegadas para segundo plano. As obras no Miradouro de Santa Catarina, hoje vedado, são um dos exemplos da cidade em tensão. Se há quem veja com bons olhos uma limpeza da zona – os jambés e afins incomodavam e podiam afastar clientela -, outros falam de mais um exemplo de expropriação de espaço público em prol de interesses privados. No Martim Moniz, pedidos de moradores para que a praça dê lugar a uma zona verde e de usufruto público, e não a contentores comerciais, parecem estar a ser ignorados pela autarquia, que concessionou o espaço, entregando a uma empresa o planeamento urbano. Segundo “O Corvo”, a Associação Renovar a Mouraria está a convocar uma manifestação para o próximo sábado. O desígnio de que há uma certa imagem a construir, pelo que pode trazer de investimento, surge nas coisas mais simples. Ontem, num comunicado da ASAE sobre uma fiscalização a restaurantes e rulotes em bairros históricos, podia ler-se que este tipo de ações irão manter-se “nos restantes bairros da capital lisboeta, que acolhem os turistas que nos visitam, de forma a garantir a leal e sã concorrência entre os operadores económicos do setor, promovendo-se assim a defesa do consumidor.” Os moradores dos bairros históricos não comem fora…

É bom ter presente que os turistas também veem: veem a Lisboa “disneyficada”, verão o protesto no Martim Moniz. Como relatou na semana passada uma reportagem na “Vice”, veem pessoas a consumir na rua para lá das fachadas arranjadas do Intendente. Este fim de semana viram um negro a ser imobilizado por quatro agentes da PSP e não pararam de gravar. Depois dos acontecimentos da semana passada, fizeram a ligação. Justa ou não – a polícia assegura que houve proporcionalidade estando em causa o crime de tráfico -, é a imagem que levam. “Sabes o que é isto? Racismo (…) É assim em todo o mundo, é horrível.” Entre o país que queremos parecer e o que somos vai uma diferença, maior ou mais pequena, mas que não passa despercebida.