Paragem parcial do governo. Como o muro de Trump está a afetar os EUA

Paragem parcial do governo. Como o muro de Trump está a afetar os EUA


O encerramento parcial do governo norte-americano já dura há um mês. Este fim de semana, Trump ofereceu novo acordo, recusado pelos democratas por implicar a construção do muro. Enquanto isso, 800 mil empregados do Estado continuam sem receber 


Fornecedores. Quase 10 mil empresas em risco

A paralisação parcial do governo federal ameaça quase dez mil empresas com contratos com entidades federais. Em causa está a falta de pagamento, ameaçando a liquidez das empresas e, por conseguinte, milhares de postos de trabalho e as comunidades onde se encontram. “Quem está a receber a maior parte da atenção pública são os funcionários federais”, disse ao “Washington Post” Jamie Brandenburg, diretor executivo da TVS, que fornece leite em pó a entidades federais. “Sinto muita empatia [com os funcionários federais], mas quando o governo reabrir receberão os salários. As empresas estão a ser negligenciadas”, avisou. Não se sabe em concreto quantos trabalhadores serão afetados, mas os contratos vão das centenas aos milhões de dólares. 

Saúde. Sem dinheiro não há medicamentos

 Sendo uma entre os mais de 800 mil trabalhadores federais que não recebem os salários há quase um mês, Jazz Sexton tomou precauções, só que não esperava que o encerramento parcial “durasse mais de duas semanas”. Mas a paralisação prolongou-se e, agora, já quase sem dinheiro para comer, não consegue comprar os medicamentos antidepressivos que toma habitualmente. “Agora não tenho nada que me ajude a estabilizar o humor. Estou muito preocupada por começar a ter mais dias maus que bons”, disse Sexton à Radio 1 Newsbeat. Inscrita na folha de pagamentos do Estado desde outubro, não teve tempo de dar entrada dos papéis para ter cobertura do seguro de saúde. “Não consegui renovar as receitas dos medicamentos que venho tomando nos últimos anos”, explicou.

Fiscalização.  Qualidade da comida em risco

A qualidade da comida que chega à mesa dos norte-americanos está em risco porque as inspeções conduzidas pela Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA, sigla em inglês) estão parcialmente paradas. Mais de metade dos inspetores foram mandados para casa. “Sem um polícia a fiscalizar, a segurança das nossas famílias à mesa das refeições está em risco”, disse o congressista democrata Josh Gottheimer, em conferência de imprensa. A agência federal diz que 31% das inspeções por si realizadas são consideradas de “alto risco”, envolvendo instalações de processamento de bens alimentares e farmacêuticos, quintas e alimentos para animais. Os riscos para a segurança são no mínimo imprevisíveis.

Crédito sem juros. Solução de recurso temporária

Os funcionários federais da zona de Ozarks – cordilheira que atravessa o Missouri, Arkansas, Oklahoma e Kansas – poderão pedir empréstimos sem juros como solução temporária para pagarem as contas até ao encerramento parcial do governo federal terminar. A iniciativa partiu da Fundação da Comunidade de Ozarks, em parceria com a Multipli Credit Union. Os funcionários podem pedir um crédito até 1500 dólares sem juros, com os prazos de pagamento dependentes do primeiro ordenado a receber quando for retomada a atividade normal do executivo. “Não queremos que estes funcionários sofram mais stresse ou sejam obrigados a recorrer a créditos com juros altos”, explicou Brian Fogle, diretor executivo da empresa.

Queixa. Controladores aéreos processam Trump

A Associação Nacional de Controladores de Tráfego Aéreo avançou com um processo judicial contra o presidente Donald Trump e outras agências federais por os salários dos trabalhadores do controlo aéreo não terem sido pagos, violando assim os seus direitos constitucionais. “A nossa teoria neste caso é que houve uma violação de direitos de acordo com a quinta emenda da Constituição dos Estados Unidos”, explicou Molly Elkin, advogada da associação, em conferência de imprensa. A organização associativa acusa ainda o governo federal de ter violado o Fair Labor Standards Act, que garante o pagamento de um salário mínimo aos trabalhadores, e exige que sejam pagos os dois salários em atraso e as horas extraordinárias realizadas entretanto pelos controladores aéreos. 

NASA. A possível debanda para o setor privado

À semelhança de tantas outras agências federais, a NASA também se encontra paralisada por falta de verbas. Os funcionários não recebem e a situação tornou-se insustentável para muitos deles, entre os quais alguns dos maiores especialistas no espaço e no planeta Terra. “Por quanto tempo mais os melhores e mais brilhantes continuarão a querer trabalhar numa agência que continua a ser atirada de forma insensível para a agitação política?”, questionou Casey Dreier, da Sociedade Planetária. A possibilidade de muitos optarem pelo setor privado é cada vez maior, arriscando mergulhar a agência numa crise de quadros. “Receio que vejamos cada vez mais funcionários da NASA a questionar porque se sujeitam a perturbações desnecessárias e a partirem para o setor privado”, avisou. 

Saldos. Acampamentos de verão mais baratos

 Sem data para o fim do encerramento parcial do governo e com a perspetiva de ele poder continuar durante algum tempo, tendo em conta o que diz o presidente dos EUA, há quem já esteja a pensar no verão. O Reston Community Center, na Virgínia, decidiu baixar o preço dos acampamentos de verão para os filhos dos funcionários federais para apenas 10 dólares por criança. Os pais só têm de apresentar a identificação de funcionário federal e o atestado de residência na cidade. “Em Reston moram muitas pessoas afetadas por este acontecimento. E sabemos que os gastos discricionários para atividades de verão estão entre as primeiras despesas que as famílias cortam ou eliminam por circunstâncias económicas”, justifica Leila Gordon, diretora executiva, ao “Washington Business Journal”.
 

Guardas Florestais. Três mortos em parques naturais

 Centenas de milhares de pessoas visitam todos os anos os parques naturais dos Estados Unidos e nem com o fecho parcial do governo federal o fluxo diminuiu. As lojas de recordações estão fechadas e os mais de 400 guardas florestais foram dispensados. Sem vigilância, pelo menos três pessoas já morreram em acidentes nos parques. Uma rapariga de 14 anos morreu na sequência de uma queda na Glen Canyon Recreation Area, no Arizona, no dia 21 de dezembro, e, no dia seguinte, um homem faleceu devido a ferimentos na cabeça no Parque Nacional da Califórnia. A terceira morte, de uma mulher, aconteceu no Parque Nacional Great Smoky Mountains, na fronteira entre a Carolina do Norte e o Tennessee, devido à queda de uma árvore.

Aeroportos. Dos donativos às violações de segurança

Um funcionário da Administração de Segurança nos Transportes (TSA, sigla em inglês), Anthony Morselli, criou uma página no GoFundMe para angariar fundos para poder pagar as contas. Como a mulher também trabalha na TSA, a família ficou de repente sem rendimentos para fazer face às despesas. Morselli conseguiu recolher mais de 3300 dólares em donativos. Ainda que não recebam os salários, os trabalhadores da agência federal continuam a ser obrigados a trabalhar nos aeroportos, sem que possam meter folgas. O descontentamento é generalizado e com este surgem as possibilidades de violações da segurança: uma mulher conseguiu viajar de avião de Atlanta, EUA, para Narita, Japão, na posse de uma arma de fogo.

Carolina do Norte. Cumpões de alimentação antecipados

Quem vive na Carolina do Norte vai receber os cupões de alimentação das autoridades federais de fevereiro antecipados. Normalmente, eles são distribuídos entre os dias 3 e 21 de cada mês, mas, por causa da paralisação parcial, as autoridades viram-se obrigadas a antecipá-los. “Estamos a trabalhar de perto com os departamentos de segurança social dos condados e com os nossos parceiros federais para garantir que haja pouca interrupção para os beneficiários e os retalhistas”, explicou Tara Mayers, vice-secretária dos Serviços Humanitários do Departamento de Saúde e Serviços Humanitários da Carolina do Norte, em comunicado. Os retalhistas estão a preparar-se para receber um fluxo anormal de compras com cupões.