QUANDO O PRESIDENTE do Sporting, Frederico Varandas, despediu José Peseiro, achei a decisão claramente precipitada. Para o Sporting, este devia ser um ano de acalmia, depois dos famigerados acontecimentos relacionados com o fim da presidência de Bruno de Carvalho, e o importante – dizia eu – era deixar assentar a poeira… e não levantar mais pó. A demissão do treinador principal era, portanto, tudo aquilo de que o Sporting não precisava.
E quando, depois da demissão de Peseiro, Frederico Varandas anunciou a contratação de um tal Marcel Keiser, ainda fiquei mais estupefacto: despedira um treinador conhecedor do futebol português, com experiência e uma postura civilizada e tranquila, para ir contratar um estrangeiro que ninguém conhecia. Qual fora a ideia?
NO PRIMEIRO JOGO de Keiser, o Sporting ganhou 4-1 ao Lusitano de Vildemoinhos. O feito não tinha importância nenhuma, pois tratava-se de uma equipa da 3ª divisão.
No segundo jogo, o Sporting foi ganhar 6-1 ao Cazaquistão. Também não se atribuiu relevância ao facto, apesar de ser um jogo europeu e de ter constituído um recorde.
No terceiro jogo, o Sporting foi ganhar 3-1 em Vila do Conde ao perigoso Rio Ave. Aí, as pessoas começaram a levar o treinador mais a sério. Tratava-se de um jogo difícil – e, além do resultado, a equipa fizera uma boa exibição.
Até ontem, o Sporting de Keiser ia com 7 jogos, 7 vitórias e 30 golos marcados – o que significa mais de 4 golos por jogo. E já ninguém pode dizer que é obra do acaso. A comparação com os 7 jogos anteriores é arrasadora. A equipa joga de forma totalmente diferente, cria espaços no reduto adversário, chega muito rapidamente à baliza contrária, marca golos com uma surpreendente facilidade.
HÁ QUEM DIGA – comentadores incluídos – que jogar bem não importa, o que interessa é ganhar. Sempre fui contra esta ideia. Jogar bem e marcar golos interessa – e muito. Como dizia o próprio Keiser, é preferível ganhar por 3-2 do que por 1-0 – porque os espectadores preferem ver 5 golos a verem só 1.
É completamente diferente os espectadores saírem do estádio depois de verem a sua equipa marcar 3, 4 ou 5 golos, do que vencer o jogo com um golo solitário.
E ISTO VAI SER cada vez mais importante por causa das televisões. As televisões já são nos dias de hoje uma das principais fontes de financiamento dos clubes. Ora, os espectadores das TVs querem ver bom futebol, querem animação, querem golos. Não querem estar 90 minutos a ver um jogo mastigado, empastelado, sem alegria nem chama.
Isso mesmo se viu no último jogo do Benfica em Montalegre. O Benfica venceu. Mas nem por isso os adeptos ficaram satisfeitos. Rui Vitória foi assobiado. Ganhar já não chega. É preciso jogar bem e marcar.