O futebol, antigamente, era amador em relação aos dias de hoje e havia mais corrupção. Concorda?
Sim. Houve uma fase do futebol em Portugal em que muita coisa aconteceu, muito jogo sujo, muito jogo resolvido fora das quatro linhas. Investigações não foram feitas, houve uma conivência clara com práticas ilícitas que resultaram em nada, para mal dos grandes pecados do futebol. Nunca vi ninguém a pagar a um árbitro, nunca vi, mas há coisas que nós percecionamos, que percebemos que não estão certas, não batem certo. E assisti a muitas arbitragens muito estranhas, disso não tenho dúvida nenhuma. Escutas telefónicas não servem para fazer prova, mas confirmam os indícios de corrupção, de compra de resultados, de tráfico de influências… Quem viveu essa fase sabe que existiu.
Está a falar de quê em concreto?
Do Apito Dourado.
Acha que o Boavista não teria sido campeão, por exemplo?
Acho que não. O Boavista foi, digamos, a amante do FC Porto que serviu para um determinado papel: alimentar o poder a norte. Teve os seus méritos, houve muita gente a fazer o seu trabalho honestamente. Não me esqueço das equipas do Manuel José e do futebol que praticava, e também do Jaime Pacheco. Mas a questão é as áreas do poder e quem as domina, e houve um tempo em que quem dominava as áreas do poder eram Pinto da Costa, Valentim Loureiro e os seus amigos. Tinham uma influência concreta ao nível da arbitragem, escolhiam os árbitros. Aliás, as escutas provam exatamente isso, os arranjinhos. O poder de um árbitro tem um peso enorme, um árbitro muito facilmente muda um jogo. E, nessa altura, isso acontecia imenso.
E acha que não continua a acontecer agora?
Agora há uma sofisticação maior em relação à forma como estas coisas acontecem. Já não é por telefone… Já não é por telefone. Ficou claro que foi por email… (risos)
Leia a entrevista na íntegra na edição de fim de semana do i já nas bancas