Inês Lopes, 27 anos
“Não havia vaga em setembro”
Inês Lopes escolheu o Jardim Infantil de Arroios (Fundação D. Pedro IV) para o filho de dois anos e meio iniciar a escolaridade, mas não foi fácil. “Tive alguma dificuldade em conseguir vaga aqui. O meu filho não entrou em setembro e teve de ir para outra escola, mas acabou por ter vaga nesta em janeiro porque um menino desistiu”, recorda. “Procurámos outras, onde houvesse vaga, mas esta era mais perto de casa e sabíamos logo à partida que era uma boa escola e tínhamos boas referências”, conta ao i.
Apesar de não saber exatamente o valor da comparticipação da Segurança Social, contas feitas Inês paga ao fim do mês “300 e poucos euros” para que o filho frequente esta escola.
Ainda que o filho tenha apenas dois anos, Inês Lopes admite que a família já está a pensar no futuro. E o privado não é uma hipótese colocada de lado. “Há colégios em que é melhor entrar ao três anos – é mais fácil entrar aos três do que aos cinco anos – e isso é uma das questões com a qual estamos preocupados, porque não sabemos ainda se irá para a escola pública. Há alguns colégios privados em que é muito difícil conseguir vaga, por outro lado a escola pública teria de ser nesta zona. Não sabemos bem o que vamos fazer”, conclui.
João Cruz, 33 anos
"Outros preferem cruzeiros"
João Cruz, de 33 anos, casado, dentista, residente em Adaúfe, que é a maior freguesia do concelho de Braga, tem agora uma filha única, de oito anos, “mas vamos ter mais filhos”, garante.
“Os filhos não pesam muito no orçamento, é mais a escola e a alimentação”, diz João. “Nós, os adultos, naturalmente temos muito mais despesas, além de que os filhos são uma escolha ponderada, um compromisso assumido”.
Quanto à dicotomia escola pública versus escola privada, João Cruz explica que “o que é importante para nós, como pais, é ter boas referências, mais do que ser púbico ou privado. Por exemplo, a nossa filha está numa escola estatal, só por uma questão de proximidade”.
João Cruz não sente para já falta de apoio. “Já temos apoios suficientes, pois os livros escolares são oferecidos e há outros auxílios para quem precisa”, salientando que “não é pelas despesas maiores ou menores que deixaremos de ter mais filhos, o que, aliás, pretendemos”. Para João, trata-se de uma escolha. “É uma boa opção ter filhos, enquanto outros preferem, por exemplo, fazer cruzeiros”.
Rui Gonçalves, 39 anos
"Pagamos ao fim do mês entre 500 e 600 euros depende das atividades"
Rui Gonçalves optou pelo ensino privado para a filha de cinco anos. Porquê? “Foi vontade comum dos pais, por vários fatores: primeiro por uma questão de qualidade, porque se procurou de facto proporcionar o melhor ensino possível, depois por uma questão de proximidade, porque é relativamente perto da nossa residência e da casa de um dos avós”, justifica ao i. Para já, é a única filha que tem a frequentar o Colégio Sagrado Coração de Maria, em Lisboa, mas admite que “em relação ao filho a caminho” também possa ser essa a opção. “Mas ainda não pensámos nisso porque nos primeiros anos não sou apologista de irem para a escola. Se houver condições e os avós tiverem saúde, ficará com os avós nos primeiros anos. Depois, possivelmente virá para aqui porque estamos satisfeitos com o estabelecimento de ensino e não temos nada a dizer”, acrescenta.
Todos os meses, a família paga um valor que ronda entre os 500 e os 600 euros. “É um valor variável porque depende das atividades, se almoça no colégio ou não, etc.”, explica. E teve dificuldades com a inscrição ou esperou muito tempo por vaga? “Não, não. A minha filha entrou com dois anos e passou por um processo de seleção, com uma entrevista que passa muito por aquilo que é a perspetiva dos pais para a vida e para os filhos”, recorda o pai. “Acho que não há muitas vagas, mas a verdade é que não conheço ninguém que tenha dito que não conseguiu. Fiz a inscrição com pelo menos seis meses de antecedência relativamente ao início do ano letivo”, continua.
E quanto ao futuro, planeia manter aqui a filha até ao fim da escolaridade? “No próximo ano vai para a primária e o objetivo será fazer aqui a primária, se a vida assim o permitir e se ela se der bem aqui com a escola. Depois, é ponderar”, conclui.
Sofia Montenegro, 41 anos
"Prefiro pôr os meus filhos no público. Andei no privado e não há diferença"
Sofia Montenegro tem 41 anos e três filhos. A mais pequena, que está perto de fazer dois anos, está inscrita no Jardim Infantil de Arroios (Fundação D. Pedro IV) e a família paga “390 euros, que corresponde ao escalão máximo”, de mensalidade. “Não tenho comparticipação da Segurança Social”, diz ao i.
Como a filha ainda está longe dos seis anos, a corrida às escolas de primeiro ciclo para garantir vaga ainda não começou. E, de qualquer forma, essa questão parece não preocupar esta mãe. “A ideia é a minha filha ir para a escola dos irmãos, ainda que acredite que isso seja difícil. É que os meus filhos mais velhos estão no Filipa de Lencastre”, diz ao i. A instituição pública, com ensino básico e secundário, é uma das mais procuradas e creditadas na capital. Apesar de ter consciência de que poderá ser difícil conseguir que a filha mais nova frequente a mesma escola que os irmãos a partir da primeira classe, Sofia Montenegro diz que ainda não começou a pensar em alternativas, uma vez que “ainda é cedo”.
E o privado, é uma hipótese em cima da mesa? “Não. Eu prefiro pôr os meus filhos em instituições públicas. Eu andei num privado e não vejo grande diferença, confesso. Mas a verdade também é que o Filipa é uma escola um bocadinho diferente. Mesmo no caso das outras escolas públicas aqui no centro de Lisboa, não vejo grandes diferenças em relação ao privado. Acho que são boas escolas no geral”, defende. E desvaloriza: “Não me preocupa a eventual lista de espera que possa encontrar no Filipa de Lencastre. Moro aqui no centro e, se ela não entrar no agrupamento da minha residência, entrará noutro da zona limítrofe, sempre aqui perto”, acredita.
Rui Azinheiro, 44 anos
"Tentámos duas vezes no Filipa de Lencastre mas é muito difícil"
Não é a primeira experiência que Rui Azinheiro tem no Jardim Infantil de Arroios (Fundação D. Pedro IV). Esta é já a segunda filha a frequentar a instituição. “Tenho uma filha mais velha, hoje com oito anos, que também andou aqui durante quatro anos”, conta ao i.
Para que a filha mais nova, de dois anos, frequente esta escola, a família despende por mês “perto de 300 euros. Há uma parte que é comparticipada, mas não sei precisar”, diz. E quais as vantagens desta escola? “Decidi-me por esta escola porque é perto de casa e a minha filha mais nova entrou logo, porque teve a facilidade de andar cá a irmã mais velha. Quando foi da minha primeira filha, escolhemos esta escola porque tínhamos referências. E não enfrentámos listas de espera nem tivemos dificuldades em arranjar vaga aqui”, recorda ao i o pai Rui Azinheiro.
Hoje, a filha mais velha frequenta uma escola pública. “Entrou na segunda opção, na segunda escolha. Queríamos a Filipa de Lencastre e tentámos duas vezes, mas é muito difícil, quase impossível conseguir vaga. Acho que o fenómeno é conhecido [risos]”, diz. A família acabou por ter vaga para a filha mais velha na escola situada no Largo do Leão, “igualmente perto” de onde vivem. E é lá, de resto, que os pais planeiam inscrever também a filha mais nova. Contudo, há uma questão que está a preocupar a família. “Talvez possa surgir um senão: o facto de fazer anos em outubro pode levantar algumas dificuldades”, receia. Quanto a alternativas, o pai diz que a família “vai procurar”, ainda que não esteja “especialmente preocupado com isso”, uma vez que está seguro quanto à probabilidade de conseguir lugar para a filha na mesma escola que a irmã frequenta.
Joana Silveira, 37 anos
"O mais novo ainda não está na creche porque está tudo cheio"
Joana Silveira, de 37 anos, casada, lojista, residente na freguesia de Gualtar, em Braga, tal como o marido, trabalha, tendo dois filhos, ambos rapazes, de sete e dois anos de idade.
Para já, ainda não está bem definido como será com o filho mais novo, o Gabriel, que tem dois anos, “mas ainda não está na creche porque está tudo cheio, não consigo encontrar creche. Só em setembro conseguiremos, em princípio, isso é que teremos de tratar até lá”.
“O que me vale é a minha mãe, que por acaso está em casa. Senão não conseguia trabalhar a tempo inteiro, como agora, tendo de arranjar um part-time”, acrescenta Joana Silveira. “Quanto ao Gabriel, que tem sete anos, está tudo bem com ele a esse nível porque anda no primeiro ano de escolaridade na Escola Básica de Gualtar, aqui em Braga, que é nova, funciona muito bem e o diretor é muito simpático, estando sempre disposto a ajudar-nos”, referiu a bracarense, ao lado do marido e dos dois filhos, durante um passeio dominical.
“Mas poderiam apoiar mais as áreas de atividades complementares, como teatro e futebol, ou outras ocupações. Seria uma questão de melhorar esse aspeto”, sugere Joana Silveira, de acordo com quem “será sempre o ensino público que os meus filhos vão frequentar, até porque o abono de família que recebemos só dá para o mais básico, além de que estamos satisfeitos com a escola pública e, de resto, com os serviços públicos em geral.”
José Borges, 22 anos
"Os meus pais gastam cerca de 400 euros todos os meses"
É natural de Oliveira de Azeméis, mas estuda em Coimbra. A opção foi pensada: “Medicina é um curso de seis anos. Seis anos que considero que devem ser aproveitados para mais do que simplesmente para estudar como muitos pensam que apenas fazemos. Tenho duas irmãs mais velhas que estudaram em Coimbra e fui, desde cedo, convivendo com a tradição coimbrã que tanto me alegrava. No primeiro cortejo da Queima das Fitas de Coimbra que tive a oportunidade de presenciar, logo pensei, um dia vou cartolar de amarelo nesta cidade. Escolhi a cidade pela tradição que acarreta e pelas vivências que senti que apenas poderia ter enquanto estudante. Decidi abraçar a cidade dos estudantes para viver em pleno os meus seis anos como tal. Estou ainda convicto que fiz a opção certa!”
Estando deslocado, não é só a propina que os pais têm de pagar. Precisam, também, de assegurar a despesa que advém de ter um filho que ainda não trabalha a viver fora de casa. José divide um T3+1 com três colegas, mas esta é já a quarta casa em que vive desde que chegou a Coimbra, há cinco anos. Nas anteriores, a opção foi arrendar um quarto, mas agora que decidiu dividir casa paga 200 euros de renda – a casa custa 800 euros no total -, a que tem de somar os 106,34 mensais de propinas. A contar com dinheiro extra que os pais lhe dão, a formação de José em Coimbra implica um gasto de cerca de 400 euros mensais.
Aida Higino, 45 anos
"Não tive qualquer dificuldade em arranjar vaga"
Aida Higino tem 45 anos e duas filhas. A mais nova, de quatro anos, frequenta o Jardim Infantil de Arroios (Fundação D.Pedro IV). Como a filha mais velha, hoje com 14 anos, já tinha frequentado esta instituição, não pensou em escolas alternativas e inscreveu logo a filha mais nova no mesmo sítio.
Questionada sobre se teve dificuldade em arranjar vaga ou se esteve muito tempo em lista de espera, responde negativamente: “Não, não tive qualquer dificuldade em arranjar vaga nem aguardei em lista de espera. Julgo que tiveram em consideração o facto de viver aqui na zona e também de trabalhar aqui perto, além do facto de a minha primeira filha já ter andado aqui também”. No entanto, lembra que com a filha mais velha também teve a mesma experiência e que não enfrentou qualquer dificuldade nem teve de esperar por vaga.
“O meu ordenado também deve ter contribuído para essa facilidade”, diz ao i. “Tenho uma boa comparticipação da Segurança Social, não sei o valor exato, mas pago à volta de 90 e tal ou 100 euros”.
Vai passar, no entanto, a pagar mais: a filha começou este mês a entrar antes das nove horas e a sair depois das cinco e meia, e “isso tem um valor extra associado”, lamenta.
E quanto ao futuro, tem alguma ideia quanto a escolas para inscrever a filha quando chegar aos seis anos? “Sim, vou inscrevê-la na mesma escola em que inscrevi a irmã. que é ali no Leão de Arroios. É a escola que pertence a esta área e estou satisfeita”, responde. Confrontada com a possibilidade de não arranjar vaga, desvaloriza. “Não tenho receio de que isso aconteça, não estou preocupada, até porque a irmã já frequenta a escola”, conclui.
Maria Guerreiro, 21 anos
"Não acho que seja um valor elevado tendo em conta a qualidade do ensino"
Maria Guerreiro tem 21 anos e é de Lisboa, onde mora, com os pais. Quando chegou a altura de se candidatar ao ensino superior, não quis sair da sua cidade e, por isso, é também na capital que estuda atualmente Engenharia Informática no Instituto Superior Técnico (IST).
Começou em setembro de 2015. No entanto, ainda não concluiu a licenciatura porque tem algumas cadeiras em atraso. No entanto, garante que pretende acabar em breve. “Em princípio em junho deste ano” conta acabar as cadeiras que lhe faltam.
E quanto é que paga de propinas? Por ano, a família de Maria paga 1063,47 euros de propinas, um valor ao qual se somam 25 euros de taxa de secretaria e 1,43 euros do seguro escolar, especifica Maria, que, precisa, não ter qualquer apoio da faculdade. Contas feitas, a família já gastou mais de quatro mil euros ao longo da licenciatura da filha.
O que para muitos pode ser um valor difícil de suportar não choca, no entanto, esta estudante universitária. “Não acho que seja um valor elevado tendo em conta a faculdade e a qualidade do ensino”, defende.
E quanto ao futuro, planeia seguir os estudos? À pergunta do i, confessa que ainda não chegou a uma resposta e ainda não decidiu o que quer fazer, no entanto, em cima da mesa está a possibilidade de vir a fazer um mestrado.
Caso venha a avançar mesmo para a hipótese de mestrado, explica que pretende manter-se na mesma área e a escolha deverá ser Engenharia Informática com especialização em sistemas empresariais, também no Instituto Superior Técnico.
José Rogério, 45 anos
"O Estado deve ajudar quem realmente precisa e não consegue trabalho"
José Rogério, de 45 anos, casado, residente na freguesia de Lomar, em Braga, tem uma filha única, de 19 meses, estando, tal como a esposa, desempregado. Mas não desarma e diz “trabalhar em biscates”, com o lema diário de “nunca pedir subsídios”. “Vamos vivendo do dia-a-dia porque vou fazendo uns biscates de construção civil e outras tarefas que me pedem aqui à volta de Braga, pois não vale a pena queixarmo-nos.”
“Enquanto tiver ‘cabedal’ e corpo para trabalhar, continuarei a fazer pela vida”, salienta o mesmo bracarense, explicando que aquilo que ganha “vai dando para as despesas de todos os dias, porque sabemos fazer contas e ater-nos àquilo até onde podemos ir.”
José Rogério explica que, para já, não está muito preocupado. “Para já não se coloca o problema de uma vaga, porque a menina está com a mãe em casa, mas quando a minha mulher encontrar trabalho, claro que será para uma creche pública que a menina vai. Há aqui várias creches em Braga, é uma questão de procurar”, diz, acrescentando: “Eu não digo que o Estado não deva apoiar, mas ajudar aqueles que realmente precisam e não conseguem trabalhar.”
Até porque, “quando a minha menina for maior já são bem-vindas as ajudas para os livros e o restante material escolar”, mas, reitera, “sempre trabalhando e fazendo-me à vida”, ao mesmo tempo que refere “ir a maior parte do dinheiro principalmente para a alimentação”.