O número de jornalistas assassinados duplicou

O número de jornalistas assassinados duplicou


Este aumento surge num momento de “profunda crise de liberdade de imprensa” afirma relatório do Comité para Proteção dos Jornalistas


O número de jornalistas mortos como represália do seu trabalho duplicou este ano, indica o relatório anual do Comité para Proteção dos Jornalistas. 

Segundo o relatório, pelo menos 53 jornalistas morreram enquanto trabalhavam – destes, 34 foram alvos específicos de ataques. O total  de mortes subiu em relação ao ano passado, alturam em que foram registadas 47 vítimas mortais, dos quais 18 foram mortos na sequência do seu trabalho. As três grandes causas de morte observadas são assassinatos por represália, morte em fogo cruzado durante conflitos bélicos e trabalhos considerados perigosos, como cobrir manifestações que se tornam violentas. 

O relatório, lançado esta quarta-feira, aponta uma "profunda crise de liberdade de imprensa", devido, por exemplo, a "mudanças tecnológicas que permitiram a mais pessoas praticar a profissão" e "tornaram  os jornalistas descartáveis para grupos políticos e criminais que anteriormente necessitavam dos media para transmitir a sua mensagem".

O caso de Jamal Khashoggi, um jornalista saudita, crítico do regime, morto dentro da embaixada da Arábia Saudita na Turquia, é dado como exemplo neste documento. O jornalista foi alegadamente morto a mando do princípe saudita Mohammed bin Salman. A inação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi também críticada no relatório. Quando questionado acerca do alegado papel do princípe saudita, Trump respondeu que "talvez ele tenha [ordenado o assassinato], talvez não", reforçando em seguida a determinação de se manter "um forte parceiro da Arábia Saudita". Esta inação é descrita no relatório como uma carta branca aos países que negoceiam com os EUA, permitindo a repressão da imprensa. O documento destaca também que o presidente dos EUA referiu-se várias vezes aos jornalistas como "inimigos do povo". 

O grupo de defesa da liberdade de imprensa Repórteres sem Fronteiras afirmou esta terça-feira que os EUA tinham entrado na lista dos cinco países mais mortíferos para a imprensa pela primeira vez, com seis mortos – quatro foram assassinados por um atirador no Maryland. O ataque ocorreu contra o jornal Capital Gazette, a 28 de junho, depois de o atirador ter perdido em tribunal um processo de difamação. Outros dois morreram cobrindo a metereologia em condições perigosas.

Segundo o relatório, a União Europeia enfrenta também uma crise de segurança de jornalistas, com vários casos registados este ano. Na Eslováquia foi assassinado Jan Kuciak, de 27 anos, enquanto investigava um caso de corrupção. Em Malta, o ano passado, Daphne Caruana Galizia, que investigava também um caso de corrupção, foi morta com uma bomba no carro. 

Foi verificado também que a cobertura de notícias sobre política é a área mais perigosa, com 62% dos assassinatos, e que os principais responsáveis são grupos políticos, onde os responsáveis pelo relatório incluem o autoproclamado Estado Islâmico. 

Este pico de mortalidade surge num momento em que o número de jornalistas detidos está no máximo alguma vez registado. Pelo menos 251 jornalistas estão presos pelo seu trabalho, afirma o Comité Para Proteção dos Jornalistas. Cerca de 70% dos profissionais encarcerados enfrentam acusações de ofensas contra ao Estado, como pertencer ou apoiar organizações consideradas terroristas.

O relatório relaciona este aumento com novas ondas de repressão na China, Egipto e Arábia Saudita – mais de metade das prisões de jornalistas ocorreram na Turquia, China e Egipto. A Turquia continua a ser o país que mais detém jornalistas, apesar de o seu presidente, Recep Tayyip Erdoğan, ter sido um feroz crítico do assassinato de Khashoggi. Pelo menos 68 jornalistas estão presos na Turquia por fazer o seu trabalho, afirma o Comité para Proteção dos Jornalistas. 

A revista Times reconheceu esta semana os jornalistas presos e assassinados por todo o mundo como "pessoas do ano".