Enfermeiros. Nova greve na próxima semana, um dia em cada região

Enfermeiros. Nova greve na próxima semana, um dia em cada região


O dia de quinta-feira ficou marcado por reuniões entre a tutela e os sindicatos dos enfermeiros. Há nova greve marcada para o final do mês, mas a greve cirúrgica continua suspensa até dia 30  


No final do ano passado, os enfermeiros prometeram novas greves. Prometeram e cumpriram. As negociações com o Governo não avançam e os enfermeiros tomam pulso às suas reivindicações. Sexta-feira, logo pela manhã, o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses confirmou uma nova paralisação a decorrer entre os dias 22 e 25 de janeiro, em vários pontos do país. 

Olhando para o mapa e para o calendário, em Lisboa e Vale do Tejo a greve acontece a 22 deste mês, no Centro a 23, no Norte a 24 e termina no Sul no dia 25 de janeiro. José Carlos Martins, presidente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, disse aos jornalistas que “o governo não quer abrir a porta para negociar a aposentação mais cedo e mecanismos de compensação. A carreira vai introduzir, por isso, elementos de justiça”. E mais: “Neste quadro, iremos manter a greve de 22 a 25 de janeiro”, acrescentou o sindicalista. Mesmo tendo o governo avançado com a criação da categoria de enfermeiro especialista, todas as restantes reivindicações continuam sem entendimento. 

Quinta-feira ficou marcada pelas reuniões e o período da tarde juntou o Sindicato Democrático dos Enfermeiros Portugueses (Sindepor), a Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE), a ministra da Saúde e a secretária de Estado do Emprego e Administração Pública, Maria de Fátima Fonseca, na mesma mesa. Sem grandes expectativas de resolução, os sindicatos conversaram com a tutela – numa reunião sem agenda – sobre a “grelha salarial, compensação da periodicidade e do desgaste para efeitos de reforma”, disse Carlos Ramalho, presidente do Sindepor. 

Quatro horas depois, os representantes dos sindicatos revelaram que, afinal, existe margem para continuar as negociações e a greve está assim suspensa até dia 30 de janeiro. 

A nova greve cirúrgica em sete centros hospitalares de todo o país deveria ter começado esta segunda-feira, mas foi suspensa até ao dia de ontem devido à possibilidade de negociações entre as estruturas sindicais e a tutela. Os representantes dos sindicatos entraram com poucas esperanças, mas saíram a “ver que há alguma luz ao fundo do túnel”. Tinham garantido que suspender a greve não é o mesmo que cancelá-la, mas por agora, a paralisação do enfermeiros nos blocos operatórios continua suspensa até à próxima reunião – dia 30 de janeiro. 

O tema central do encontro que decorreu durante a tarde de ontem foi a criação de três categorias nas carreiras dos enfermeiros e, sobre a reunião, Carlos Ramalho, esclareceu ao i que existe uma aproximação entre a tutela e os sindicatos: “Pode dizer-se que continua a haver alguma aproximação”, e acrescenta que “esta reunião foi um pouco mais tímida, mas as posições neste momento não estão extremadas como estavam há algum tempo”. 

O clima de aproximação convenceu os sindicatos a adiar a greve, o que é também, segundo Carlos Ramalho “um gesto de boa vontade para poder manter o clima de negociação favorável”. Além disso, os sindicatos mostraram-se compreensíveis com o governo: “o ministério precisa de algum tempo para avaliar o impacto orçamental [das propostas] e nós também precisamos de tempo para marcar as nossas posições”, diz o presidente do Sindepor. 

A avançar com a nova greve, esta deverá ter os mesmo contornos da última paralisação realizada entre os dias 22 de novembro e 31 de dezembro de 2018. E, recorde-se, a última paralisação levou ao cancelamento de cerca de 10 mil cirurgias. 

Quanto ao dinheiro angariado pelo movimento “Greve Cirúrgica” – que reuniu 420 mil euros para financiar a greve nos blocos operatórios – se, no dia 30 de janeiro, a greve for desconvocada, então será devolvido aos mais de 10 mil apoiantes do grupo que dinamizaram o movimento. 

“Não é possível fazê-lo, de todo” São as palavras da ministra da Saúde, Marta Temido, que depois de abordar as propostas do governo para a nova lei de bases – assunto a ser debatido no próximo dia 23 – aproveitou para se referir aos enfermeiros. E não é possível responder às reivindicações das estruturas sindicais porque isso implicaria para o Estado uma despesa de que ultrapassaria os 300 milhões de euros. “O caminho que nós já andámos importa em 200 milhões de euros só para esta profissão. O caminho que agora nos pedem vai além dos 500 milhões de euros em efeitos remuneratórios se todas as reivindicações fossem atendidas”, disse na sexta-feira Marta Temido.

“A ministra da Saúde não é apenas ministra dos profissionais de Saúde e o governo não é apenas governo das reivindicações profissionais; têm de, em primeira mão, satisfazer o interesse público e dos cidadãos. E têm também de garantir equidade de tratamento entre as várias profissões e a sustentabilidade [do sistema] a longo prazo”, esclareceu.