1. Não, não é, sr. António Costa – o que é mau para si, pois se a absoluta falta de caráter fosse explicada por razões congénitas, teria aí um elemento atenuante da culpa. Não, a sua falta de caráter é mesmo uma opção pessoal deliberada: António Costa julga que está acima (e imune) de qualquer juízo sobre o bem e o mal, sobre a decência e a (sua) indecência. O atual primeiro-ministro (alguém com um défice de caráter tão acentuado ter ocupado praticamente todos os cargos políticos relevantes da República é algo que nos deve levar a refletir sobre a saúde do sistema político português) julga que todas as críticas que progressivamente mais portugueses lhe dirigem resvalam sempre na couraça da indiferença geral. Para isso, António Costa conta com a conivência e a ajuda – silente, discreta, mas muitíssimo eficaz – do aparelho do sistema, composto essencialmente pelos interesses especiais (vide relatório da CGD – é um exemplo paradigmático!) e a maioria da comunicação social que lhes presta vassalagem.
2. Efetivamente, António Costa, que à falta de caráter junta a sua esperteza sofisticada de controlo absoluto do poder, confia que a comunicação social vai carregá-lo ao colo duradouramente, promovendo a sua estadia no Palácio de São Bento por mais dois ou três anos – ao que se seguirá a sua marcha triunfal para a Presidência da República. Pronto, é assim que funciona a democracia portuguesa: o sistema já decidiu que teremos António Costa como primeiro-ministro mais três anos e depois lá o aguentaremos como Presidente da República. Pelo meio, claro, o sistema já deliberou que Marcelo Rebelo de Sousa continuará como Presidente, aquecendo o lugar para o douto, infalível e “vítima” da sua tez António Costa – ah, e terão de realizar umas formalidades aborrecidas chamadas eleições no ínterim (enfim, para dar a sensação que isto ainda é uma democracia e para o povo manter a ilusão de que ainda manda alguma coisa, tem de ser…). Desta forma, o nosso ilustre e “caráter-free” primeiro-ministro convenceu-se de que poderá recorrer às habilidades mais rascas, aos truques políticos mais repugnantes e aos exercícios de stand-up comedy mais desastrados, que nada – absolutamente nada! – lhe acontece.
3. E foi assim que António Costa, em resposta a interpelação de Assunção Cristas sobre os acontecimentos do Bairro da Jamaica, respondeu que tal questão só poderia ser motivada pela… cor da sua pele. Antes de prosseguirmos, convém esclarecer que, acaso o nosso caríssimo(a) leitor(a) tenha achado o título da presente prosa estúpido, anunciamos desde já que estamos em plena sintonia: o próprio autor o reconhece. No entanto, o título é estúpido (pedimos desculpa: não há outro adjetivo que o caracterize com a exatidão que se impõe) porque a frase de António Costa foi simplesmente… estúpida. Apraz-nos, portanto, saber que estamos todos de acordo: da esquerda à direita, apoiantes ou críticos do governo, qualificamos em uníssono a atitude do primeiro-ministro como verdadeiramente deplorável. Porque, afinal de contas, esta não é uma questão de fratura entre quadrantes políticos ou simpatias partidárias: é apenas uma divisão entre decência e indecência políticas. Só mesmo António Costa e os seus mais fanáticos correligionários é que ficaram, orgulhosamente sós, no lado da indecência.
4. Cumpre, no entanto, ressalvar que António Costa não se socorreu de uma frase tão indecente quanto estúpida por um mero gesto de improviso ou de tontaria política. Não: a frase foi premeditada e aconselhada pelos (inúmeros) assessores do primeiro-ministro. Há uma racionalidade política subjacente à tentativa costista de se fingir vítima de racismo. Efetivamente, António Costa tentou (e não terá conseguido?) fazer spinning, evitando uma questão delicada para o seu governo e para a paz (sempre podre) entre a extrema-esquerda e o extremo-PS. Por um lado, ao jogar a carta da cor da pele, o primeiro-ministro sem caráter Costa pretendeu responder à pergunta sem responder. É o equivalente parlamentar a ir de férias para Palma de Maiorca quando o país se confronta com o terrível flagelo de incêndios florestais que ceifam vidas de cidadãos portugueses (ah, esperem… foi o que o mesmo António Costa fez em 2017!). No fundo, é utilizar a estratégia que o BE seguiu no rescaldo das declarações do seu assessor contra a polícia: virar o jogo contra aqueles que o criticam. Os dirigentes do “Balelas de Esquerda” utilizaram a carta da perseguição, do risco para as suas vidas, porque eles são “santinhos” e os outros todos são “diabinhos”; António Costa utilizou a carta da cor da pele.
5. Conclusão: ignoraram a discussão essencial sobre se não haverá um problema de inclusão social neste paraíso geringonçado; sobre se é legítimo um assessor da Assembleia da República qualificar como “bosta” as forças de segurança da …mesma República; e ainda – cereja no topo do bolo – alimentam a narrativa de que são a voz dos oprimidos contra os “torturadores” da sociedade e do Estado. Por outro lado, António Costa pretendeu mudar o tom da discussão mediática: ao invés de se discutir os acontecimentos do Bairro da Jamaica e de se criar situações embaraçosas para o governo, o primeiro-ministro visou criar um facto político-comunicacional, focando o debate no absurdo das suas declarações, à espera que o BE e os jornalistas que o sustentam viessem em seu auxílio.
6. Quem são as vítimas reais da “vítima fingida” António Costa e das suas patéticas afirmações? Os profissionais da polícia portuguesa, que ficaram a saber que o seu governo não os protege e os condena sumariamente, se necessário for, para manter a narrativa política esquerdista; as verdadeiras vítimas de racismo (porque as há, infelizmente, no nosso país), que viram o seu sofrimento caricaturado e, logo, ridicularizado pelo primeiro-ministro da nação; terceiro, a ordem pública, pois, a partir de agora, vamos assistir a uma sucessão de vídeos, de declarações, de incitamento ao caos nas ruas e ao confronto com a polícia com o apoio (explícito ou implícito) do BE e de alguns setores do PS. Fica mais uma vez demonstrado que António Costa carece de fibra moral para ser primeiro-ministro de Portugal.
joaolemosesteves@gmail.com
Escreve à terça-feira