PSD. Mota Pinto enfrenta pedido de destituição por “ferir prestígio do partido”

PSD. Mota Pinto enfrenta pedido de destituição por “ferir prestígio do partido”


Atitude de presidente da mesa do conselho nacional cria guerra com o conselho jurisdição do partido. Dirigente renuncia para exigir punição


No rescaldo do conselho nacional do PSD, enterrou-se o machado de guerra entre o líder, Rui Rio, e os críticos, mas o presidente da mesa, Paulo Mota Pinto, deixou um lastro de críticas no conselho de jurisdição nacional (CJN). Agora, o dirigente terá de enfrentar um processo de destituição, movido pelo colega de partido, Paulo Colaço, que integrou, até ontem, o conselho de jurisdição nacional, o tribunal do PSD.

O problema surgiu na condução dos trabalhos do passado dia 17 de Janeiro. O facto de Paulo Mota Pinto não ter dado a palavra ao tribunal do partido quando se discutia a forma de votação da moção de confiança de Rio obrigou o conselho de jurisdição nacional a sair da sala, em sinal de protesto.

Mas o caso não ficou por aqui. Paulo Colaço, que se assume como “apoiante firme e dedicado do Dr. Rui Rio”, tomou a decisão extrema. Renuncia ao cargo para o qual foi eleito, em congresso, para o tribunal do partido para que possa apresentar “uma ação disciplinar contra Paulo Mota Pinto, visando a sua destituição de presidente tanto da mesa do conselho como do congresso nacionais”.

Para Paulo Colaço, o presidente da mesa do conselho nacional “feriu o prestígio do PSD” e “transformou um conselho nacional [do PSD] numa arruaceira RGA dos tempos do PREC”.

Numa carta de renúncia a que o i teve acesso, Paulo Colaço explica que Paulo Mota Pinto teve um “conjunto de comportamentos graves e em crescendo” no conselho nacional do passado dia 17 de janeiro. Em seu entender, Paulo Mota Pinto “quis impedir” que o conselho de jurisdição nacional “usasse da palavra para exercício” das funções do tribunal do partido, mais tarde impediu que o conselho de jurisdição falasse e pior: ignorou um parecer vinculativo do conselho de jurisdição nacional. Neste ponto, Paulo Colaço alude a um parecer a aceitar o pedido de voto de secreto da moção de confiança a Rui Rio, depois de muita polémica sobre a ideia de uma votação de braço no ar. 

E os problemas continuaram. De acordo com o relato de Paulo Colaço, Paulo Mota Pinto “chegou ao cúmulo de negar aos conselheiros o direito ao uso da palavra, “com a gravidade de – com isso – ter inviabilizado o instituto do “recurso para o plenário”.

Assim, Paulo Mota Pinto mostrou uma “faceta arrogante, soberba e insolente”. Por isso, Paulo Colaço considera que o comportamento do antigo juiz do Tribunal Constitucional deve ser punido. E renuncia ao cargo para poder pedir a sua destituição, justificando a opção mais radical. Paulo Colaço prefere renunciar ao cargo do que o suspender, para não condicionar, de forma alguma, os seus colegas do conselho de jurisdição nacional na hora de decidir se Mota Pinto será punido.

 A ação será entregue até ao final desta semana e o visado – Paulo Mota Pinto – limitou-se a dizer ao i: “Não tenho nenhum comentário a fazer”.

Para Paulo Colaço, Mota Pinto “poderia ter sido o carrasco do conselho nacional”, caso Rui Rio não tivesse também anuído à ideia de voto secreto. E acrescenta: “ Não acredito que o Dr. Rui Rio tenha pedido este serviço a Paulo Mota Pinto”.

Paulo Mateus Calado, outro membro do conselho de jurisdição, diz ao i compreender a decisão de Colaço: “Acho que todos compreendemos. Por isso, é que saímos da sala naquele momento, mas eu reservo-me a algum tipo de comentário quando falar pessoalmente com o Dr. Nunes Liberato – o presidente do conselho de jurisdição do PSD -, que está fora do país”.