A intimidade na relação sexual


Segundo a Organização Mundial de Saúde, em Portugal a média para o início da atividade sexual é de apenas 14 anos. O excesso de informação, associado à falta de maturidade, pode ser um catalisador deste comportamento


Não há uma idade certa para nos dirigirmos aos filhos e termos “aquela” conversa. O que pode ser o momento adequado para um rapaz de 13 anos, pode ser um momento descabido para um outro da mesma idade, já que nesta fase têm ritmos de crescimento e de desenvolvimento emocional com uma amplitude muito vasta. Basta olharmos para os adolescentes que nos aparecem à frente e a dificuldade que temos em descortinar a sua idade, sendo que quando finalmente nos dizem quantos anos já têm, não evitamos uma exclamação, que tantas vezes ouvimos na nossa juventude: “Tão crescido!” 

Há rapazes com 13 anos, a idade em que oficialmente ascendem à categoria de adolescentes, que ainda são uns meninos, com um timbre de voz melodioso, o rosto suave, as mãos delicadas, ombros estreitos e uma altura pouco impressionável. Depois há os outros: com a mesma idade, mas com uma voz grave e poderosa (o aumento dos decibéis é proporcional ao aumento de tamanho físico), com as mãos de homem feito, as maçãs do rosto evidenciadas, sobrancelhas fartas, o tronco a alargar e a altura… quanto à altura, passamos a olhar de baixo para cima, quando conversamos com eles, provocando algumas complicações no nosso pescoço frágil de mães, quando as conversas são mais exigentes e não estamos preparadas para o primeiro embate. Mas depressa aprendemos e recordamos os nossos pais; ouvimo-nos a dizer exatamente o mesmo que eles nos diziam quando tínhamos a idade dos nossos filhos. E tudo faz sentido.

Com as raparigas passa-se o mesmo, com outras variantes, ou não fôssemos diferentes desde o momento em que nascemos, no comportamento e como nos desenvolvemos.

Nos dias de hoje, não há conversas que não se tenham, pensamos nós. Fala-se de tudo com muito à-vontade, até porque os temas proibidos deixaram de o ser e assumiram uma centralidade natural nas relações entre pais e filhos. Fala-se de futebol, de religião, de política (pouco porque passou a ser considerado um tema desinteressante, apesar da sua importância para a vida quotidiana), do consumo de álcool, do perigo das drogas e do aliciamento que podem vir a ser alvo por parte de “amigos”, de escola, da empregabilidade e dos empregos com futuro, e de relações sexuais. Será? 

O que há para conversar sobre relações sexuais? Se nos orientarmos pelos programas que compreendem as aulas de educação sexual, o guião dá-nos umas indicações relativamente às doenças sexualmente transmissíveis, aos métodos de contraceção que podem estar ao dispor para evitar uma gravidez não desejada, e até mesmo uma abordagem ao consumo de pornografia. Toda esta informação pode ser encontrada em qualquer pesquisa superficial num motor de busca, como o Google. E se questionarmos os nossos adolescentes sobre estes três tópicos, facilmente nos responderão, com propriedade, sobre qualquer um deles.

Contudo, se lhes colocarmos outras questões, poderemos depararmo-nos com respostas balbuciadas e entarameladas, denunciando a ausência de reflexão sobre o tema, e até alguma surpresa. 

O que leva um rapaz a ter a sua primeira experiência sexual aos 11 anos? E uma rapariga aos 14 anos? Segundo a Organização Mundial de Saúde, em Portugal, a média para o início da atividade sexual é de apenas 14 anos. O excesso de informação pode ser um catalisador deste comportamento, associado à falta de maturidade.

Em casa, acabamos por repetir tudo aquilo que ouvem noutros “fóruns”, seja entre amigos, em buscas na internet, na escola, ou na televisão. De tão doutrinados que estamos para sermos pais presentes e abertos nesta variante do seu crescimento, que focamos a abordagem a este tema de uma forma muito técnica, subvalorizando outras perspetivas do seu desenvolvimento sexual, ignoradas pelos canais facilitadores.

Onde entra a intimidade na relação sexual? O “sexting” veio substituir os preliminares, mas também os olhares que aproximam, as mãos que tocam e provocam o frio na espinha, o segredo que foi dito ao ouvido e que se levou para casa, com um formigueiro na barriga e que os adormeceu a pensar no reencontro do dia seguinte. Sensações que aproximam e levam tempo a compreender o que o outro quer e até o que o próprio deseja, que dão a conhecer a parte mais recatada de cada um e despertam a vontade de conhecer ainda mais. Como explicar que o tempo é um aliado nas relações entre pessoas? Que a intimidade é o que une duas pessoas e é sinónimo de tempo? Que, nestas idades, a relação sexual e o desejo de a consumar não passam de estímulos que o corpo vai recebendo em doses perturbadoras, e que a maturidade significa pensar sobre o que verdadeiramente importa e o que os define enquanto pessoas?

A primeira vez é diferente para as raparigas e para os rapazes. As raparigas tendem a recordar a pessoa com quem estiveram e o carinho que receberam, enquanto os rapazes têm uma recordação mais pragmática, digamos assim, do acontecimento: recordam o ambiente e a performance.

Eles não sabem que este momento pode ser especial, se não lhes transmitirmos que este momento é irrepetível nas suas vidas. Tais como muitos outros: a primeira história, a primeira papa, o primeiro dente, o primeiro dia de creche, o primeiro dia de escola, o primeiro torneio ou espetáculo, o primeiro natal, a primeira saída à noite e porque não constar na galeria de grandes recordações e de momentos mais marcantes, a primeira relação sexual? Um momento tão importante no seu crescimento e desenvolvimento como qualquer um dos outros e que, tal como os anteriores, mas com outra profundidade, deve ser tratado com a mesma relevância e sobrevalorizado pela sua unicidade e pelo seu significado. Desvalorizar os sentimentos, ou esvaziar de sentimentos um momento como este, é consentir que não há sublimação nas relações entre homem e mulher, e que tudo não passa de um sucedâneo de repetições sem significado. A um jovem não se deseja que inicie a sua vida sexual segundo este pressuposto, é necessário que acredite na sublimação para que o seu interior se preencha e ganhe densidade.

 

Escreve quinzenalmente

A intimidade na relação sexual


Segundo a Organização Mundial de Saúde, em Portugal a média para o início da atividade sexual é de apenas 14 anos. O excesso de informação, associado à falta de maturidade, pode ser um catalisador deste comportamento


Não há uma idade certa para nos dirigirmos aos filhos e termos “aquela” conversa. O que pode ser o momento adequado para um rapaz de 13 anos, pode ser um momento descabido para um outro da mesma idade, já que nesta fase têm ritmos de crescimento e de desenvolvimento emocional com uma amplitude muito vasta. Basta olharmos para os adolescentes que nos aparecem à frente e a dificuldade que temos em descortinar a sua idade, sendo que quando finalmente nos dizem quantos anos já têm, não evitamos uma exclamação, que tantas vezes ouvimos na nossa juventude: “Tão crescido!” 

Há rapazes com 13 anos, a idade em que oficialmente ascendem à categoria de adolescentes, que ainda são uns meninos, com um timbre de voz melodioso, o rosto suave, as mãos delicadas, ombros estreitos e uma altura pouco impressionável. Depois há os outros: com a mesma idade, mas com uma voz grave e poderosa (o aumento dos decibéis é proporcional ao aumento de tamanho físico), com as mãos de homem feito, as maçãs do rosto evidenciadas, sobrancelhas fartas, o tronco a alargar e a altura… quanto à altura, passamos a olhar de baixo para cima, quando conversamos com eles, provocando algumas complicações no nosso pescoço frágil de mães, quando as conversas são mais exigentes e não estamos preparadas para o primeiro embate. Mas depressa aprendemos e recordamos os nossos pais; ouvimo-nos a dizer exatamente o mesmo que eles nos diziam quando tínhamos a idade dos nossos filhos. E tudo faz sentido.

Com as raparigas passa-se o mesmo, com outras variantes, ou não fôssemos diferentes desde o momento em que nascemos, no comportamento e como nos desenvolvemos.

Nos dias de hoje, não há conversas que não se tenham, pensamos nós. Fala-se de tudo com muito à-vontade, até porque os temas proibidos deixaram de o ser e assumiram uma centralidade natural nas relações entre pais e filhos. Fala-se de futebol, de religião, de política (pouco porque passou a ser considerado um tema desinteressante, apesar da sua importância para a vida quotidiana), do consumo de álcool, do perigo das drogas e do aliciamento que podem vir a ser alvo por parte de “amigos”, de escola, da empregabilidade e dos empregos com futuro, e de relações sexuais. Será? 

O que há para conversar sobre relações sexuais? Se nos orientarmos pelos programas que compreendem as aulas de educação sexual, o guião dá-nos umas indicações relativamente às doenças sexualmente transmissíveis, aos métodos de contraceção que podem estar ao dispor para evitar uma gravidez não desejada, e até mesmo uma abordagem ao consumo de pornografia. Toda esta informação pode ser encontrada em qualquer pesquisa superficial num motor de busca, como o Google. E se questionarmos os nossos adolescentes sobre estes três tópicos, facilmente nos responderão, com propriedade, sobre qualquer um deles.

Contudo, se lhes colocarmos outras questões, poderemos depararmo-nos com respostas balbuciadas e entarameladas, denunciando a ausência de reflexão sobre o tema, e até alguma surpresa. 

O que leva um rapaz a ter a sua primeira experiência sexual aos 11 anos? E uma rapariga aos 14 anos? Segundo a Organização Mundial de Saúde, em Portugal, a média para o início da atividade sexual é de apenas 14 anos. O excesso de informação pode ser um catalisador deste comportamento, associado à falta de maturidade.

Em casa, acabamos por repetir tudo aquilo que ouvem noutros “fóruns”, seja entre amigos, em buscas na internet, na escola, ou na televisão. De tão doutrinados que estamos para sermos pais presentes e abertos nesta variante do seu crescimento, que focamos a abordagem a este tema de uma forma muito técnica, subvalorizando outras perspetivas do seu desenvolvimento sexual, ignoradas pelos canais facilitadores.

Onde entra a intimidade na relação sexual? O “sexting” veio substituir os preliminares, mas também os olhares que aproximam, as mãos que tocam e provocam o frio na espinha, o segredo que foi dito ao ouvido e que se levou para casa, com um formigueiro na barriga e que os adormeceu a pensar no reencontro do dia seguinte. Sensações que aproximam e levam tempo a compreender o que o outro quer e até o que o próprio deseja, que dão a conhecer a parte mais recatada de cada um e despertam a vontade de conhecer ainda mais. Como explicar que o tempo é um aliado nas relações entre pessoas? Que a intimidade é o que une duas pessoas e é sinónimo de tempo? Que, nestas idades, a relação sexual e o desejo de a consumar não passam de estímulos que o corpo vai recebendo em doses perturbadoras, e que a maturidade significa pensar sobre o que verdadeiramente importa e o que os define enquanto pessoas?

A primeira vez é diferente para as raparigas e para os rapazes. As raparigas tendem a recordar a pessoa com quem estiveram e o carinho que receberam, enquanto os rapazes têm uma recordação mais pragmática, digamos assim, do acontecimento: recordam o ambiente e a performance.

Eles não sabem que este momento pode ser especial, se não lhes transmitirmos que este momento é irrepetível nas suas vidas. Tais como muitos outros: a primeira história, a primeira papa, o primeiro dente, o primeiro dia de creche, o primeiro dia de escola, o primeiro torneio ou espetáculo, o primeiro natal, a primeira saída à noite e porque não constar na galeria de grandes recordações e de momentos mais marcantes, a primeira relação sexual? Um momento tão importante no seu crescimento e desenvolvimento como qualquer um dos outros e que, tal como os anteriores, mas com outra profundidade, deve ser tratado com a mesma relevância e sobrevalorizado pela sua unicidade e pelo seu significado. Desvalorizar os sentimentos, ou esvaziar de sentimentos um momento como este, é consentir que não há sublimação nas relações entre homem e mulher, e que tudo não passa de um sucedâneo de repetições sem significado. A um jovem não se deseja que inicie a sua vida sexual segundo este pressuposto, é necessário que acredite na sublimação para que o seu interior se preencha e ganhe densidade.

 

Escreve quinzenalmente