Quem lê as minhas crónicas já se habituou aos elogios que por aqui vou deixando a Portugal, aos portugueses e ao que de melhor fazemos e representamos.
Foram inúmeros os elogios e exemplos do que de melhor temos. Não apenas por justiça mas, sobretudo, porque acho importante termos orgulho em nós e naquilo de que somos capazes.
Mas, da mesma forma que aponto o sucesso e o brio nacional, acho igualmente importante que tenhamos capacidade de crítica (e autocrítica também), pois é a melhor forma de melhorarmos e de criarmos valor.
Há cerca de quatro anos, quando António Costa criou a geringonça, fui bastante cético. Não tanto pela capacidade de Costa e a sua habilidade política, que dispensa elogios, mas pela incerteza de estabilidade que os partidos à esquerda do PS poderiam representar. Não só me enganei como o resultado alcançado por esta solução governativa foi além do esperado.
Mas no melhor pano cai a nódoa.
O jogo político acabou por resvalar para os últimos meses de legislatura, de forma mais ou menos encapotada, com os sindicatos a liderar as frustrações dos partidos mais à esquerda.
O simples facto de se registarem mais greves nos últimos meses do que durante a legislatura de Passos Coelho, em que as marcas da intervenção e da austeridade eram marcantes e visíveis, diz muito da agenda algo medíocre de alguns dos nossos sindicalistas (se é que podemos chamá-los assim).
Até ao fim do ano são cerca de meia centena de pré-avisos de greve. Isso mesmo, cerca de 50, e o rationale destas convocações? Não atinjo nem consigo compreender.
Há problemas por resolver? Há, claro que sim. Está tudo perfeito e de vento em popa? Não, obviamente que não.
Mas existe justificação racional para tanta contestação? Não consigo vislumbrar.
Não entendo as birras e quezílias dos bombeiros. Compreendo as reivindicações dos enfermeiros, mas não podia estar mais em desacordo com o resultado e consequências das suas paralisações no sistema de saúde e na vida dos portugueses. Considero inadmissível a greve de um órgão de soberania e, por fim, não entendo que existam sindicatos na PSP com mais dirigentes que associados.
Não é, de todo, um motivo de orgulho, nem o melhor que Portugal pode mostrar ao mundo.
Não é isso que vemos noutros países da Europa. O nosso sindicalismo está doente e precisa de uma urgente renovação que se adeque aos tempos modernos e deixe no armário o bafiento sobretudo dos anos 70.
O pináculo desta contestação acerca-se, já esta semana. A confirmar–se, realizar-se-á esta sexta-feira a edição lusa da contestação dos coletes amarelos.
Numa palavra: deprimente!
A origem desta cópia não é clara. Duvido que seja de iniciativa meramente civil. Poderá ter dedo de extrema-direita ou de extrema-esquerda, e a par da clara imagem de provincianismo quando se copia o que se faz lá fora está uma total falta de imaginação.
Se, por um lado, dá a oportunidade de usarmos com propósito os coletes que nos obrigam a ter nos carros e a vestir em caso de sinistro, por outro, denigre a cultura lusa.
Porque não convocaram antes uma manifestação do colete encarnado, exaltando a tradição de Vila Franca de Xira? Ou do barrete verde, em homenagem a Alcochete?
Não. Vamos copiar os franceses, cujas motivações foram capturadas, adulteradas e instrumentalizadas por grupos da extrema-direita, porque à falta de argumentos não temos capacidade para mais. Honestamente, acho deprimente e provinciano. Tanto a iniciativa como a fibra dos potenciais promotores.
Escreve à quinta-feira