Cassete. Rebobinar a fita para a frente

Cassete. Rebobinar a fita para a frente


Depois do vinil ter estabilizado – 2018 foi o ano de menor crescimento –  agora é a vez de as cassetes terem direito a puxar a fita. Em Inglaterra, as vendas subiram 125% no último ano e já se situam nos 50 mil. The 1975  e Twenty One Pilots foram os campeões de vendas  


Quase sempre quando se quer provar a inaptidão das gerações nascentes em lidar com a tecnologia do Séc. XX a cassete é instrumental nesses testes. Há inúmeros vídeos no YouTube de crianças a olhar para cassetes ou walkmans como um boi para um palácio. 

Dado como morto durante décadas, isto é desde o advento do digital no fim dos anos 90 até às primeiras manifestações revivalistas com o vinil, a cassete ganha uma nova vida. 

No ano passado, o crescimento do formato no Reino Unido foi de 125,3%. Ao todo foram vendidas cerca de 50 mil cassetes originais. O número mais alto desde 2004 quando não só a cassete caía a pique como a venda de música gravada já estava em declínio acentuando, provocando uma sangria na indústria musical, então ainda entricheirada no combate à pirataria na Internet. 

Algumas cadeias voltaram a comercializar cassetes mas o crescimento vem sobretudo da venda direta de bandas e músicos ou de edições limitadas e numeradas.

Os adolescentes podem não ter crescido a gravar emissões de rádio em cassete ou a rebobinar a fita com um lápis mas foi uma banda na casa dos vintes, com público adolescente, a mais procurada. “‘A Brief Inquiry Into Online Relationships”, o terceiro álbum dos The 1975, foi o álbum mais vendido em cassete no Reino Unido com 7523 cópias. Dessas, 7147 voaram na primeira semana – um recorde desde 2002. “Golden”, de Kylie Minogue, uma voz da geração da cassete, foi o segundo com 6262 cópias, e “No Tourists”, dos veteranos The Prodigy, o terceiro com 2148. 

A banda sonora do segundo volume de “Guardiões da Galáxia” e “Sweetener” de Ariana Grande fecham os cinco mais vendidos. “Delta Son” dos Mumford & Sons, “Wildness” dos Snow Patrol, “Odyssey” dos Take That, “America” dos 30 Seconds To Mars, “Trench” dos Twenty One Pilots, “Resistance Is Futile” dos Manic Street Preachers, “Tranquility Base Hotel & Casino” dos Arctic Monkeys, “Cool Like You” dos Blossoms, a banda sonora de “Bohemian Rapsody” dos Queen, “St. Jude; Rewired”, dos Courteeners, “Beautiful Life” de Rick Astley e “My Mind Makes Waves” dos Pale Waves também entram nestas contas.

Os EUA acompanharam o crescimento embora de forma mais moderada. Em 2018, o crescimento foi de 23%. E tal como no Reino Unido, foi uma banda nos vintes com um público de nativos digitais a mais vendida. “Trench” dos Twenty One Pilots foi o álbum mais vendido de um grupo. No entanto, as cassetes mais procuradas foram as bandas sonoras dos dois primeiros volumes de “Guardiões da Galáxia”. 

Entre os mais vendidos, também estão clássicos “Baby One More Time” de Britney Spears, “Appetite For Destruction” dos Guns N’Roses, “Where No One Stands Alone”, de Elvis Presley”, “Enter The Wu-Tang” dos Wu Tang Clan e “Garage Days Revisited” dos Metallica. Intrometem-se nos dez primeiros a banda sonora de “Stranger Things” e a “Cosmic Mix – Vol. 1”, ainda dos “Guardiões da Galáxia”. 

Os números das vendas de cassetes são ainda residuais mas, tal como o vinil, estão em contraciclo com o CD. Um estudo recente revelava que a quebra anual do formato preferido da indústria nos anos 90 e 00 é de 25%. Em dez anos, passaram a vender-se menos dez milhões de CD. 

Por outro lado, no Reino Unidos venderam-se quase dez milhões de discos em vinil. Um crescimento de 12% – o menor desde 2011, quando o mercado de vinil era quase restrito à música eletrónica de dança e alimentava sobretudo os DJ – mas ainda assim o espelho de consumidores que não substituiram a relação com o objeto pelo streaming em plataformas como Spotify, Apple Music, Tidal e YouTube Music. 

Apesar de se vender menos, nunca se consumiu tanta música. Em 2018, os serviços de streaming cresceram 40%. E o hip-hop continuou a ser o género favorito dos ouvintes, contribuindo para um novo fôlego da indústria musical.