Chegados ao tempo em que até o irritantemente optimista, na escala de Marcelo, primeiro-ministro, admite que o dinheiro do Estado afinal não é infinito e que há carreiras que, afinal, não vão ser aumentadas, que outras evidências de fim de ciclo, afinal, podemos retirar de uma quase inteira legislatura dos geringonços.
Uma primeira e necessária nota vai – admitindo-se claro está que a coerência, integridade e verticalidade podem e devem ser tomados em doses homeopáticas e à medida de cada um – para o espectáculo absolutamente patético e insultuoso que o PC oferece aos Portugueses, essencialmente os mais pobres, de mandar os sindicatos paralisar o país a reivindicar mais dinheiro, menos trabalho e outras benesses surtidas à custa do orçamento do Estado, quando a aprovação do mesmo, afinal, foi garantida com os seus votos.
Esta versão com contornos de distúrbio bipolar que os partidos assumem, de dizer lutar na rua contra aquilo que aprovam no parlamento, é um dos espectáculos mais patéticos que conseguimos imaginar e, do ponto de vista da tal coerência e integridade, demonstram tudo sobre a utilidade dessas ditas agremiações e do absoluto desinteresse que as pessoas, afinal, desempenham nesta equação, quando os jogos políticos dos deputados e dirigentes se lhes sobrepõem.
É exactamente agora, com a legislatura a acabar, que há espaço para confrontar a retórica palaciana da clique do PS que atacou o poder como um projecto pessoal de António Costa e que, mais de três anos passados sobre a derrota que o levou ao poder, ainda não se achou responsável por nada (que seja menos conseguido) e que tenha acontecido neste país.
Nesta fase ainda há um capítulo inteiro do relatório dos incêndios por publicar, há pessoas que morreram à espera daquela reparação que o Presidente da República garantiu com a sua penhora pessoal que aconteceria em tempo, mas que, afinal, não chegou, e continua a morrer gente de forma trágica perante a posição inexplicável do Governo que discute apenas e só sobre se há, ou não, evidências de que o Governo conhecesse os dossiers que, só por caso, lhe cumpre conhecer.
Dos tais ensinamentos que os sábios levaram ao relatório e que Costa diz ter apreendido e ser necessário aprender, ao mesmo tempo que mais umas dezenas sucumbiram mortos, queimados vivos, à sua ignorância e à dos seus sucessivos MAI, nada se conhece e nada se aprendeu, como Monchique demonstrou com estrondo e a mão cheia de nada, até agora na protecção civil deixam antever.
Que dizer então e também sobre o alegado fim da austeridade e da propalada devolução de rendimentos, quando, afinal, se batem recordes sucessivos da maior carga fiscal Portuguesa de sempre e já agora, também, de valores absolutos de dívida pública.
Mas pior, não bastava que já fosse muito evidente que o Governo beneficiou de forma desigual as suas clientelas da função pública, ficámos a saber, entretanto, que o rendimento subiu duas vezes mais no sector público que no privado.
E, curiosamente, ficou a saber-se que é exactamente em final desta legislatura que, afinal, numa sucessão de anos de recuperação mesmo no âmbito da troika, o poder de compra, afinal, não viu qualquer devolução mas sim baixa pela primeira vez.
Aliado a isto, quer por desinvestimento, por cativação ou agora lutas sindicais dos não contemplados pelo bodo de Costa, os serviços público de uma forma geral, com especial enfoque para o SNS (MAC com um anestesista; ruptura generalizada de serviços nos hospitais públicos a que acresce a greves dos enfermeiros instrumentistas), greves na CP com mais 50% do material circulante parado; juízes; ao que tudo indica e em breve Ministério Público; mas também Finanças; Polícias e Guardas Prisionais, Professores e todo o Estado em geral tendem para a paralisação.
Perante isto, e como confesso governo de esquerda, os novos ministros de Costa com o seu beneplácito, olham para este cenário e acham que a culpa é dos privados, a venezuelização ideológica sobrepõe-se com estrondo aos interesses das populações e ao bom-senso.
Iludido, ou iludindo-nos, Costa, que permitiu outro Gonçalvismo no mercado do arrendamento (se não erro por muito, manifestamente inconstitucional), fez um percurso sofrível, sem rasgo nem reformismo, de criar novas taxas e impostos, com aumentos o IRC e outras medidas para espantar investidores, que aliás os seus parceiros abominam, e neste cenário ainda diz achar que vai conseguir com estas medidas geniais passar a exportar mais 50% do PIB em 2030, em vez de ter outro resgate.
A vida das pessoas e das famílias, principalmente as que estão afastadas do sector privado – tal como já se sentia ser para Costa e o PS toda a população do interior (incluindo para Galamba também uma percentagem qualquer das vacas que por aí pastam) –, tornou-se um engulho e uma maçada para o projecto político de Costa.
Projecto este que é independente das pessoas e dos votos e que, provavelmente se lhe manifestou, a si e aos seu PS, como uma espécie de direito divino ao poder.
De tempos a tempos, e quando dá jeito, os dignatários desse referido direito a governar deparam-se com fastidioso horror com toda uma quantidade de factos que são complicados – e sempre à primeira vista alheios às suas responsabilidades ou competências, o que a espaços é desde logo confirmado pelo afectuoso PR – nomeadamente a improvável circunstância de Portugal estar cheio de Portugueses e de o Estado ter funções várias a cumprir para além de distribuir prebendas e eternizar famílias inteiras a viver do erário público.
Assim, mesmo admitindo que não há, normalmente, evidências de que o Governo soubesse do que quer que fosse, o Governo sente que o problema de os Portugueses (pelo menos alguns) ainda estarem vivos, terem actividades várias e, para cúmulo, pretenderem sobreviver sem grandes sobressaltos e com critérios apenas razoáveis de resiliência, causa enormes problemas ao Governo.
Infelizmente, como Arménio Carlos já prometeu, este ano de fim de legislatura para os Portugueses que precisem de saúde e transportes e de um Estado funcional vais ser ainda pior, sobretudo para os Portugueses.
Advogado na norma8advogados
pf@norma8.pt
Escreve à quinta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990