Ninharias e presunções…


Para quem vive no Minho ir à Galiza é tão natural como viajar para Trás-os-Montes ou para as Beiras: vai-se num pé e vem-se noutro


Em virtude de se conhecer bem uma cidade, ou de se achar que se conhece, frequentamos sempre os mesmos sítios, calcorreamos as ruas e as praças que sabemos de cor e nem sequer nos dispomos a descobrir eventuais recantos desconhecidos. Afeiçoamo-nos aos hábitos.

Foi o que, durante anos, aconteceu com Vigo, cidade a pouco mais de uma hora de distância de Braga, a minha cidade. Ir à Galiza é para quem vive no Minho tão natural como viajar para Trás-os-Montes ou para as Beiras, é perto e bom caminho: vai-se num pé e vem-se noutro. Então, desta vez fomos à procura de lugares ainda não visitados ou vistos só de passagem. E encontrámos coisas muito interessantes. Desde logo, o monte de O Castro, no coração de Vigo, a poucos minutos da rotunda de Os Cavalos, monumental conjunto escultórico de Juan José Oliveira, artista galego, que fica mesmo à entrada da cidade para quem vai de Portugal. O Castro é um magnífico parque urbano, arborizado e ajardinado, encimado por uma fortaleza tardomedieval, com vários miradouros sobre a cidade, donde melhor se avista a esplendorosa ria de Vigo. Ali terá nascido o burgo, por ali passaram séculos de História, e da Guerra Civil Espanhola, de reavivada memória – continua a polémica sobre a trasladação dos restos mortais de Franco –, resta uma lápide alusiva às execuções que ali tiveram lugar.

Em descendo até à cidade, junto à zona portuária, há que dar um pulo à rua das ostras, a Pescadería, e observar a azáfama das ostreiras nas bancas plantadas ao longo da rua. Rumar de seguida ao centro histórico – o Casco Vello, como é conhecido – e deambular pelas velhas ruelas empedradas cingidas de belos, e solenes na pedra, edifícios brasonados, rua abaixo, rua acima, e abrandar o passo junto à Concatedral de Vigo, ilustre exemplar da arquitectura neoclássica galega. Vê-se que a revitalização é um processo em curso, vários edifícios foram já reabilitados, mas há ainda muitos a carecer de intervenção. Continuando pela marginal, um pouco mais adiante chega-se a Bouzas, bairro marítimo histórico, em cuja parte velha se repetem as ruelas empedradas, aqui planas, e o velho casario onde se destacam graciosas marquises ataviadas com requintes de ferro forjado pintados de branco. E é tudo, sendo ninharias de turista…

Importante, embora presumível ninharia para muitos, a notícia de que o presidente palestiniano, Mahmoud Abbas, assumiu a presidência do Grupo dos 77 países – agora 134 – em Desenvolvimento e China, G-77, na sede da ONU e na presença do secretário-geral, António Guterres. Para a política de multiculturalismo das Nações Unidas este grupo tem particular relevância dado que representa quase três quartos dos seus membros e 80% da população mundial. Não menos relevante para nós, europeus, já que é de grande parte dos países do G-77 que saem os fluxos de migrantes que tanto afligem a Europa, porque a UE ainda não foi capaz de encarar seriamente o problema das migrações. Talvez se se prestasse mais atenção à actividade deste grupo fossem encontradas respostas adequadas: na origem e com interlocutores próximos. Presunções…

 

Escreve quinzenalmente, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990