Os coletes amarelos serão uma ameaça laranja?


O problema da contestação desorganizada não é o facto de não ser coordenada e disciplinada pelas máquinas sindicais – que, na maioria das vezes, são simultaneamente as máquinas partidárias. O facto de partir da sociedade civil é exatamente a única coisa de bom que pode ser retirada deste fenómeno. Esta ingenuidade quase poética confere-lhe até…


O problema da contestação desorganizada não é o facto de não ser coordenada e disciplinada pelas máquinas sindicais – que, na maioria das vezes, são simultaneamente as máquinas partidárias.

O facto de partir da sociedade civil é exatamente a única coisa de bom que pode ser retirada deste fenómeno. Esta ingenuidade quase poética confere-lhe até uma certa autenticidade que é salutar e a circunstância de nascer nas redes sociais permite-nos concluir que afinal, ao contrário do que nos costumam vender, os cidadãos interessam-se por política.

No entanto, o problema deste tipo de iniciativas é o facto de não terem um programa específico de reivindicações e de muitas vezes caírem no ridículo de serem fenómenos de contestação apenas pela contestação. Paralelamente, têm também o problema de serem um barril de pólvora que infelizmente, como se viu em França, rapidamente acende o rastilho e explode em forma de violência.

Os momentos que vivemos obrigam a que nós – democratas – estejamos vigilantes. Os partidos, os novos e os antigos, à esquerda e à direita, têm de perceber que existe uma necessidade urgente de se reinventarem e de se abrirem verdadeiramente à sociedade. Sem tretas, sem falsos independentes e sem os esquemas do costume. Se tudo ficar na mesma, as pessoas estarão cada vez mais revoltadas e, pior, cada vez mais motivadas a aderirem a formas de protesto violentas e ignóbeis.

O povo quer o poder, e quando o povo sai à rua, o poder acaba mesmo por cair na rua. É isso que queremos? Pelo menos a maioria de nós, acho que não.

 

Publicitário