A greve cirúrgica dos enfermeiros – que começou a 22 de novembro e termina hoje – tem deixado os hospitais a trabalhar a meio gás, com milhares de cirurgias a serem canceladas. De acordo com as estruturas sindicalistas, por dia, em média, estavam a ser canceladas cerca de 500 operações.
Só nas primeiras duas semanas de greve foram adiadas cerca de cinco mil cirurgias e, segundo o site oficial do Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor), até dia 17 deste mês estimava-se que tivessem sido adiadas cerca de nove mil operações. “Tendo em conta que neste momento uma grande maioria das cirurgias programadas já não o estão a ser, neste momento uma aferição virtual com uma ideia real sobre o normal funcionamento das instituições e blocos abrangidos, permitir-nos-ia ter até hoje 9000 cirurgias canceladas”, pode ler-se no site do sindicato.
Carlos Ramalho, presidente do Sindepor, que, no início de dezembro, considerou que o protesto estava a ter uma adesão muito forte, em declarações à Lusa afirmou que “continuam a ser diariamente adiadas ou desprogramadas cerca de 500 cirurgias e os colegas continuam a aderir com muita força e continuam empenhados nesta luta até quando for necessário”.
Quase a terminar a greve – que abrangeu cinco grandes hospitais: Centro Hospitalar S. João no Porto, o Centro Hospitalar e Universitário do Porto, o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, o Centro Hospitalar Lisboa Norte e o Centro Hospitalar de Setúbal – os enfermeiros já fizeram saber que vão continuar com os protestos no próximo ano.
Em meados de dezembro Carlos Ramalho tinha revelado ao i que os sindicatos tinham o pré-aviso de greve guardado na gaveta e que este só veria a luz do dia se não se alcançasse um acordo. Como o executivo não deu o braço a torcer, os sindicatos também não voltaram atrás e anunciaram uma nova greve nos blocos operatórios, já batizada “greve cirúrgica 2” – com data de início para 14 de janeiro e fim previsto a 28 de fevereiro – e que desta vez irá abranger sete unidades hospitalares.
Contudo, a paralisação poderá ser desconvocada se houver acordo com o governo – que a 3 de janeiro irá reunir com os sindicatos. “Estaremos mais do que preparados para endurecer ainda mais a luta se não houver uma proposta concreta e séria que nos satisfaça”, revelou o Sindepor no seu site oficial.
À semelhança da primeira paralisação – que recolheu mais de 360 mil euros -, também esta, a concretizar-se, será financiada através de uma angariação de fundos. Até ao dia de ontem, já tinham sido angariados mais de 132 mil euros, mas o objetivo final é angariar 400 mil euros. Os enfermeiros admitiram que este segundo protesto é o “tudo ou nada” e, se até ao dia 14 de janeiro – data em que termina a recolha de fundos -, não tiver sido atingida a meta dos 400 mil euros “os fundos serão devolvidos e a continuidade da luta posta em causa”.
Soma-se ainda a greve geral dos enfermeiros, agendada para os dias 8 a 11 de janeiro. Os enfermeiros exigem que o governo reveja a carreira e a tabela remuneratória, que as progressões sejam descongeladas e que seja criada uma categoria para enfermeiros especialistas.