Graça Freitas defende que não se pode olhar para o aumento da mortalidade infantil em números brutos

Graça Freitas defende que não se pode olhar para o aumento da mortalidade infantil em números brutos


Em 2016 havia 12 países com melhores indicadores. “Partimos de uma realidade pior”, diz diretora-geral da Saúde. Idade das mães traz novos desafios


Em 2018 morreram 289 crianças no primeiro ano de vida. Segundo dados provisórios da Direção-Geral da Saúde, a taxa de mortalidade infantil, que reflete o número de mortes por cada mil nados-vivos, subiu para 3,28, o valor mais elevado desde 2012. A diretora-geral da Saúde diz que a oscilação está “dentro do esperado”, mas garante que o fenómeno vai ser analisado. O repto foi lançado pela Ordem dos Médicos, que considerou os dados preocupantes, já que em 2017 tinha havido menos 60 mortes nesta faixa etária.

Ao i, Graça Freitas reconheceu o aumento, mas defende que não se pode olhar para o aumento em números brutos e sublinha que a taxa não fica muito distante da registada em 2016, ano em que morreram 282 crianças no primeiro ano de vida e a taxa de mortalidade infantil foi fixada em 3,24 óbitos por cada mil nascimentos. A responsável adianta ainda que, do total de mortes em 2018, 194 foram óbitos registados nos primeiros 28 dias de vida das crianças e, destes, metade eram casos de bebés prematuros que nasceram antes das 28 semanas de gestação, com maior risco de complicações.

Graça Freitas diz que o aumento da prematuridade nos últimos anos mas também de mais crianças nascidas com baixo peso, realidade que pode ser relacionada com o adiamento da idade da maternidade, poderá explicar uma subida na taxa de mortalidade infantil. “Hoje temos cada vez mais tecnologia que permite a sobrevivência destas crianças, que poderá compensar a tendência de termos mães mais velhas, mas é uma realidade que temos de acompanhar.” Na reação ao balanço, divulgado pelo “Correio da Manhã, a Ordem dos Médicos reconhecia esse fator, mas pedia celeridade numa análise mais profunda. “Sabemos que o aumento da idade média da maternidade e o maior recurso a tratamentos de fertilidade podem ter algum impacto negativo na mortalidade infantil. Ainda assim, este aumento merece uma rápida análise por parte do Ministério da Saúde para evitar um clima de desconfiança dos utentes em relação ao sistema de saúde”, disse Miguel Guimarães.

Na comparação europeia, Portugal surgia em 2016, o último ano com dados disponíveis, sensivelmente a meio da tabela. Nesse ano, 12 países europeus apresentavam melhores indicadores. Por que motivo não conseguiu ainda o país baixar a mortalidade infantil para o nível de países como Finlândia, Eslovénia ou Estónia? Graça Freitas reconhece que essa análise está por fazer. “Temos especialistas em obstetrícia que poderiam ajudar a avaliar esta questão. Partimos de uma realidade pior do que a de outros países, com uma mortalidade muito elevada, e conseguimos uma grande redução nas últimas décadas”, sublinha a diretora-geral da Saúde.

O aumento da idade das mães nos últimos anos poderá mais uma vez ser um fator, mas os dados europeus mostram que entre os países com melhores indicadores, alguns registam mães com idades comparáveis. Segundo o Eurostat, a idade média das mães ao nascimento de um filho em Portugal situava-se, em 2016, nos 31,1 anos. Na Finlândia, o país com a taxa de mortalidade infantil mais baixa, as mães tinham naquele ano o primeiro filho aos 30,8 anos; na Eslovénia, em segundo lugar, aos 30,3 anos. O Chipre, em quinto lugar, regista mesmo uma idade média mais elevada: 31,4 anos. “Sabemos em que ponto estávamos em 2016, mas precisamos de perceber como evoluiu a realidade nos restantes países europeus para podermos tirar conclusões”, diz Graça Freitas.