Davos. Bolsonaro faz discurso em defesa do ambiente

Davos. Bolsonaro faz discurso em defesa do ambiente


Presidente do Brasil foi ao Fórum Económico Mundial prometer luta contra a esquerda e mais segurança


Que Jair Bolsonaro falasse contra a esquerda e o “bolivarianismo” na sua primeira viagem oficial ao estrangeiro como presidente do Brasil, era óbvio; o que não se esperava era vê-lo fazer uma defesa das políticas ambientais e do controlo das emissões de dióxido de carbono na atmosfera. Convidado para discursar perante os maiores empresários do planeta em Davos, na Suíça – na primeira vez que um chefe de Estado da América Latina discursou na abertura do Fórum Económico Mundial -, Bolsonaro garantiu que o seu governo está “sintonizado com o mundo na busca pela redução de CO2 na preservação do meio ambiente”.

Empenhado em atrair investimento para o Brasil, o chefe de Estado procurou explicar a ideia que o seu executivo tem a respeito da defesa ambiental: “O meio ambiente tem que estar casado com desenvolvimento, nem para um lado nem para o outro. Nós temos o agronegócio, que é de conhecimento de todos. A parte da agricultura ocupa menos de 9% do território nacional, e a pecuária, 20%. Hoje, 30% do Brasil são florestas. Então, damos exemplo para o mundo.”

Garantindo estar empenhado em transformar o Brasil num dos 50 melhores países do mundo para investir até ao final do seu mandato, Bolsonaro explicou que pretende “diminuir a carga tributária, simplificar as normas, facilitando a vida de quem deseja produzir, empreender, investir e gerar empregos”. Questionado sobre medidas concretas que pretende aplicar, Bolsonaro falou em “diminuir o tamanho do Estado, fazer as reformas da previdência e tributária e investir em educação”.

Além do meio ambiente e da segurança de investimento, o chefe de Estado assentou a sua intervenção em mais dois temas que lhe são caros desde o momento em que lançou a campanha: a luta contra a esquerda e a segurança.

Sublinhando que pretende “tirar o viés ideológico” dos negócios, Bolsonaro investiu contra o “bolivarianismo” e mostrou-se disposto a trabalhar para que a esquerda perca espaço na América do Sul: “Estamos preocupados em fazer uma América do Sul grande e que cada país mantenha a sua hegemonia local. Não queremos uma América bolivariana como há pouco existia no Brasil”, afirmou Bolsonaro, salientando que “mais gente de centro e centro-direita” está a chegar ao poder nos países do subcontinente. “Creio que isso seja uma resposta de que a esquerda não prevalecerá na região.”

“Vamos defender a família e os verdadeiros direitos humanos; proteger o direito à vida e à propriedade privada e promover uma educação que prepare nossa juventude para os desafios da quarta revolução industrial, buscando, pelo conhecimento, reduzir a pobreza e a miséria”, sintetizou.

Sobre a segurança, o presidente do Brasil falou em grandes investimentos em matéria de segurança para garantir que o país consegue atrair mais turistas: “Vamos investir pesado na segurança para que vocês nos visitem com suas famílias, pois somos um dos primeiros países em belezas naturais, mas não estamos entre os 40 destinos turísticos mais visitados do mundo.”

Queda na bolsa

O mercado não reagiu bem ao discurso de Bolsonaro em Davos e o índice da bolsa de valores de São Paulo, que já estava a passar por um dia mau, sofreu uma queda abrupta logo a seguir à intervenção de pouco mais de dez minutos. O dólar, que passara o dia a perder valor face ao real, já ia em 0,82% por cento de ganhos a meio da tarde.

De acordo com Marcelo Giufrida, sócio da Garde Investimentos, citado pelo “Folha de S. Paulo”, o presidente “perdeu a chance de fazer alguma coisa mais ambiciosa” e acabou por se manter num registo que em nada surpreendeu.

“Faltou ser mais incisivo, dizer ‘eu vou fazer o ajuste fiscal, eu vou fazer a reforma da previdência’”, afirmou, por seu lado, Álvaro Bandeira, economista-chefe da corretora Modalmais, ao mesmo jornal.

O presidente “calibrou um discurso genérico, dentro daquilo que se esperava que ele fosse dizer e dentro da expetativa dos investidores e das lideranças políticas e empresariais que estão presentes em Davos”, referiu o comentador de assuntos económicos da Globo News, em direto de Davos. João Borges salientou que há muita expetativa em relação ao que o novo governo brasileiro vai fazer a curto prazo – daí a pergunta do presidente do fórum, Klaus Schwab, assim que Bolsonaro terminou o seu discurso: “Dentro de quantos meses o senhor pretende apresentar e aprovar medidas concretas para resgatar a economia?”