Deputados húngaros ocupam televisão pública

Deputados húngaros ocupam televisão pública


Oposição considera nova lei laboral fomentadora do trabalho escravo e queria ler uma petição em direto


Dois deputados independentes foram expulsos da sede da televisão pública húngara, a MTVA, após um grupo de representantes da oposição ter passado a noite no edíficio, numa tentativa de ter uma petição lida no ar.

Nesta petição, os deputados pedem a revogação da chamada "lei da escravatura", que permite a empregadores exigir 400 horas de trabalho extraordinário por ano e pagar até três anos depois. Pedem também que os média públicos sejam independentes, e não cheios da "propaganda do partido-estado", e a independência do sistema judicial, especialmente após a aprovação da nova lei que permite a criação de tribunais diretamente supervisionados pelo Ministério da Justiça.

A retirada à forçada dos deputados foi gravada em livestream. Um dos vídeos mostra Bernadette Szel, uma das deputadas, a ser arrastada por seguranças do edíficio, outro mostra Akos Hadhazy, antigo líder do partido de oposição LMP, a ser expulso após tentar subir pelo corrimão de umas escadas.

Vários dos deputados que passaram a noite no edíficio informaram que funcionários da televisão pública se recusaram a deixá-los falar com o seu diretor, a quem pretendiam pedir a divulgação das suas reinvidincações. István Ujhely, um dos deputados independentes, diz numa publicação no Facebook que "seguranças armados usaram violência contra representantes eleitos, restringindo o seu livre movimento num edíficio público". Eventualmente, Hadházy conseguiu ler as reinvindicações para uma câmara, mas o canal recusou-se a transmitir as imagens, 

De momento, o impasse dentro do edíficio mantém-se. Entretanto, lá fora, os protestos contra o governo continuam, tendo os manifestantes no exterior do edíficio enfrentado uma barreira da polícia antimotim, enquanto no ar a televisão ignorava os distúrbios à sua porta.

Realizaram-se várias manifestações contra a nova lei laboral nos útimos dias, uma delas reuniu dez mil pessoas em Budapeste este domingo, que marcharam do parlamento até à sede da televisão pública. Tais manifestações não são comuns na Húngria, onde o primeiro-ministro, Viktor Orbán, disfruta de grande popularidade, graças à sua política anti-imigração, apesar das repetidas condenações da União Europeia.

No entanto, a nova lei laboral tem despertado uma forte contestação entre estudantes, sindicalistas e os partidos da oposição.

O governo diz que a nova lei laboral pretende colmatar uma séria quebra na força de trabalho. A taxa de desemprego do país, 4,2% em 2017, é uma das mais baixas da UE. A população húngara está em declínio há décadas, tendo as mortes ultrapassado os nascimentos, segundo a agência de estatísticas europeia.