A situação atual da Venezuela deixa em sobressalto países que, como Portugal, têm já uma relação longa com o país. Os alarmes económicos soaram quando se assistiu a uma quebra da produção de petróleo ao atingir mínimos de 30 anos. O país possui as maiores reservas do mundo (17,9%), passando à frente da Arábia Saudita (15,7%), Canadá (10,0%) e Irão (9,3%), segundo os últimos dados do grupo petrolífero britânico BP.
Portugal está no topo da tabela dos clientes da Venezuela, em 28.º lugar, uma posição que têm vindo a adquirir ao longo dos últimos anos. Já como fornecedor do país sul-americano, Portugal tem vindo a perder peso, situando-se agora como o 40.º país mais importante, quando em 2017 estava em 23.º lugar.
No entanto, de acordo com dados da dados da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) e do INE, as relações económicas com a Venezuela estão com sinal vermelho. Entre janeiro e novembro, o total das importações, decresceu 54,2% face ao mesmo período de 2017. O mesmo aconteceu com as importações que, durante este período, decresceram pouco mais de 54%.
Aprofundando estes resultados, a madeira e cortiça são os principais produtos importados da Venezuela com um crescimento de 500% entre 2017 e 2018. Produtos agrícolas como tâmaras, figos, mangas, entre outros, e matérias têxteis cresceram mais de 100%. Por outro lado, produtos como peles e couro, maquinas e aparelhos, minerais e minérios diminuíram.
Já as exportações, o maior decréscimo verificou-se nas mateiras têxteis, calçado e químicos, como medicamentos, ao passo que as pastas celulósicas e papel registaram um aumento de 839%.
Já em março do ano passado, vice-presidente da Venezuela, Tarek El Aissami, informou que o país iria deixar alguns produtos básicos como o arroz e o açúcar, por forma a impulsionar a produção local.
Além dos números A relação já duradoura entre estes dois países tem sofrido altos e baixos. Se este ano, Nicolás Maduro confirmou a chegada do pernil de natal, o ano passado os problemas com a falta de carne de porco para cumprir a tradição venezuelana valeu a Portugal uma acusação de sabotagem. “O que se passou com o pernil? Fomos sabotados e posso dizer de um país em particular, Portugal”, disse na altura, Maduro que aproveitou para acusar os portugueses de terem medo dos norte-americanos. Esta foi a última grande desavença entre os dois países, com Augusto Santos Silva a afirmar que “o governo português não exporta pernil de porco, nem para a Venezuela, nem para nenhum país do mundo”.
E, embora ninguém esqueça o abraço entre Maduro e Paulo Portas, o antigo ministro dos negócios estrangeiros português tinha uma relação mais próxima com Hugo Chávez. À data da sua morte, lembrou-o como “amigo de Portugal” e não esqueceu o respeito que este tinha para com a comunidade portuguesa e as relações económicas com Portugal.
Antes, ainda com Hugo Chávez na presidência do país sul-americano, Sócrates e o famoso computador Magalhães ficaram conhecidos na Venezuela.
Computadores que, até 2016, foram distribuídos gratuitamente por mais de cinco milhões de crianças. Um projeto de educação venezuelano que começou em 2008. Este foi um acordo assinado durante o governo do antigo primeiro-ministro, José Sócrates. “É um verdadeiro computador que aguenta bombardeamentos”, chegou a afirmar Chávez.
Numa visita a Portugal, ainda em 2008, Chávez mostrou-se bem disposto e brincou inclusivamente com o nome de Manuel Pinho, ministro da Economia e da Inovação e de Mário Lino, ministro das Obras Públicas: “Pino e Lino, Lino e Pino”.
Menos sorridente foi o episódio de 2006, quando o antigo presidente venezuelano se viu obrigado a pedir desculpas a José Sócrates, depois de usar uma fotografia tirada ao seu lado para a campanha eleitoral que viria a vencer com 48% dos votos.
Desencontros à parte, a relação entre os dois antigos líderes começou quando Mário Soares apresentou Hugo Chavéz a Sócrates e descreveu o líder venezuelano como um “homem bom” que “nunca foi ditador”.