Se a situação nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde não tem estado fácil de gerir, o cenário na próxima semana prometia ser ainda mais caótico. Além da greve nos blocos operatórios, estava convocada uma greve nacional de enfermeiros para 26, 27 e 28, sobreposta à dos técnicos superiores de diagnostico e terapêutica. Isto numa semana já de si a meio gás por causa da tolerância de ponto do Natal na função pública.
Dois pedidos de desculpa da ministra aos enfermeiros, através da Ordem e sindicatos, trouxeram sinais de tréguas. Ontem, depois de uma reunião negocial com a tutela, a Federação Nacional dos Sindicatos dos Enfermeiros (FENSE) suspendeu a greve de três dias que iria deixar o internamento em serviços mínimos. Já os sindicatos que apoiam a greve cirúrgica mantêm o protesto, mas fizeram saber que na próxima sexta-feira estarão disponíveis para fazer todas as cirurgias que estiverem programadas.
Ao final do dia, chegou mais um sinal de apaziguamento. A ministra da Saúde, que até aqui tinha recusado retomar conversações com os sindicatos da greve cirúrgica, convidou todas as estruturas para uma reunião e conseguiu marcá-la ainda para esta semana, na sexta-feira. O governo ressalva que é um encontro à margem das negociações, mas diz estar “empenhado em discutir com os profissionais de enfermagem”.
Do lado dos administradores hospitalares, os sinais de abertura são bem-vindos. Desde logo a disponibilidade dos enfermeiros para operar mais doentes na sexta-feira. “Não altera o paradigma de cancelamento de cirurgias que tivemos nas ultimas semanas, mas é uma ajuda”, disse ao i o presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte, Carlos Martins.
No Santa Maria e no Pulido Valente, hospitais onde decorre a greve cirúrgica desde 22 de novembro, houve neste período 1500 doentes a receber indicação para serem operados. Destes, 383 tinham critério de urgência e foram submetidos a operação. Já dos 1117 com cirurgia programada, apenas 38% tiveram lugar nos blocos operatórios. Há assim cerca de 700 doentes a aguardar remarcação.
Martins explica que, mesmo que todos os doentes agendados para esta sexta sejam operados, serão necessários três meses para dar seguimento aos restantes. Se a contestação continuar, será impossível resolver os atrasos num curto espaço de tempo.
Resta saber se a trégua está para durar, com os sindicatos a colocar a bola do lado da tutela. O movimento que dinamizou a greve cirúrgica já recolheu 45 mil euros para prolongar o protesto para 2019. Se o fundo solidário tem sido usado para dinamizar a “greve cirúrgica 2”, uma nova paralisação só avança se for convocada pelos sindicatos, que ontem aceitaram reunir com a ministra. Carlos Ramalho, presidente do Sindepor, disse ao i que o pré-aviso está, por agora, na gaveta. “Esta greve termina dia 31, há sempre a possibilidade de novas formas de luta porque ainda não atingimos o objetivo que pretendemos enquanto profissão, isso poderá acontecer, mas está nas mãos do governo”, disse o dirigente.
Ordem pede entendimento Apesar de não estarem unidos nas formas de protesto, os enfermeiros têm exigências semelhantes: rever carreira e a grelha salarial, descongelamento de progressões e uma categoria para enfermeiros especialistas, que torne definitivo o subsidio de 150 euros criado este ano.
A FENSE fala esta quarta-feira sobre a proposta do governo. Também hoje terá lugar uma reunião entre a ministra e a bastonária dos Enfermeiros. Ana Rita Cavaco mostrou preocupação com o número de cirurgias adiadas, mesmo com os enfermeiros a trabalhar para lá dos serviços mínimos. Dados fornecidos ao i pela tutela dão conta de 6099 cirurgias adiadas até segunda. A Ordem reitera que não houve doentes em risco de vida. No entanto, apela a um entendimento urgente, “sob pena de agravar a situação de adiamento de cirurgias, às quais não será possível dar resposta nos próximos tempos, e o caos no SNS”, disse a OE. *Com Tatiana Costa