“Éramos quatro amigos. Fazíamos caminhadas e tínhamos muita gente a vir atrás”, recorda Patrícia Cabral, jornalista freelancer e uma das sócias da GreenTrekker, uma das mais ativas empresas de passeios e caminhadas. Isto em 2010 com o país mergulhado numa crise económica profunda, em que todos os dias se apelava a apertar o cinto. Caminhar, pelo contrário, não custava nada e à medida que os amigos traziam outros amigos, o grupo crescia e o lazer tornava-se mais sério.
“A empresa surge numa época de crise. As pessoas estavam habituadas a fazer compras. O país não estava bem mas o turismo florescia”, lembra Patrícia Cabral. “Sentíamos que havia uma lacuna de atividades ligadas a pedestrianismo”, junta ainda.
A GreenTrekker nasce em 2011 e, após 2013, os sócios profissionalizam-se e passam a dedicar-se a tempo inteiro aos passeios. “Eu sou jornalista, o João (Sá Nogueira) era publicitário, o Miguel (Vilardebó) vinha da gestão. E havia o João Custódio, que trabalhava no “Expresso” e esteve connosco no início. Éramos pessoas de áreas diferentes que casavam bem”, explica.
Da publicidade também veio Fernando Lopes, o solitário caminhante da Caminhadas Smile. Agora com 59 anos, recorda como tudo (não) era há 25 anos. “Gosto muito do contacto com a natureza. Moro na cidade mas sempre adorei ir para o campo. Na altura, só havia dois grupos. Contactei com eles e comecei a participar nas caminhadas” recorda.
Há três anos, fundou a Caminhadas Smile. “Comecei a fazer caminhadas para o meu grupo de teatro. Os amigos levavam amigos e comecei a receber mais solicitações”. Com o abrandamento do trabalho na publicidade, há um ano passou a dedicar-se a tempo inteiro às caminhadas. E a atração pelo natural repete-se. A maioria das caminhadas são na natureza. “Conheço alguns trilhos. Outros vou descobrindo. Tento não me repetir”. Sintra, Arrábida e o Gerês estão entre os lugares favoritos. E é procurado para passeios por “sítios agradáveis”.
Patrícia Cabral vai mais longe e fala de um “crescimento do turismo da natureza” que reflete “uma moda”, diz. “Há uma procura muito grande”, que tanto se reflete no número crescente de pedidos como nos “mais de 100 mil seguidores no Facebook”, a que se somam ainda os mais de oito mil na página Green Trekker Fans. Cada vez mais eventos para cada vez mais clientes, confirma. A empresa aceita “programas privados”, quer seja para escolas, universidades, ou estrangeiros que vêm a Portugal uma semana, descreve Patrícia.
Na mesma altura de crise, a 1 de maio de 2010, nasceu a Andamento. Em Sintra e para mostrar Sintra. “Surgiu de uma ideia de levar amigos e outras pessoas a conhecer a Serra de Sintra. Tinha muita gente que me desafiava para lhes ir mostrar a Serra de Sintra e arredores. Fui escoteiro em Sintra e conheço bem a serra”, conta Daniel André. “Realizávamos caminhadas aos domingos de manhã e fomos a primeira empresa a realizar caminhadas semanalmente na Serra de Sintra. Começámos na Serra de Sintra e rapidamente organizámos caminhadas na Serra da Estrela, Gerês e Picos da Europa”.
O caminho é o da profissionalização. “É um trabalho a tempo inteiro”, confirma Daniel André. “Nunca descansamos, trabalhamos de segunda a segunda. Todos os eventos são trabalhados com antecedência no terreno. Temos que marcar tudo. Testar o programa final e, às vezes, abortar coisas implica uma disponibilidade muito grande. A preparação, o backoffice, as imagens, as redes sociais, a divulgação; alimentar o Facebook, o Instagram e o site”, detalha a porta-voz da Green Trekker, para quem a proliferação de grupos e empresas obriga a um esforço adicional de “diferenciação”. Daniel André acrescenta que “hoje em dia até as juntas de freguesia têm caminhadas”. Por isso, subscreve a leitura de que “a procura tem crescido.
“Apesar de haver muita gente a fazer o mesmo, somos uma empresa bastante procurada no mercado. Distanciamo-nos dos outros grupos pela simpatia, pelo grande conhecimento do terreno que nos permite mostrar locais que outros não conhecem e somos guias de Alta Montanha o que nos permite ter conhecimento de sobrevivência e progressão”, defende.
Os passeios mais procurados na Green Trekker são, apesar do ecletismo de propostas,“os culturais e os da natureza” como “as caminhadas à lua cheia”, refere Patrícia Cabral. “As pessoas gostam de desafios difíceis como as grandes travessias”. Na Andamento, as caminhadas mais populares são a do Terror – Halloween, a da Serra Assombrada, a da Sintra Romântica , a Grande Travessia da Serra de Sintra e a Semana de Caminhadas na Serra do Gerês. Para “pessoas de todas as idades com alguma resistência física e gosto pela montanha e Natureza”, observa Daniel André.
O que tem crescido em paralelo é a procura por parte de turistas. “Cerca de trinta por cento”, no caso da Andamento. “Dez por cento” para as Caminhas Smile que, por contraste com a maioria das empresas, trabalha de acordo com a agenda de Fernando Lopes, isto é sem uma agenda rígida. “O contacto com a natureza ocasiona alegres convívios, fortalece laços, liberta o stress e estimula a inspiração”, resume. Desde a antiga Grécia que as caminhadas são um passo em frente para chegar a outro destino. Conheça essa história e propostas de passeio nas próximas páginas.