A páginas tantas de mais um fantástico livro – “Para Acabar de Vez com a Cultura” -, Woody Allen proporciona-nos uma surreal viagem onde acompanhamos o diário de Vargas em seu projeto revolucionário.
Emilio Molina, de seus primeiros nomes, é o homem que lidera a impensável revolução que sonha acabar com as ditaduras na América Latina.
Vargas é, admitamo-lo, um sonhador.
Tudo lhe irá correr bem; podem, nesse aspeto e sem receios, ir a correr comprar a obra, manusear o capítulo “Viva Vargas” e confirmem-no por favor por vossas mãos, peço-vos eu e pede-vos a esperança, que deseja que nunca a percam a ela mesma, no sentido de que toda a revolução é possível, incluindo aquelas que à partida julgamos saber condenadas a um estrondoso fracasso.
E se Arroyo, este tirano saído da pena de Allen, apenas um tirano mais em terra deles tão fértil, se Arroyo caiu, ou quase caiu, aos pés e mãos da mais improvável conjuntura revolucionária, com início numa queda à saída da banheira, amparada por fileira de dentes que assim veem terminada sua compostura geométrica, então podemos concluir que sim, que ele há que teimar e nunca desistir.
E se, como recentemente constatámos, a quantidade de notícias acerca de um não futebolista português se vai multiplicando como os peixes e pães na história trazida, ganhando tiques de cogumelização em sua crescente expansão, podemos e devemos pegar no verbo e espalhá-lo, transformando esta tão pouco provável alquimia entre Allen, Vargas e Oliveira, que de uma penada e sem piedade arrasam a descrença de que nada neste país é possível.
É, sim.
É possível, é fácil, reconfortante, recompensador, é anímico, vitamínico, revolucionário, necessário e, acima de tudo, faz parte daquela mudança de mentalidades que apregoamos há que anos e que esquecemos a cada dia que passa.
E se todos nós guardamos um pouco da louca insensatez de Allen, se todos nós usamos e abusamos, em palavras mas pronto, do espírito de Vargas, porque esperamos então para meter uma abaixo e seguir circuito fora, fazendo da desfutebolização a nossa bandeira de xadrez?
É que é já de seguida!
Em muitas sextas, sábados e domingos.