A perigosa linha que se pisou


Existem focos racistas? Claro que sim, e infelizmente por todo o lado. Mas não é esta a causa do fenómeno. Atirar com a brutalidade policial também é errado. A polícia portuguesa é, na generalidade, bem preparada e cumpre com distinção as suas funções


Esta semana, Portugal foi surpreendido pelos desacatos no Bairro da Jamaica, no Seixal. Até aqui, tudo normal – inaceitável, naturalmente, mas não é caso isolado e são inúmeros os episódios a que já assistimos ao longo dos últimos anos.

Basta lembrar os distúrbios em Loures ou na Amadora, tendo em comum o facto de se registarem na periferia da capital e de envolverem forças policiais que, em última análise, existem também para manter a ordem.

A grande diferença reside no facto de este último ter resvalado para o centro da capital, a fazer lembrar os episódios de 2005, em Paris.

E porque escalou desta forma? A resposta poderá estar no aproveitamento político que o reduz a uma questão racial e de brutalidade policial, o que é totalmente inqualificável.

O assunto não é racial. Portugal é um país bastante progressista que tem na sua base a multiculturalidade e o multirracialismo. Existem focos racistas? Claro que sim, e infelizmente por todo o lado. Mas não é esta a causa do fenómeno. 

Atirar com a brutalidade policial também é errado. A polícia portuguesa é, na generalidade, bem preparada e cumpre com distinção as suas funções. Faltam recursos e formação? Faltarão sempre! Por isso é importante que os partidos percebam que investir, permanentemente, em meios das forças de segurança, mas sobretudo nos homens e mulheres que as integram, é essencial, e não um tique pidesco.

Utilizar estes dois argumentos para fazer jogo político é perigoso e não é para isso que os nossos impostos pagam os salários dos políticos.

Não é aceitável que dirigentes políticos se aproveitem de um tema como este para ações populistas de arrebanho de votos, ao invés de fazerem aquilo para que foram eleitos: estudar, analisar e propor soluções para os reais problemas do país. 

É deplorável a forma como o Bloco tenta reduzir o tema à questão racial e à brutalidade policial. É mais fácil, eu compreendo, e em pré-campanha vale sempre mais uns votos. Mas é profundamente errado, extremamente perigoso, superficial e irresponsável.

Para Joana Mortágua, tudo se resume à “violência gratuita da PSP”, a “4 minutos de desespero completo” e “que sintetizam a violência policial e o racismo neste país”. Termina a sua brilhante análise com a garantia de que o Bloco irá “exigir responsabilidades”.

Não a conheço pessoalmente, mas tenho bastante respeito intelectual pela deputada bloquista. Pelo que já fez e demonstrou ter capacidade para fazer. Mas reduzir este fenómeno à questão racial e à violência policial é uma irresponsabilidade e, acima de tudo, é pisar uma linha muito perigosa.

É não ter noção das consequências do que se disse e que só potenciam mais violência. É olhar apenas o aproveitamento político, quando o que deveria fazer era tentar perceber como combater as desigualdades bem visíveis na peça jornalística. 

Não a impressionaram as condições em que as pessoas daquele bairro vivem? Viu essas imagens? Não a indignou ver um bairro que parecia uma favela no Brasil? Bem sei que a habitação é um tema “sensível” para o Bloco, mas isso é que deveria ter motivado as suas declarações de indignação. 

Não, senhora deputada, o problema não está na “bosta da bófia” nem se resolve com declarações sofistas dos seus assessores para responder à “facho esfera”. 

Exija responsabilidades! Concordo. O que lhe exijo a si são propostas e soluções para o real problema, e não propaganda política.

O que fez foi pisar uma linha muito perigosa e semear tempestades a curto prazo. Oxalá a mesma tenha sido apenas pisada, e não ultrapassada.

Escreve à quinta-feira

A perigosa linha que se pisou


Existem focos racistas? Claro que sim, e infelizmente por todo o lado. Mas não é esta a causa do fenómeno. Atirar com a brutalidade policial também é errado. A polícia portuguesa é, na generalidade, bem preparada e cumpre com distinção as suas funções


Esta semana, Portugal foi surpreendido pelos desacatos no Bairro da Jamaica, no Seixal. Até aqui, tudo normal – inaceitável, naturalmente, mas não é caso isolado e são inúmeros os episódios a que já assistimos ao longo dos últimos anos.

Basta lembrar os distúrbios em Loures ou na Amadora, tendo em comum o facto de se registarem na periferia da capital e de envolverem forças policiais que, em última análise, existem também para manter a ordem.

A grande diferença reside no facto de este último ter resvalado para o centro da capital, a fazer lembrar os episódios de 2005, em Paris.

E porque escalou desta forma? A resposta poderá estar no aproveitamento político que o reduz a uma questão racial e de brutalidade policial, o que é totalmente inqualificável.

O assunto não é racial. Portugal é um país bastante progressista que tem na sua base a multiculturalidade e o multirracialismo. Existem focos racistas? Claro que sim, e infelizmente por todo o lado. Mas não é esta a causa do fenómeno. 

Atirar com a brutalidade policial também é errado. A polícia portuguesa é, na generalidade, bem preparada e cumpre com distinção as suas funções. Faltam recursos e formação? Faltarão sempre! Por isso é importante que os partidos percebam que investir, permanentemente, em meios das forças de segurança, mas sobretudo nos homens e mulheres que as integram, é essencial, e não um tique pidesco.

Utilizar estes dois argumentos para fazer jogo político é perigoso e não é para isso que os nossos impostos pagam os salários dos políticos.

Não é aceitável que dirigentes políticos se aproveitem de um tema como este para ações populistas de arrebanho de votos, ao invés de fazerem aquilo para que foram eleitos: estudar, analisar e propor soluções para os reais problemas do país. 

É deplorável a forma como o Bloco tenta reduzir o tema à questão racial e à brutalidade policial. É mais fácil, eu compreendo, e em pré-campanha vale sempre mais uns votos. Mas é profundamente errado, extremamente perigoso, superficial e irresponsável.

Para Joana Mortágua, tudo se resume à “violência gratuita da PSP”, a “4 minutos de desespero completo” e “que sintetizam a violência policial e o racismo neste país”. Termina a sua brilhante análise com a garantia de que o Bloco irá “exigir responsabilidades”.

Não a conheço pessoalmente, mas tenho bastante respeito intelectual pela deputada bloquista. Pelo que já fez e demonstrou ter capacidade para fazer. Mas reduzir este fenómeno à questão racial e à violência policial é uma irresponsabilidade e, acima de tudo, é pisar uma linha muito perigosa.

É não ter noção das consequências do que se disse e que só potenciam mais violência. É olhar apenas o aproveitamento político, quando o que deveria fazer era tentar perceber como combater as desigualdades bem visíveis na peça jornalística. 

Não a impressionaram as condições em que as pessoas daquele bairro vivem? Viu essas imagens? Não a indignou ver um bairro que parecia uma favela no Brasil? Bem sei que a habitação é um tema “sensível” para o Bloco, mas isso é que deveria ter motivado as suas declarações de indignação. 

Não, senhora deputada, o problema não está na “bosta da bófia” nem se resolve com declarações sofistas dos seus assessores para responder à “facho esfera”. 

Exija responsabilidades! Concordo. O que lhe exijo a si são propostas e soluções para o real problema, e não propaganda política.

O que fez foi pisar uma linha muito perigosa e semear tempestades a curto prazo. Oxalá a mesma tenha sido apenas pisada, e não ultrapassada.

Escreve à quinta-feira