Réveillon. O espetáculo só vai parar para brindar com os espetadores

Réveillon. O espetáculo só vai parar para brindar com os espetadores


Entrar em 2019 a rir para trazer alegria ao novo ano. É esta a proposta dos réveillons no Politeama e no teatro Maria Vitória. No dia 31, as sessões têm um toque especial e os espetadores até podem subir ao palco


A noite da passagem do ano é acompanhada, muitas vezes, por superstições: a roupa interior azul para trazer boa sorte, as 12 passas com os 12 desejos e há mesmo quem acredite que passar a meia-noite a rir traz alegria para o novo ano. Por isso, tanto o Politeama como o teatro Maria Vitória prepararam espetáculos de réveillon a pensar na alegria do público. As peças “Eu Saio na Próxima, e Você?” e a revista à portuguesa “ParqueMania”vão despedir-se do ano velho em palco e entrar em 2019 com tradição e muitas gargalhadas.

“É sempre uma noite de alegria e de festa que vai pela noite fora. Os espetadores sabem com o que podem contar no Politeama: entrar em 2019 à gargalhada para começar bem o ano”, explica Filipe La Féria, produtor do Teatro Politeama. A noite começa às 21h30 com o espetáculo “Eu Saio na Próxima, e Você?”, protagonizado por João Baião e Marina Mota, e, à meia-noite, está programado um momento de boas-vindas ao novo ano. “A passagem de ano vai ser como normalmente acontece em teatro. À meia-noite pararemos para brindar com o público a passagem de 2018 para 2019 e vai coincidir mais ou menos no final da peça. Conversaremos um bocadinho com o público e depois há meia hora, 40 minutos de variedades”, explica a atriz Marina Mota. Filipe La Féria é quem sobe ao palco para brindar o novo ano. “Ouvem-se as badaladas, eu entro no palco, peço a uma pessoa para representar o público e fazemos uma saúde ao novo ano que aí vem”, conta o produtor que faz deste momento uma tradição no Politeama.

No entanto este ano há uma novidade: João Baião e Marina Mota terão um número musical inspirado no cantar das janeiras, “nos versos criticam os acontecimentos deste país, da geringonça, de tudo”, explica, reforçando que se trata de um momento único. “Serão três minutos com uma música, com quadras onde se falará eventualmente de Bruno de Carvalho – um dos acontecimentos que marcou o ano -, da casa da Ericeira de Sócrates, e de outras situações do género”, antecipa Marina Mota.

Para João Baião, passar o ano em cima do palco “tem um sabor especial”. “Há quem tenha a superstição ou o pensamento de que acabar o ano a trabalhar e começar o novo ano a trabalhar significa que será um ano de trabalho. Eu já passei muitos anos a trabalhar e gostei sempre muito da sensação porque acaba por ser um dia de festa”, explica o ator, acrescentando que apesar de não acreditar em superstições estreia sempre “umas cuecas azuis” e coloca “uma nota dentro do sapato”. Depois do espetáculo a festa continua com um buffet no Salão Nobre do Politeama, com DJ a animar atores e público. “As pessoas são sempre muito simpáticas, carinhosas e afetivas. Mas nesta noite estão mais sensíveis e mais disponíveis para a festa e para a conversa. É uma noite muito engraçada”, conta o ator.

No ano passado, João Baião fez também o réveillon em palco, aí com a peça “A Volta ao Mundo em 80 Minutos”, que estreava nesse dia no palco do Politeama – depois de 11 meses em cena no Casino Estoril – com dois números novos. “Havia os nervos da estreia, de saber como é que o público ia reagir e também os nervos que tínhamos porque o número novo incidia na meia-noite”, recorda. “Quando na passagem de ano estamos com uma peça em cena, o habitual é parar o espetáculo à meia-noite exata, brindarmos com o público e continuarmos com o espetáculo. É um hábito, uma tradição muito usada no teatro de revista”, recorda Marina Mota.

A noite em que o palco deixa de ser dos atores No teatro Maria Vitória, situado no coração do Parque Mayer, a tradição é palavra de ordem. O dia 31 de dezembro tem sempre dois espetáculos: um que começa às 20h30 e outro às 23h00. “Há um público que gosta de se despedir do ano velho estando no teatro e outro – a maior parte – gosta de entrar no ano novo estando a assistir ao espetáculo”, explica Hélder Freire Costa, produtor do Maria Vitória há já 54 anos. Seguindo uma lógica semelhante, os atores que estão em palco param o espetáculo minutos antes da meia-noite e “a companhia é toda chamada ao palco”, conta Patrícia Teixeira, a atriz de 20 anos que é a mais jovem. “Os bailarinos e o resto da companhia que não está em cena vestem uma roupinha que trazem de casa – o vestidinho ou o smoking. Eu nunca tive muita sorte porque calha sempre nas minhas rábulas, ou seja passo a meia-noite com roupa de cena”, conta a atriz, relembrando que no primeiro ano em que integrou a companhia entrou no novo ano “com um body”. A luta entre os atores para saber a quem calha o celebrar da meia noite também é tradição, conta Hélder Freire Costa. “Faz parte da festa: “‘Vai calhar comigo’, ‘não, calha comigo’ e depois acontece ser um ator que não se esperava porque depende de como corre o espetáculo”. 

No teatro de revista não há um momento fixo para parar o espetáculo, e é o contrarregra quem dá o sinal aos atores. “Hoje em dia toda a gente tem telemóveis e começa-se logo a ouvir o barulho mesmo antes de parar o espetáculo”, acrescenta. Abre-se o champanhe, comem-se as passas e o público é convidado a subir ao palco para festejar com música e serpentinas. “Fazemos a tradicional contagem decrescente com o público e é uma grande festa. O público costuma vir ter connosco ao palco ou nós vamos ter com o público”, explica Patrícia Teixeira.

“Às tantas, o palco deixa de ser dos atores e passa a ser de partilha entre os atores e o público”, reforça Miguel Dias, ator e escritor da revista “ParqueMania”. “As pessoas vêm para o palco, dançamos e brindamos e é sempre um momento muito engraçado. Os espetadores sentem que há ali um momento especial, não é meramente uma passagem de ano – digamos – profissional.”

A procura pelos espetáculos de réveillon é grande e há pessoas que escolhem esta altura específica para vir ver a revista “e todos os anos aquelas pessoas estão ali naquele dia”, partilha Patrícia Teixeira reforçando o “carinho” que se vai estabelecendo com o público.

Depois dos festejos da meia-noite – que podem chegar a durar meia hora -, as cortinas descem numa curta pausa para que os espetadores possam voltar aos seus lugares e continuar a ver o espetáculo.

A família e a segunda família Enquanto muitos procuram uma passagem de ano com a família ou com os amigos, os atores sobem ao palco para proporcionar ao público uma entrada no novo ano diferente. Para muitos já é normal passar a meia-noite do dia 31 de dezembro fora de casa. Paulo Vasco, por exemplo, já não consegue imaginar “passar uma passagem de ano sem trabalhar”. “Houve um ano em que estava no Politeama e não tivemos espetáculo nesse dia e eu vim passar a passagem de ano no Maria Vitória. No intervalo das sessões estava a chover tanto que acabei por apanhar uma grande molha. Disse que era ‘fim de ano molhado, fim de ano abençoado’”, recorda o ator.

Para Marina Mota, é um dia “perfeitamente normal”. “Eu estou com a minha família o ano inteiro, estamos juntos 365 dias por ano, portanto não temos necessidade de eleger um dia específico para estarmos juntos”, explica, acrescentando que por vezes a família a acompanha nos espetáculos “se estiverem disponíveis e lhes apetecer”. Também João Baião diz que a família prefere “ficar no quentinho da casa” a juntar-se aos espetadores do Politeama. No entanto, o ator cumpre sempre um ritual: “Depois da meia-noite costumo sempre ligar para todos e mandar beijinhos e bom ano. Já há essa tradição”.

Mas há quem não deixe de celebrar este momento em família. Os pais de Patrícia Teixeira fazem questão de estar presentes e levam alguns amigos com eles e a família de Miguel Dias também gosta de celebrar as entradas no novo ano no teatro. “É um momento de família. As famílias vão juntas e as nossas famílias também lá estão”, explica o ator e escritor. Para além disso, a própria companhia e já uma segunda família. “Somos uma companhia muito unida, que funciona muito como uma família” e, por isso, no final da atuação, mesmo estando cansados, os atores juntam-se para celebrar o novo ano numa pequena festa privada.

No Natal há também um momento de partilha entre a companhia do Maria Vitória. Com duas sessões no dia 25 – à matiné e à noite -, os atores organizam anualmente um jantar partilhado e uma troca de prendas, numa tradição que já vem de longe. “Como nós trabalhamos no dia 25, temos um espaço lá no teatro onde jantamos todos juntos e fazemos a troca de prendas do amigo secreto”, conta Patrícia Teixeira, a quem este ano calhou como amigo secreto a colega atriz Susana Cacela.

Novo ano, mais espetáculos A peça “Eu Paro na Próxima, e Você?” termina na sessão de réveillon as sessões no Politeama, iniciando uma pequena tournée por vários pontos do país. “Em janeiro, a partir do segundo fim de semana e até ao final do mês estaremos no Teatro Sá da Bandeira, no Porto. Depois iremos à Guarda e a Braga”, explica Marina Mota. O espetáculo vai já a caminho do décimo mês em cena, tendo já ultrapassado as 200 representações. Quanto ao teatro Maria Vitória, a revista “ParqueMania”, que estreou em setembro, irá manter-se em cena com sessões de quinta a domingo às 21h30 e matinés ao fim de semana às 16h30.