Coletes amarelos. A manifestação “surpresa” que promete abanar Portugal

Coletes amarelos. A manifestação “surpresa” que promete abanar Portugal


A manifestação francesa serviu de exemplo para Portugal, mas o secretismo à volta do que vai acontecer e o que está por detrás desta manifestação levantam algumas questões. O i falou com alguns dos membros para tentar perceber em que consiste este movimento que quer e promete parar Portugal


Depois de França, parece que os portugueses querem criar a sua própria versão do movimento dos coletes amarelos. “Eu próprio criei um evento à porta do Palácio de Belém”, contou ao i Hirondino Isaías, economista e militante do PS, membro deste movimento. “Dia 21 em frente ao Palácio de Belém” é o nome de um dos muito eventos e grupos que se propagam pelo Facebook e chamam a atenção dos internautas portugueses para uma manifestação que promete “abanar Portugal”, afirmou Hirondino. 

“Vamos parar Portugal como forma de protesto” é o mote do grupo criado na rede social de Mark Zuckerberg, há cerca de três semanas, por seis pessoas de vários setores e profissões e que hoje conta já com mais de 40 mil pessoas interessadas em participar. Catorze mil já garantiram presença. “Veio de mãos dadas com os episódios franceses. Uma espécie de cópia da revolução francesa”, confessou Francisco Mamede, trabalhador por conta própria, residente no Porto e também ele membro do movimento dos coletes amarelos. 

O objetivo? “Resultados positivos”, diz Maurício Correia, trabalhador na construção em França, mas que estará em Portugal no dia 21 de dezembro. Os manifestantes pedem uma redução de impostos, aumento do salário nacional, diminuição do preço do combustível, melhorias no Serviço Nacional de Saúde e resolução de muitos outros problemas políticos. “No meu caso é também para mostrar à classe política que estamos atentos”, explicou Olinda Ribeiro, antiga professora do ensino público e membro do movimento dos coletes amarelos. “Esta é uma manifestação contra os políticos e a gestão do país, porque não entendemos porque é que alguns têm benesses e outros não” disse.
 
Um segredo guardado no Whatsapp A fórmula de protesto circula nas diversas páginas de Facebook de apoiantes desta manifestação, mas continuam a existir pormenores muito bem guardados em grupos secretos no WhatsApp, aplicação de troca de mensagens. “Tudo o que sabem é muito pouco do que estará para vir. A comunicação social e a polícia pensam saber tudo e não sabem nada. Temos apoios de França, Itália, e de nossos irmãos espanhóis”, respondeu Maurício Correia quando questionado se os portugueses sabiam tudo sobre o que se ia passar no dia 21 de dezembro apenas através do Facebook. “O dia ditará tudo, o povo é quem mais ordena e assim será”, concluiu. 
No entanto, há quem seja mais transparente e desvende algumas das formas como esta manifestação vai funcionar. “Será feito um bloqueio, ao nível nacional, dos edifícios governamentais, estradas principais, pontes, bombas de gasolina, etc.”, explicou Anabela Andry. A manifestação tem hora marcada para as sete da manhã e no Facebook fala-se em trancar as portagens da Ponte 25 de Abril, impedir o trânsito no Marquês de Pombal, no Nó de Francos e nas portagens da A8, entre outros troços de estradas, e também muitos outros encontros em frente a centros comerciais, como é o exemplo do Fórum Algarve, em Faro. No entanto, há mesmo quem afirme que esta é uma manifestação de todos: “Estamos em todo o lado e somos toda a gente”, disse António Martinho, membro ativo do movimento dos coletes amarelos. 

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Segundo Hirondino, sair à rua não é a única forma de demonstrar descontentamento. “Andem com coletes amarelos no carro ou pendurem-nos na varanda”, enumerou como outras das formas de mostrar estar do lado de quem luta. Ainda assim, parar o país não chega. “Não irá ser gasto nem um euro em bens ou serviços para que o governo veja que estamos cá, mas também que sinta no próprio bolso as consequências disto”, afirmou Anabela Andry.

No Facebook, um post sobre o movimento chega às dezenas de comentários e gostos em poucos minutos e são muitas as palavras de ordem que se podem ler, assim como imagens representativas do que irá acontecer no dia 21 de dezembro, prints de notícias ou até memes. 

Uma manifestação pacífica “Não há espaço para violência nem vamos dar abertura aos marginais”, disse Hirondino Isaías. Os desacatos e a destruição em França levantam questões quanto ao que vai acontecer em Portugal. A paz e ordem é um dos pontos discutidos nas páginas do Facebook e nas publicações de apoio e, embora faça parte dos objetivos de todos os membros com quem o i falou, não há cenários impossíveis. “Somos gente pacifica e assim mostraremos o nosso desagrado, mas o desenrolar do dia e a forma como formos recebidos ditará o resto”, confessa Maurício Correia. 

Contudo, o apelo é sempre o mesmo. “Paz, amor, união”, diz Francisco Mamede – um cenário que Olinda Ribeiro também espera que aconteça, até porque nem todos os que se juntam nestas manifestações têm como objetivo participar. “O problema é que há sempre muita gente que se aproveita e se infiltra para arranjar confusão”, disse. 
Ainda assim, o método não é conhecido, as reuniões entre os membros continuam e o secretismo parece ser a alma desta manifestação por parte de alguns membros. Há mesmo quem admita que o protesto pode vir a acontecer periodicamente. 

Lista dos locais de encontro
Início 07h00
• Lisboa: Ponte 25 de Abril Marquês de Pombal
• Porto: Nó de Francos
• Faro: Fórum Algarve
• Beja: Frente à câmara municipal
• Loures: Portagens A8
• Viseu: Rossio