Jornadas Mundiais da Juventude. “Achava que não era uma coisa possível” em Portugal

Jornadas Mundiais da Juventude. “Achava que não era uma coisa possível” em Portugal


Padre Edgar Clara disse ao i que nunca pensou ser possível Portugal acolher este evento. Contudo, considerou que será “uma explosão de alegria” para todos


É oficial: Portugal vai receber as Jornadas Mundiais da Juventude em 2022. O anúncio foi feito ontem pelo Papa Francisco na Cidade do Panamá – local que acolheu as Jornadas Mundiais da Juventude deste ano. O cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, que esteve presente no evento, recebeu, como gesto simbólico de passagem de testemunho, a Cruz das Jornadas.

Contactado pelo i, o padre Edgar Clara disse que desde 1997 tem percorrido quase todas as jornadas e esta “era sempre das coisas que achava impossível acontecerem”.

“Esta experiência marcou imenso a minha vida. Achava que não era uma coisa possível mas, na realidade, tornou-se possível receber as jornadas. Uma coisa é nós estarmos da parte das cidades que usufruem disto, outra coisa é estarmos da parte das cidades que organizam”, adiantou.

Questionado sobre o facto de Lisboa estar apta para receber um evento desta dimensão, admitiu que “nenhuma cidade está” porque têm de adaptar a realidade do dia-a-dia à chegada de muitos milhares de jovens. Vai ser “imensa gente a querer andar durante uma semana” nos transportes públicos, a conhecer a cidade… Contudo, o responsável não vê o cenário como algo negativo, porque esta é a parte “engraçada” deste evento. “As filas de espera fazem com que se possa conhecer outros jovens de outros países do mundo”, completou.

Quanto à organização do evento, o padre Edgar Clara explicou que virão equipas de outros países para Portugal para começarem a organizar tudo com tempo e que cada país adapta a organização do evento “à sua maneira”.

O responsável explicou ainda que as jornadas começam a ser preparadas com três anos de antecedência. Já estão a ser pensados os sítios e as equipas que deverão estar presentes porque é preciso “assegurar entradas e saídas de transportes”. 

Já as inscrições só abrem um ano antes das jornadas. Os preços variam de país para país. “Lembro-me que da última vez custou 300 euros, em Cracóvia. Trezentos euros com tudo incluído – almoço, jantar e transportes, porque temos um passe com que podemos andar em todos os transportes”, disse o padre Edgar Clara. Quanto ao alojamento, geralmente, os jovens ficam em casas de famílias que se voluntariam para os receber ou então dormem em escolas ou associações. Já para garantir a alimentação, alguns restaurantes aderem à “senha do peregrino”, um talão que permite aos participantes no evento terem acesso a um menu de refeição mais barato.

O que experienciámos ali é “uma explosão de alegria”, disse o sacerdote, acrescentando que essa alegria é sentida não só pelos que participam, mas também pela cidade que os acolhe.

Impacto económico Já há muito tempo que se falava no facto de Portugal vir a ser o país escolhido para acolher este evento em 2022. No início de dezembro, o site Religionline já se tinha antecipado e revelado que Lisboa iria acolher as Jornadas Mundiais da Juventude daqui a três anos. As expectativas cresceram quando várias figuras políticas – como Marcelo Rebelo de Sousa, Fernando Medina, o secretário de Estado da Juventude e do Desporto e o cardeal–patriarca de Lisboa – voaram para o Panamá para marcar presença no evento. 

Agora que o anúncio é oficial, Portugal tem um longo caminho pela frente e não se pode esquecer do impacto económico que um evento deste calibre irá provocar.

Em 2011, quando acolheu o evento, Espanha registou um impacto económico de mais de 350 milhões de euros. De acordo com a auditoria da PricewaterhouseCoopers (PWC) Economics, foram investidos 50 milhões de euros – só 25 milhões no setor hoteleiro. Foram criados mais de quatro mil empregos e quase 90% dos peregrinos não residentes confirmaram que voltariam a visitar Espanha.

Já no Brasil, em 2013, o Ministério do Turismo daquele país revelou que o evento originou um impacto positivo de 595 milhões de euros.

Para o Panamá, que acolheu o evento este ano, é esperado um impacto de cerca de 283 milhões de euros, depois de um investimento de 79 milhões. Roberto Alfaro Estripeaut, diretor do Comité das Jornadas Mundiais da Juventude, explicou que os gastos dos peregrinos pagarão mais de metade do total investido. Esperam-se ainda impactos positivos no turismo do país.

Em Portugal, o evento irá realizar-se no Parque Tejo, no Parque das Nações – que em 2017 começou a ser alvo de um projeto de reabilitação, esperando o presidente da Câmara de Loures , segundo declarações ao “Público”, que o anúncio de ontem acelere a criação de um “corredor pedonal que ligue Vila Franca de Xira ao Guincho”, através de uma ponte sobre o rio Trancão -, afastando, de vez, os contentores da zona da Bobadela.

Reações Depois do anúncio do Papa Francisco, Marcelo Rebelo de Sousa disse estar a sentir uma “alegria incontida”. “É uma alegria incontida e é começar a sonhar já e a projetar o que se vai passar daqui a três anos e meio”, afirmou. 

Marcelo considerou também que o facto de Portugal ser o segundo país lusófono a receber este evento – depois do Brasil em 2013 – é “o reconhecimento do peso da lusofonia, do mundo que fala português”. “E, ao mesmo tempo, o peso de Portugal, o peso de Fátima, o peso do povo católico português (…) Mas eu não escondo que a lusofonia e o falar-se português e o estar-se presente em todos os continentes em todo o mundo pesou na luta que foi muito difícil com outros candidatos a estas jornadas de 2022”, acrescentou.

António Costa também se manifestou sobre as notícias de ontem. O primeiro-ministro disse que irá dar “todo o apoio” para assegurar que as jornadas são um sucesso. “Felicito o Patriarcado de Lisboa pelo excelente trabalho desenvolvido em estreita colaboração com o Município de Lisboa para que Portugal acolha em 2022 as Jornadas Mundiais da Juventude, expressando ao Pontífice a nossa gratidão pela Sua escolha”, escreveu Costa no seu Twitter.