Independentemente do resultado que nos próximos meses vier a acontecer no PSD, aquilo que se tem passado no partido é bem revelador do estado e modo de fazer política nos tempos atuais. Comentam-se pessoas, candidatos a líder e a primeiro-ministro sem que à volta desta controvérsia exista o debate de ideias, visões, estratégias ou princípios para o país. Esta ausência e vazio de ideias acontece por penúria no rasgo dos intervenientes que constituem a classe, muito particular e estrita, dos políticos profissionais. Muitos destes políticos que faz anos nos entram em casa todos os dias, pelos meios e redes de comunicação, pouco ou nada fizeram para além da política que por cá se pratica e que tem por único objetivo a conquista do poder – o poder pelo poder que traz o conforto a quem da política faz profissão. Para um político deste calibre profissional, o estar arredado da possibilidade de ser eleito corresponde ao desemprego para alguém profissionalmente ativo. A ação e a propriedade da política em Portugal são essencialmente dessas pessoas e apenas a esses está reservada a capacidade de ser eleito. O modelo de listas de candidatos indicados pelos partidos é responsável por este ambiente. Este é, aliás, um denominador comum a todos os partidos.
A sociedade fica a perder pela falta de esperança que tudo isto nos traz. No lado do governo socialista, uma sobranceria digna de quem não tem noção das consequências desta deriva festiva; do lado do PSD, uma ausência de desígnios que em frente alguma é capaz de atrair os portugueses. É aqui que fica difícil de aceitar para quem defende uma visão reformista dos modelos político e socioeconómico.
Perante a hipocrisia e a irresponsabilidade da esquerda que governa de forma inconsciente, esperar-se-ia que um partido com a história e responsabilidade do PSD estivesse nesta fase com um programa claro e galvanizador que pudesse travar e inverter a tendência socrática (bem presente neste governo) de desequilíbrio e deterioração da saúde económica e financeira da nação. O Portugal contemporâneo apresenta a mais alta taxa fiscal da sua história e a maior dívida de sempre, constituindo a respetiva carga per capita a mais alta da Europa. Exportando menos do que importa, com índices de produtividade e crescimento dos mais baixos da zona euro e com a população a envelhecer, o cenário afigura-se muito perigoso. O país necessita de um sistema político e modelo de governação distinto, permitindo que personalidades não profissionais da política, com vontade de representar a social-democracia meritocrática, possam aceder ao poder e à governação. A social–democracia meritocrática do séc. xxi obriga ao aparecimento de novos atores com vontades e noções claras para a transformação de que este país necessita para se livrar do peso do Estado, do fascismo fiscal e do excesso de endividamento – tudo características altamente condenáveis.
Só o debate de ideias e estratégias novas para problemas antigos nos permitirá alterar o rumo do desastre. Enquanto os políticos profissionais imperarem e porque eles pensam demasiadamente em si, vai ser difícil pensar o país. A alteração do sistema eleitoral é elemento imprescindível a esta evolução.
Meritocrata social-democrata
Gestor, professor de Gestão do ISCTE
Subscritor do “Manifesto: Por Uma Democracia de Qualidade”