A venda de carros a gasóleo tem vindo a cair, numa altura em que o cerco está cada vez mais apertado para os carros mais poluentes. Nos primeiros 10 meses do ano passado foram vendidos menos 11 mil veículos a diesel quando comparado com igual período do ano anterior, o que representa uma queda de 9,5%, de acordo com os últimos dados da Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP). Esta diminuição poderá ultrapassar os 10% se tivermos em conta os números até ao final do ano, que ainda não estão fechados.
Com esta redução também a quota de mercado sai beliscada e fica bem longe dos números passados. Mas vamos a valores. A quota de mercado dos carros a gasóleo caiu para os 53,3% nos primeiros quatro meses deste ano; em 2017, no mesmo período, os diesel novos representavam 62,2%. Há apenas cinco anos, três em cada quatro carros eram a gasóleo (76,8%).
A verdade é que esta tendência não se verifica apenas em Portugal. Os passos de abandono foram dados primeiro na Europa e os consumidores portugueses acabaram por não ficar alheios a este comportamento. A opinião é unânime junto de vários especialistas: a tendência é para continuar a agravar-se. Um cenário que é refletido no relatório Cepsa Energy Outlook 2030, segundo o qual em 2030 apenas 15% dos carros novos em 2030 serão a diesel. Nesse ano, os carros a gasolina deverão representar entre 30% e 35% do mercado, ainda assim, abaixo dos 40,3% verificados entre janeiro e abril deste ano. A ganhar terreno estarão os híbridos (35%) e os elétricos (15%).
Também a comissária europeia da Indústria não tem poupado este mercado. Para Elzbieta Bienkowska, “os carros a gasóleo estão acabados” e consistem numa “tecnologia do passado”. E dá uma explicação: a fraude de 11 milhões de veículos de carros a gasóleo do grupo Volkswagen foi o ponto de viragem na perceção de Bruxelas em relação a estas motorizações.
O que é certo é que a União Europeia prepara-se para acelerar a revolução tecnológica no transporte rodoviário e tentar que a Europa continue na liderança nesta indústria, mesmo com a concorrência dos Estados Unidos e da China. A comissária polaca entende ainda que a sociedade “já se apercebeu de que nunca haverá carros a gasóleo completamente limpos – isto é, sem emissões de NOX [óxido de nitrogénio]”. Os carros a gasóleo representam metade do mercado automóvel europeu e poluem mais do que os veículos a gasolina, embora contribuam menos para o aquecimento global. Bruxelas, tendo em conta os problemas de saúde provocados pelos motores a gasóleo, vai poder multar as marcas automóveis que infringirem as regras de emissões. Estas poderão ter de pagar até 30 mil euros por cada veículo ambientalmente defeituoso, acompanhando a política seguida nos últimos anos pela agência do Ambiente dos Estados Unidos (EPA, na sigla original).
cerco Mas enquanto Bruxelas se debate com formas de combater os carros a diesel, já há cidades europeias que deram o pontapé de saída nesta matéria. Hamburgo foi a primeira cidade a proibir parcialmente o tráfego dos veículos a diesel mais poluentes. A medida entrou em vigor a 31 de maio e aplicou-se a zonas, onde os níveis de dióxido de nitrogénio ultrapassam os limites estabelecidos pela UE. Quem violar esta norma arrisca-se ao pagamento de uma multa no valor de 75 euros.
O que é certo é que as restrições não ficam por aqui. Copenhaga, na Dinamarca, pretende proibir a circulação de carros a diesel a partir deste ano. Madrid prevê restringir o acesso dos carros a boa parte de sua área central até 2020. Já Paris quer banir todos os veículos poluentes até 2030 e reservar algumas ruas apenas para a circulação de automóveis elétricos. Também Londres alinhou pelo mesmo diapasão, primeiro ao cobrar uma taxa de 30 libras para entrar no centro da cidade, medida que depois quer alargar ao resto da cidade.